terça-feira, 13 de setembro de 2011

sobre o belas artes e patrimônio


O caso do cine Belas Artes ainda não terminou. Esta semana, o Conpresp, órgão municipal de proteção do patrimônio na cidade de São Paulo, deve votar o pedido de tombamento do complexo, o qual, uma vez aprovado, impediria o imóvel que por anos abrigou o cinema - hoje fechado - ter outro destino que não o de abrigar salas de projeção. A pedido do próprio Conpresp, a Procuradoria-Geral do Município foi responsável pela emissão de parecer acerca da preservação do espaço, e se manifestou de forma contrária a essa ação. A permanência do cinema em seu tradicional endereço, entre a Paulista e a Consolação, parece, portanto, ameaçada.
Fundamenta o pedido de preservação do Belas Artes não um possível valor arquitetônico ou urbanístico de sua construção, como é de praxe, mas o patrimônio imaterial que o cinema representa: haveria de se tombá-lo como espaço de fruição de uma produção cinematográfica diferenciada. Trata-se também de um dos poucos cinemas "de rua" remanescentes na capital, engolidos que foram pela explosão de salas multiplex de shopping centers.
A intenção, portanto, é das mais nobres e ainda envolve uma questão inovadora no entendimento a respeito do que a cidade de São Paulo deve considerar como bem que não pode ser perdido.
Uma observação mais atenta, entretanto, que essa inovação não é integral. Pensemos na localização do cinema. É uma área nobre, ainda das mais valorizadas de São Paulo. Sob a justificativa de preservar a paisagem urbana o mais próximo possível do original - impedindo, por exemplo, a construção de edifícios altos - foram tombados bairros inteiros, como o Jardim América, Interlagos e, mais recentemente, o City Lapa. Todos elitizados desde o momento de sua concepção. Ora, parece bastante questionável a atitude de preservar somente espaços nobres, num momento em que o mercado promove a mais ferrenha especulação imobiliária já testemunhada por esta cidade. Vemos quarteirões inteiros de certos bairros indo ao chão, suas casas e sobrados simples cedendo espaço a prédios de gosto no mínimo duvidoso onde os antigos moradores e pessoas de poder aquisitivo similar não terão condição de morar. Isso para não falar dos habitantes de favelas em áreas mais centrais, esses são sistematicamente expulsos pelo própio poder público, este por sua vez atendendo aos interesses de empresários do setor imobiliário.
Leve-se em conta também que a existência de cinemas como o Belas Artes, com uma programação em geral avessa à lógica do pipocão hollywoodiano, também atende a uma necessidade de mercado - menos massificado que o dos blockbusters, por exemplo, mas ainda assim mercado. Embora houvesse as sessões especiais e os filmes que permaneciam em cartaz por muito mais tempo que o habitual, o foco eram as novidades, os filmes cult recém acolhidos pela crítica. Nesse sentido, talvez sejam ainda mais interessantes como formadores de apreciação cinematográfica além da hegemônica espaços especializados em mostras e retrospectivas, em boa parte públicos, como as salas de centros culturais, a Cinemateca e a Galeria Olido - este último um antigo cinema de rua no centro que hoje pertence à Prefeitura - que exibem clássicos e filmes fora do circuito comercial, inclusive, a preços mais acessíveis.
Que não se entenda mal, entretanto: o Belas Artes deve continuar, e continuar onde está, até pela tradição. Perdê-lo para ter em seu lugar, por exemplo, um centro comercial de qualquer natureza - pois agora ele é vizinho de uma estação de metrô - seria uma perda irreparável, mais uma. Mas sua preservação não deveria acontecer via decreto. O movimento pela preservação do cinema deveria sensibilizar o dono do prédio sobre a importância de manter o cinema ali, ainda que isto lhe traga lucros menores.
Mas muito mais merece ser preservado. A discussão deve ir além: a ação das incorporadoras e construtoras precisa ser questionada com urgência. Patrimônio não é só o espaço "chique" frequentado por gente de bem. É tudo que o cidadão reconhece como objeto de fruição sua e da coletividade: o cinema tradicional que tem público cativo, a tranquilidade do bairro de classe média baixa com suas construções baixas, o direito da população mais humilde - ou, neste caso específico, da fração dela que consegue habitação em áreas centrais - de não ser obrigada a viver num local que a obrigue a se deslocar para chegar ao trabalho por seis, sete horas horas diárias. Tudo isto é a cidade, é aquilo com que podemos nos relacionar de forma mais ou menos democrática e igual.
Infelizmente, no dia de hoje isso soa idealista demais, a única ordem vigente é a dos ganhos financeiros rápidos e exorbitantes. E para garantir que ainda sobre algo que signifique algo às pessoas nesta São Paulo às vezes difícil de considerar cidade, devido à falta de identificação de seus moradores com a realidade que os rodeia, só na base da canetada.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

o anjo da história

Terminei ainda agora de ler O Que É O Anarquismo, da coleção Primeiros Passos da Editora Brasiliense. O autor é Caio Túlio Costa.
Mas não quero aqui tratar sobre a qualidade do livro, nem mesmo refletir sobre minhas posições políticas - saber que leio sobre anarquistas já deve ser assustador o bastante (risos). Trago aqui uma imagem a que fui apresentado ao final desta minha leitura, composta por um quadro e uma célebre interpretação deste, que alguns devem conhecer.
Abaixo, o Angelus Novus, de Paul Klee.



Sobre ele, Walter Benjamin, pensador antiautoritário, escreveu o seguinte (transcrito daqui):

“Há um quadro de Klee que se chama Angelus Novus. Representa um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente. Seus olhos estão escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas. O anjo da história deve ter esse aspecto. Seu rosto está dirigido para o passado. Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés. Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos de progresso.”


Caio Túlio afirma que "ninguém, mais do que os libertários (anarquistas), olharam para a história como o Angelus Novus", "pasmados pela barbárie que o homem produziu".

E o que tenho a dizer sobre isso?...

Na verdade, apenas digo que tal proposição é um ponto de partida para inúmeras reflexões. Primeiro, trata-se de buscar uma perspectiva distinta da História, mais ampla, não focada em datas e nem sob a necessidade de crer numa ideia de progresso ao longo dos mais distintos fatos e períodos históricos. E afinal, o que de fato é progresso? Existem eras denominadas de prosperidade em nossa História que representaram de fato melhoras nas condições de vida da população como um todo? Quem define o que se chama de progresso? As massas populares têm vez nos processos de mudanças sociais e econômicas experimentados ao longo do processo histórico? Tiveram alguma vez? Terão algum dia? Ou a história se repete sempre e não o percebemos?
Não necessitamos todos nos tornar libertários se não o quisermos, mas creio termos muito a aprender uma vez adquirida essa visão em perspectiva de nosso passado.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

capitães do mato, antes e agora

Foi ainda hoje, no final do meu almoço. Uma mendiga apareceu na praça de alimentação da galeria onde fica o restaurante onde fui comer e, ao passar por alguma mesa, tentava tocar no prato de alguém. Eu a vi fazer isso de perto, ela quase pegou um pastel de alguém que estava sentado numa mesa ao lado da minha. A mim pareceu óbvio que ela não estava, como se diz, em seu juízo perfeito: talvez tivesse alguma deficiência intelectual, ou a vida na rua a afetou, não tenho como saber. Enfim, não podia responder pelo que fazia.
Ocorre que, pouco tempo depois, eu a vi ser tirada a força do local. E quando digo local, é a galeria mesmo. Puxada pelo braço, empurrada - isso até que os dois sumissem da minha vista, depois, não sei. O autor do serviço sujo foi um desses seguranças engravatados. Como, aliás, não poderia ser diferente.
O caso me lembrou quase imediatamente estas cenas do recomendadíssimo filme Quanto Vale Ou É por Quilo.





Capitão-do-mato era uma função que ninguém queria, era malvista tanto pela elite, que a julgava necessária para a solução efetiva de ocorrências "indesejáveis" - como a fuga de escravos - , tanto pela população humilde, vítima de seus abusos e arbitrariedades e onde se recrutavam esses "profissionais". O capitão era o mais duro repressor direto da própria classe de origem.
E os seguranças de hoje? É o emprego que conseguem com a baixa escolaridade que, em geral, possuem. A elite precisa se sentir segura, ou, enquanto proprietária de um meio de produção, passar uma imagem de segurança para sua clientela. Aí entram em cena os guardas vestidos a rigor. O serviço pode ser visto como necessário, mas isso está longe de significar valorização da carreira. O segurança é o trabalhador explorado típico: baixos salários, treinamento insuficiente, vínculos empregatícios precários - afinal, "é tudo terceirizado". Mas foi o emprego que apareceu, e é preciso pôr comida na mesa...o negócio é fazer cara feia e sair marcando suspeitos com olhares e atitudes - sem parar para pensar que, sem a gravata e as credenciais da empresa, ele próprio seria tomado como suspeito em potencial por seus pares.
Estão incutidos nesse empregado os piores preconceitos que seus contratadores podem ter. Ele os reproduz com crueldade.
Para o capitão-do-mato que vi em ação hoje, a moradora de rua transtornada era menos que gente, merecendo, assim, ser colocada para fora, como o lixo que o restaurante produz. Se ele, segurança, se vê tão distinto daquele com quem mais se parece mais, a ponto de criminalizá-lo, o que não vai pensar sobre uma pessoa totalmente marginalizada, ele simplesmente não está preparado para lidar com alguém nessas condições. E talvez nem queira sabê-lo.
"Ah, mas você está exagerando nessa comparação, os seguranças podem ser uns brutos, mas pelo menos não matam." Não? Favor não se esquecer de uma certa ocorrência numa loja das Casas Bahia na periferia de São Paulo.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

jovens têm de sair de abrigos aos 18 anos

Essa reportagem me deixou chocado. Primeiro, tenha-se em mente que nem todo menor abandonado tem a chance de ser adotado, ou mesmo de ir para um abrigo. Agora, dou-me conta que nem mesmo a sorte de conseguir uma vaga num programa social público é garantia de que esses jovens consigam se estabelecer por si mesmos e escapem de ir parar...na rua, que essa era a intenção dede o início. Ao chegar a época de deixar os abrigos, eles enfrentam a insegurança de não saberem o que será de suas vidas após abandonarem a segurança do mundo que conhecem - situação que todo jovem em algum momento enfrenta, mas neste caso agravada pela situação de vulnerabilidade em que os abrigados se encontram.


Ler também: uma república na Vila Leopoldina recebe jovens saídos de abrigos sem cobrar aluguel e o depoimento de uma jovem moradora prestes a perder a vaga oferecida pela Prefeitura.

ah, desculpe, achávamos que fossem gays ou mendigos (Thiago Arruda)

Reproduzo, a seguir, um ótimo texto da autoria de Thiago Arruda, que aborda o hediondo caso do pai que foi atacado e teve uma orelha quase totalmente arrancada por agressores que acharam que ele e o filho eram homossexuais porque estavam abraçados. O flagrante desrespeito aos direitos de quem é considerado menos que humano encontra paralelo num outro ato covarde ocorrido catorze anos atrás, quando criminosos abjetos atearam fogo a um índio que dormia num ponto de ônibus porque (?) foi confundido com um mendigo.
Chama atenção a baixa repercussão do caso desta semana - um crime de motivações claramente homofóbicas - no noticiário da Rede Globo, que decidiu recentemente abortar da novela Insensato Coração uma série de cenas - algumas já gravadas - envolvendo o casal gay Eduardo e Hugo, sob o pretexto de não "exaltar" a homossexualidade nas novelas. Ora, a verdade é que a emissora não quis correr risco de perder audiência e anunciantes com o tema, num caso ainda mais flagrante de colocar negócios acima de gestos humanitários do que o da propaganda da Vivo, sobre o qual comentamos recentemente. O desserviço é tamanho que compromete até mesmo o jornalismo, como se a denúncia veemente de homofobia e demostrações de afeto fossem "levantar bandeira". Bem, para a alta cúpula Globo, aparentemente é; alguém graúdo deve ter decidido que na novela já se tinha ido longe demais e a ordem foi puxar o freio do antipreconceito em toda a programação.
Enfim, que a luta por direitos humanos para TODOS os seres humanos prossiga sem o apoio de grandes corporações, através, por exemplo, da internet, fonte do texto a seguir e meio onde todos, não somente uma minoria interessada em fazer mais dinheiro, podem expressar sua voz.



Ah, desculpe, achávamos que fossem gays ou mendigos.


Thiago Arruda

Ah, desculpe, foi um engano: achávamos que fosse um mendigo. Foi isso que disseram, no ano de 1997, em Brasília, os jovens de classe média que assassinaram o índio pataxó Galdino Jesus dos Santos. O caso ganhou ampla repercussão. O grupo simplesmente resolveu atear fogo ao corpo do homem que dormia sob o abrigo de uma parada de ônibus da cidade. Sadismo e ódio de classe lhes ofereceram motivos suficientes para isso.

Na última sexta-feira, 15 de julho de 2011, um novo engano. Pai e filho são agredidos brutalmente em São João da Boa Vista, cidade localizada no interior de São Paulo. Os agressores julgaram que eles eram gays; julgaram, e condenaram, mesmo diante da resposta negativa das vítimas. O pai teve parte da orelha cortada. Os autores não foram presos, são desconhecidos.

O que há de comum entre o gay e o mendigo? Algo que autoriza a violência. Algo que, aos olhos de alguns, pode justificá-la. O que o pequeno engano cometido pelos jovens brasilienses e pelo grupo de paulistas revela é que alguns – alguns muitos – são a ralé, uma sub-raça, um tipo inferior e que, portanto, devem apanhar, ou mesmo morrer. Para que aprendam, ou simplesmente para que seus carrascos possam dar vazão a toda a raiva que a mera existência desses vermes lhe provoca, ao poluírem o seu mundo. A essas criaturas, não resta humanidade, muito menos direitos.

É profundamente emblemático que um dos agressores paulistas tenha sido tão claro ao afirmar: “agora que liberou, vocês têm que dar beijinho”. Quantas vezes não escutamos um “não sou preconceituoso, apenas tenho o direito de não ver dois homens [ou duas mulheres] se agarrando” ou algo parecido? No fundo, trata-se da invenção absurda do direito de que o outro não faça, não seja, não exista. É o direito que o homofóbico proclama a si mesmo de que o outro se esconda, envergonhe-se de si e da forma como ama.

É daí que vem o seu direito de atacar. Cortar a orelha do “culpado”, aliás, é um castigo antigo. Em algumas civilizações, o ato significava que o acusado não ouvira bem, não compreendera bem a “voz da lei”. De fato, os que não se submetem a heteronormatividade esquivam-se de dar ouvidos ao imperativo hegemônico da sexualidade. Frequentemente, são castigados por isso; pelos homofóbicos que proclamam sua lei, proclamam o direito de que o outro não exista e tentam fazê-la cumprir a ferro e fogo. É assim que a relação se inverte: as vítimas são punidas; os vitimizadores punem e permanecem impunes, espalhando ódio por praças, igrejas...

O machismo nunca se deu bem, é verdade, com intensas demonstrações de carinho entre pai e filho. Logo, não é tão estranho que essa relação seja confundida com a relação entre namorados do mesmo sexo. No entanto, o mais grave é que há aqueles cuja revolta, declaradamente ou não, dirige-se contra a incapacidade dos agressores em diferenciar gays de pais e filhos – ou mendigos de não-mendigos (não que os índios sejam bem tratados, não o são). Algo como “que absurdo, esses loucos atacando cidadãos de bem”. Preserva-se, assim, um silêncio; no espaço não-pronunciado, persiste, firme, forte e bruta, a autorização da violência contra os seres sub-humanos que entopem os bancos das praças ou fazem sexo porcamente: se fossem mesmo, se não se tratasse de um engano, se fossem o que achavam que eram, não faria diferença. O problema permanece. Não se deveria a isso toda a repercussão na mídia que teve o caso da última sexta-feira? Quantos gays, lésbicas, travestis e transexuais são agredidos todos os dias no Brasil? Os relatos são constantes; a repercussão, bem menos intensa. O fato de a TV Globo ter, recentemente, censurado a participação de um casal gay na trama de uma das suas novelas é também revelador nesse sentido.

Cuidado. Você pode ser confundido com um gay, uma lésbica, ou um mendigo por aí. Portanto, comporte-se.

domingo, 3 de julho de 2011

sobre meninos, meninas e gibis

Não acompanho futebol desde 2007. Manter-se totalmente alheio ao assunto, porém, seria um feito irrealizável. Contou-me um passarinho - o Twitter, no caso - que a seleção feminina vem dando espetáculo após espetáculo na Copa do Mundo, com destaque para a jogadora Marta. Já o time masculno não saiu de um mísero empate em zero com a Venezuela (Venezuela!) num jogo, no mínimo, lamentável. E eu soube também que, perto dos milhões e milhões que movem a equipe masculina para onde ela vá e não importa o quão feio faça, Marta e suas intrépidas colegas contam com um orçamento proporcionalmente modesto.
Se futebol é tema assim tão inescapável, vejo que cada um pode dar pitaco, mesmo quem não faça questão de se inteirar muito a respeito. Como eu, por exemplo. Mas, para não fazer tão feio, meterei meu bedelho partindo de uma analogia com algo de que entendo mais - ainda que se trate também de modelo de entretenimento que eu não acompanhe com a regularidade de outrora.
Vejo o pessoal reclamando da seleção masculina e penso em gibis de super-heróis. Sim. Ocorre que, todo mês, religiosamente, deve haver ao menos uma revista nova dos X-Men, do Superman, do Homem-Aranha, do Batman, que seja. Tem de estar lá. Pelos fãs? Pela arte? Pela marca. Os prodigiosos justiceiros mascarados são franquias que precisam se manter vistas, faladas, consumidas. Por isso jamais acabarão. Mesmo que vejamos o Capitão América ou o Homem-Morcego morrerem, um novo personagem assumirá a respectiva identidade secreta e, tempos depois, esteja certo de que os originais estarão de volta com uma explicação mirabolante a reboque. Aliás, isso de fato ocorreu recentemente, com os mesmos heróis citados. É um osso de que os cães da Marvel e da DC não largam mão. Que saia (no mínimo) um gibi novo de nossos personagens mais famosos, ainda que pareça impossível manter a qualidade das histórias publicadas. Aliás, parece, não: acredite em mim, li quadrinho por muito tempo e é impossível sair história boa sempre. O que leva a apelações como mortes, retornos, clones, uniforme novo, corte de cabelo novo, poder novo, versão maligna...já vi de tudo um pouco. Coisas que podem levar meses, até anos, para serem resolvidas. Quando são resolvidas. Mas, ei, todo mês tem história nova do seu herói preferido, não importa quão boçal ou repetitiva ela soe.
Mas, enfim, de volta ao futebol. A seleção brasileira é uma marca. Uma senhora marca. Que o digam a Rede Globo, a Brahma, a Nike, o Ricardo Teixeira. Como os gibis, ela prima por resultados, e não necessariamente por qualidade, mas de uma maneira diferente. A seleção não deixa a desejar porque tem de jogar todo mês. É a forma como se montam as equipes. Via de regra, simplesmente são escolhidos os jogadores que mais estejam em maior destaque pelo futebol jogado em seus times. Entao espera-se que tais profissionais sejam capazes de se relacionar bem numa equipe, mesmo que, para a maioria dos torneios, não haja tempo hábil para tal. Porque eles estão ocupados nas equipes com que mantêm vínculo empregatício e, portanto, presos a uma série de compromissos ao longo de todo o ano. Por mais que todos gostem de acompanhar a "pátria de chuteiras", o negócio seleção brasileira não pode interferir de forma tão incisiva no negócio torneios de futebol no Brasil - e mesmo em outros países onde outros jogadores selecionáveis atuem. Ora, mas esses jogadores são bons, os melhores, e precisamos de uma seleção brasileira, os patrocinadores e as emissoras de TV - ou seria a emissora? - estão contando com isso. Ah, tem o torcedor também. Mas é o de menos, todos os grandes selecionados devem seguir essa mesma lógica burocrática e no fim o mais que temos são jogos e torneios idem; mal-aventurados os saudosos daquele futebol arte.
Talvez o futebol devesse perder essa característica tão "na cara" de empreendimento. Evidentemente, os cães das grandes entidades futebolísticas e associados também não largarão o osso. Mas há que achar um equilíbrio. As meninas estão aí mostrando que, no mundo do espetáculo esportivo, menos pode ser bem mais. Mais consistência, mais regularidade, mais futebol de verdade. E com os gibis se dá o mesmo: todo leitor se pega em algum momento em recordações sobre os "tempos mais simples" de outrora, com histórias menos ambiciosas, complexas em termos de bagagem cronológica e, sobretudo, melhores. Menos negócio, mais diversão, é o que o entretenimento deveria ser.
Mas não, mesmo na remota hipótese de o futebol seguisse essa receita, eu não voltaria a assistir aos jogos. É entretenimento, como qualquer outra coisa na TV, ou como quadrinhos. Cada um escolhe o que lhe agrada.

sábado, 25 de junho de 2011

os jovens e a participação política

Saiu esta reportagem do R7 afirmando que quase 60% dos jovens não se identificam com partidos.
Umas conclusões óbvias podem se tirar daí. Primeiro, e isto não é novidade para quase ninguém, que os partidos políticos, mais notadamente os grandes, estão muito distantes dos anseios da população em geral, comprometidos que estão com interesses outros, daqueles que as siglas de maior representatividade parecem de fato representar. Faça-se a mesma pesquisa com banqueiros, grandes empresários, ruralistas; a elite, enfim: esse grupo, se sincero for, afirmará que sente grande identificação com a maioria dos partidos mais próximos do poder.
Falei dos grandes, mas essa sensação de frustração com o sistema partidário atinge também os partidos pequenos, que possuem discurso diferenciado em relação à práxis dominante mas não conseguem crescer porque estamos desiludidos com partidos em geral.
A outra ideia é uma resposta à possível pergunta: então o jovem não se interessa por política? Por essa política partidária, definitivamente, não, mas isso é lá com os partidos decidir se querem sua participação ou não. O fato é que militar num partido não é a única forma de se manifestar politicamente, de agir em prol de uma causa coletiva. Estão aí essas grandes manifestações ocorrendo em todo o país de prova. Protestos conta o aumento da passagens de ônibus, o Churrascão da Gente Diferenciada em São Paulo, e marchas como a da Liberdade e a das Vadias, todos foram organizados de forma espontânea e apartidária pela internet - este, sim, o grande veículo de mobilização. Assim convocados para marcar presença e deixar claras suas posições, os jovens saem às ruas e erguem as bandeiras com as quais se identificam, mais notadamente aquelas com as quais os grandes partidos não podem (não querem?) se comprometer. A bancada evangélica, por exemplo, possui membros no governo e na oposição majoritária, o que torna o ativismo pelos direitos das mulheres e dos gays dentro de alguma dessa lógica de poder. O mesmo se aplica em relação à bancada ruralista e a luta contra o Código Florestal.
Enfim, os jovens estão aí, buscando participar de alguma forma. Se não há espaço para levantar a voz dentro da política tradicional, que se faça política ganhando as ruas. É fácil encontrar bandeiras de pequenos partidos de esquerda nessas manifestações. Estes devem ter percebido o movimento como uma oportunidade de mudar a própria política partidária, aproximando-a daquilo que a sociedade realmente deseja - e transformando isso em votos, evidentemente. E os partidos grandes? Silenciar-se a essas novas demandas não é possível. A tática de cooptação também não funciona como antes. Que atitude vão tomar?

quarta-feira, 15 de junho de 2011

professores do ifsp fazem paralisação

Poucos conhecem o IFSP - Instituto Federal de Ciência, Tecnologia e Educação de São Paulo. Trata-se de uma instituição de ensino federal, como o nome entrega, que oferece cursos de nível técnico, técnico integrado ao ensino médio e superior - em São Paulo, há cursos superiores nas áreas de tecnologia, engenharias e licenciaturas. O instituto originou-se da expansão da antiga Escola Técnica Federal de São Paulo, que, ao passar a oferecer também formação superior, foi chamado de Cefet antes de adotar a denominação atual. Há campi do IFSP em outras cidades do estado de São Paulo, assim como outros IFs em outros estados.
A expansão da antiga escola técnica exigiu a contratação de novos docentes, o que foi feito de modo insuficiente e inadequado, dada a política adotada de contratar majoritariamente professores substitutos, cujo vínculo empregatício com o IF tem duração de apenas dois anos. Agora, a reitoria da instituição pretende aumentar a carga horária dos professores, o que compromete a dedicação para outras atividades intrínsecas à carreira docente - como a pesquisa, a extensão - e tem nítidos reflexos na qualidade dos curso oferecidos.
Desse modo, os estudantes têm se posicionado a favor da paralisação marcada para hoje e amanhã, a qual serve como advertência de que os docentes não aceitam as propostas do reitor e vem também chamar a atenção para diversos problemas de infraestrutura enfrentados pelos frequentadores do campus. A possibilidade de uma greve no segundo semestre não é descartada.
A seguir, uma carta aberta do Centro Acadêmico do curso de Licenciatura em Geografia dá mais detalhes sobre a situação no IFSP e o porquê do apoio à paralisação dos docentes.


Carta Aberta do C.A. Geografia

em Apoio à Paralisação dos Professores do IFSP

Nos próximos dias 15 e 16 de junho os professores do IFSP irão realizar uma paralisação em defesa do trabalho docente, em resposta ao processo de sucateamento da educação dentro do Instituto. Tal precarização ocorre devido à expansão das vagas que não é acompanhada dos investimentos necessários para manter a qualidade de ensino e que foi agravada pelo corte de R$ 3 bilhões, na verba para a educação, feito pelo governo Dilma para 2011. Dentre os elementos mais sentidos pelos professores estão a ausência de um plano de carreira, defasagem salarial e o recente aumento da carga horária imposta à categoria. Este último item impede que nossos professores disponham de tempo adequado para elaborar suas aulas, atender o discente e para pesquisar e atualizar seus conhecimentos - elementos considerados essenciais para manter a qualidade de ensino.

Por outro lado, nós alunos também sentimos de perto a precarização pela qual passa o Instituto. Sofremos com uma infraestrutura insuficiente, que vai desde o acervo da biblioteca, goteiras nas salas de aula, poucas verbas para trabalho de campo e para assistência estudantil, a quase inexistência de programas de pesquisa e extensão e principalmente com a falta de professores. Neste semestre, por exemplo, algumas disciplinas só foram iniciadas no mês de maio, pois infelizmente o IF aplica uma política de contratação de “professores substitutos” que dura no máximo dois anos. Essa política traz enorme insegurança para nosso curso, pois além da grande rotatividade de professores, todo ano temos que enfrentar a enorme burocracia para tais contratações e o conseqüente atraso para início das disciplinas.

Todos esses problemas que rebaixam nossa qualidade de ensino levam ao Centro Acadêmico da Geografia a manifestar publicamente seu apoio à paralisação dos professores nos próximos dias. Fazemos um chamado aos alunos dos outros cursos para que apóiem a paralisação em defesa do trabalho docente e da qualidade de ensino dentro do IF, nos mobilizando para exigir da reitoria que acate as reivindicações dos professores e também as nossas

terça-feira, 14 de junho de 2011

mais um ciclista morto. mas o pedal continuará

A segunda-feira, que já não é fácil para quase ninguém, ainda calhou de vir com uma nota das mais tristes: o atropelamento seguido de morte de mais um ciclista nas ruas de São Paulo. (A notícia, aliás, me chegou com uma imagem chocante de um rastro de sangue na rua, que não compartilharei aqui.) E lá foram os ciclistas no começo da noite se manifestar, pedir respeito à vida, acender velas e instalar mais (!) uma ghost bike (como esta, em Santo Amaro).
E infelizmente é isso: quem busca alternativas à falta de mobilidade em nossas grandes cidades e evitar o stress a ela inerente necessita tomar cuidados redobrados, vulnerável que está frente à irresponsabilidade de certos condutores de veículos motorizados, justo aqueles que mais deveriam zelar pela segurança alheia. Digo "certos", mas talvez o correto seja "muitos", pois o horror nas ruas é generalizado; temos é sorte de não morrer ainda mais gente.
"Mas todo mundo sabe que a rua é perigosa. Por que esse pessoal inventa de sair pedalando no meio dos carros?" Meu caro, bicicleta é veículo e tem todo direito de estar na rua. É lei. Isso dito, vamos fazer um exercício de empatia. Não é todo mundo que sai às ruas de bike. Mas a experiência de ser pedestre todos vivem. Certo. E todos os pedestres correm riscos. Até mesmo ao atravessarem na faixa com o farol verde para eles. Até mesmo quando andam nas calçadas. Não é assim? E se alguém é atropelado nessas condições, de quem é a culpa? Quem torna ruas e calçadas perigosas? Esse irresponsável que resolveu sair às ruas a pé em vez de pegar o carro, como um cidadão "de bem" deve fazer? O ponto é: assim como os pedestres são vulneráveis, ciclistas também são. E todos têm o direito de estar onde estão, sem morrer.
Tem mais. Como ciclista esporádico que sou, vejo em quem pedala nas ruas um certo idealismo, algo que vai além do que se locomover de um modo menos usual, além de fazer algo que lhe oferece grande prazer. É uma maneira diferente de se relacionar com o entorno: observar mais a paisagem urbana, senti-la de fato. Ser parte dela, em vez de afastar-se, protegidos (porque isolados) dentro de um carro. Mesmo de forma inconscientemente, o ato de pedalar nos faz crer que podemos ser diferentes, que não precisamos andar apressados, manter-nos em estado de alerta, nem ser agressivos. É a tal da cultura de paz contra a insensibilidade, contra um não-se-importar que se manifesta, neste caso, em culpar a vítima pelo "acidente" que a vitimou.
A indiferença no trânsito é gritante porque ela ceifa vidas diante de nossos olhos. Mas ela está em toda parte, em várias situações de nossa vida, é um problema de cada um de nós. Se trabalhássemos para vencê-la - e permitam-me sonhar mais um pouco - , vislumbro a possibilidade de as segundas-feiras, até mesmo elas!, serem um tantinho melhores.

sábado, 11 de junho de 2011

dia dos namorados

Vi no Zé Simão a piada e agora recebi por email...e quer saber? é isso mesmo!


...e daí que eu vou passar o dia dos namorados sem namorado?

Eu também não passo o Dia do Índio com um índio ,

o Dia da Árvore com uma árvore

ou mesmo o Dia de Finados com um defunto..."

quinta-feira, 9 de junho de 2011

dos amores invisíveis

(Esta imagem veio daqui)
Todos devem ter visto a campanha da Vivo para o dia dos namorados, que nos saiu um interessante videoclipe da música Eduardo e Mônica, do Legião Urbana (segue link para quem esteve em Marte nos últimos dias). Tudo vai bem, uma profusão de bugigangas hi-tech que sequer podiam ser concebidas no mundo real à época em que a canção foi composta...até que o vídeo vai chegando ao final e surge a mensagem: "Essa é uma homenagem da Vivo a todos os Eduardos e Mônicas, etc." Então surgem mais nomes de casais que entre outros tantos que "juntos escrevem suas próprias histórias de amor".

Será que se adivinha do que vamos falar? Não? Bem, vamos lá...

Não há nenhum casal LGBT entre os citados. Pior é que a gente sabe que não vai ter, mas ainda assim fica olhando curioso até o final, para ter certeza...da certeza.
Vi o comercial ontem, mas guardei o pensamento só para mim, este é nosso mundo, nosso Brasil, paciência. Mas, no Twitter, o @BuleVoador lançou a provocação: cadê casal gay?




Os tweets geraram reações variadas no microblog, a favor e contra. E acabaram por gerar este post também.
Insisto: o vídeo é bacana. Mas deve-se dizer também que é válido notar a ausência de casais gays, sim. Não se trata de patrulhamento. Ora, a exclusão está em toda parte. Será que todo lugar a que vamos está preparado para receber deficientes físicos? Você já imaginou a situação de um deficiente visual ou auditivo numa escola? Da mesma forma para o público LGBT (que não é portador de deficiência por ser público LGBT, POR FAVOR): não existe uma heteronormatividade que, alheia ou não à nossa vontade, impõe comportamentos e juízos de valor? Pois é...
(Percebam que não falei em preconceito, mas em exclusão, que é o que de fato ocorre na propaganda. Seria leviano falar em homofobia, não houve insulto ou ofensa moral de nenhuma espécie no filme.)
Mas alguém deve estar aí dizendo, "mas a música é Eduardo e Mônica, por que você acha que tem de ter um casal de homens ou de mulheres aí?" Em partes. Primeiro, não acho que tem de ter, e sim que poderia ter, como ação afirmativa, de inclusão. Prossigo invertendo a pergunta: por que você acha que não tem de ter? O mundo hoje está um tanto diferente do que era nos anos 80. E não só por causa dos celulares 3G e demais gadgets bacaninhas. Devagar, mas bem devagar mesmo, nossa sociedade vem se tornando mais sensível à questão da diversidade sexual. São tantos gays/lésbicas assumidos/as hoje, você certamente conhece algum. Ou alguns. Ou muitos. Isso era mais difícil no passado. Não que hoje as coisas sejam um mar de rosas, ainda temos de suportar Bolsonaros e Malafaias estimulando o ódio que ainda mantém o Brasil como detentor do triste título de país que mais mata LGBTs. Nem leis antihomofobia a gente consegue ver aprovadas. Mas, enfim, vocês pegaram a ideia de devagar. As coisas caminham num sentido de maior aceitação das sexualidades.
Aí a Vivo decide que não vai entrar nessa.
A Vivo não entra nessa, mesmo com o momento favorável para um posicionamento humanitário. Mesmo com tantos homossexuais confiantes para dizer o que são - e, com certeza, tantos outros querendo muito ter coragem para juntar-se a eles. Mesmo com o fato de que um dos compositores de Eduardo e Mônica, o falecido Renato Russo, era bissexual (aquela outra música, que diz "gosto de meninos e meninas", lembra?) e certamente ADORARIA ver a menção de outros casais, não-heteros, numa peça escrita sobre uma obra sua.
Então, por que a Vivo não entrou nessa?
Voltemos a primeira frase deste post, mais precisamente a um trechinho dela: campanha da Vivo para o dia dos namorados. Aí está a resposta. Capitalismo. Negócios. Estamos falando de uma propaganda. Propagandas divulgam produtos. Produtos que têm de vender. Se eu quero vender, não posso correr riscos. E associar sua marca de alguma forma à homossexualidade, numa peça publicitária de tão grande alcance (o vídeo tem quase 2 milhões de visitas em dois dias), pelo jeito, é visto como um risco, sim. Talvez tenha ocorrido a alguém do staff do filme colocar, digamos, uma Luana e Renata ali, mas, se ocorreu, a ideia deve ter sido imediatamente abortada. Para que correr o risco? Pelo menos não seremos ofensivos, porque isso também seria um tiro no pé (ainda maior? quem sabe).
Então, que gays e lésbicas em relacionamentos se sintam de alguma forma incluídos entre os "outros tantos casais" citados no final do clipe. Pelo menos até que alguma empresa brasileira decida que vale correr o "risco" de tirar o amor entre iguais da invisibilidade que lhes foi imposto. Qual se habilitaria? Na França, o McDonalds - entre tantas outras - já chegou lá. Este é o comercial que o @BuleVoador citou:

sábado, 28 de maio de 2011

marcha da liberdade

A Marcha da Liberdade rolou, apesar da ameaça de proibição que pairou sobre ela, como de fato havia sido proibida a Marcha da Maconha, cuja dura e arbitrária repressão pela polícia foi a motivação imediata - mas não a única - da manifestação de hoje. Proibida ou não - no final, o governador e os policiais cederam, desde que não houvesse "apologia" ao uso de drogas - as pessoas estiveram lá, muita gente mesmo, ouvi falar em cinco mil participantes. E eu fui um deles, acompanhei boa parte da marcha; parei de só ficar agitando no Twitter.
Seguem algumas poucas fotos (tiradas do celular...) da concentração no vão livre do Masp e pouco antes da saída da marcha propriamente dita.

Minutos depoois da minha chegada, muita gente já ali reunida. Famílias com crianças presentes: a manifestação é pacífica

"Policial, os nazistas também 'só' cumpriam ordens" - Alguns dos cartazes empunhados durante a Marcha foram feitos na hora

Contra a homofobia: presentes. Havia um cordão policial enorme em frente ao Masp, mas não houve problemas para chega à concentração

Alguém pode responder?


"Mais amor, por favor" "Ei polícia, vem me defender"


Uma clássica frase pela liberdade de expressão e manifestação


Todos devem saber do caso do estudante que foi morto dentro da USP. Para estes manifestantes, pôr PM lá dentro não resolve. E eu concordo


...


Olha a Soninha (ex-Soninha para alguns...) marcando presença e dando uma entrevista


As pessoas começavam a sair para a marcha. Nunca antes vi tanta viatura junta. Por que, para a polícia, acompanhar uma manifestação é sempre estar preparada para o pior?


Para ficar claro que todos ali queriam marchar em PAZ

Acho que "eles" entenderam

A Marcha foi pela Paulista, desceu a Consolação - com uma pausa em frente ao cemitério da Consolação para lembrar a morte dos líderes camponeses José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, esta semana - e foi até a Praça da República, sem nenhum incidente grave.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

vídeo - entre rios

O que hoje conhecemos como o município de São Paulo surgiu numa colina, entre dois rios. Um ponto estrategicamente isolado por proteções naturais, ideia dos indígenas que o colonizador surrupiou. Por anos São Paulo viveu de seus rios. No final do século 19, a necessidade mudou: São Paulo tinha de crescer. E os rios se tornaram empecilhos ao modelo de crescimento que havia sido adotado. Foram transpostos, canalizados, enterrados. Nas proximidades de suas antigas margens, junto a seu antigo leito, construções imponentes, valorizadas. E para os rios, ia o esgoto. Mas eles, os rios, já estavam isolados, ninguém se importaria. E assim São Paulo foi crescendo, mais e mais. Logo surgiram outros rios no caminho. Mas estes não se comparavam aos anteriores: eram imensos, faziam curvas, possuíam muitos metros de largura mesmo quando não chovia. Formavam paisagens maravilhosas. Foram também canalizados, e suas antigas várzeas se tornaram atraentes para os negócios imobiliários. E isso mesmo com nossa grande invenção, as enchentes. E como São Paulo já havia crescido tanto, as distâncias a percorrer se tornaram também grandes. O escolhido para vencê-las permitia também excelentes possibilidades de negócios: era o automóvel. E assim, parcial ou totalmente, os rios deram lugar a grandes avenidas para os automóveis andarem depressa. Ora, São Paulo crescia, e não podia parar. E essa lógica segue inalterada até os dias atuais.

Sobre isto e mais um pouco trata o vídeo a seguir, entitulado Entre Rios. Que sistema estamos alimentando quando achamos que precisamos de um carro porque o transporte público não presta ou mudar para um novo apartamento num condomínio que oferece inúmeras opções de lazer? As escolhas que os governantes fazem são exatamente aquelas que as empreiteiras e a indústria automobilística mais querem que sejam feitas. O preço disso tudo foi bastante caro e quem mais pagou foram nossos antigos rios. Não por acaso tentaram escondê-los, fazer-nos crer que eles não estavam mais ali. Mas basta uma chuva mais forte e...

ENTRE RIOS from Santa Madeira on Vimeo.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

injustiça social: eu me importo

Retomando o assunto dos sem-teto organizados em movimentos sociais que lutam por moradia decente em lugares decentes de São Paulo e não nos cafundós onde as elites e os governos que as representam permitam que eles morem. Já falamos especificamente de um grupo que se movimenta no centro da capital aqui. E eles estão de volta à programação deste blog por um motivo bastante triste.
Um dos prédios que ainda permanecem ocupados, localizado na avenida Prestes Maia, está para ter sua reintegração de posse declarada - logo agora que, segundo este link, está em curso uma negociação para sua desapropriação e adaptação para moradia popular. Sugiro conferir também a carta aberta às autoridades contra a retomada do edifício e que também dá conta de parte do complicado processo que envolve a "posse" do imóvel desde que este deixou de pertencer à falida Companhia Paulista de Tecidos.
Pelas postagens sabemos que o Prestes Maia encontra-se desocupado há mais de vinte anos e que a pessoa que reclama ser seu proprietário tem a obrigação de também asumir uma dívida de mais de R$ 5 milhões em impostos. Meu conhecimento prévio sobre o caso me permite informar também que o prédio foi alvo de outras ocupações organizadas no passado. Também sei o nome de seu pretenso dono: é o sr. Jorge Hamuche.
Como me incomodou a notícia da possível reintegração! Creio que custarei a dormir esta noite, e estou precisando pôr o sono em dia.
Mas, porque me incomodo, sinto-me no dever de incomodar meus leitores.
Não escondo minha postura "estou contigo e não abro" em relação aos movimentos sociais que defendem causas justas e cuja idoneidade não encontro razões para contestar. De fato, quem costuma tentar desqualificá-los é a grande imprensa, notável porta-voz das mesmas elites que influenciam as decisões de nossas autoridades, embora jure de pés juntos que reza pela imparcialidade (volte a meu post anterior sobre o caso, se preciso).
Creio, porém, que certas demandas independem da orientação política para serem defendidas. A questão é de princípios. Se uma propriedade está desocupada há tanto tempo e ninguém se responsabiliza por ela, a não ser para manter longe quem luta para lhe restabelecer uma função social, parece óbvio de que lado se deve ficar. (...)

quinta-feira, 7 de abril de 2011

a insustentável leveza de mr. rich (peça teatral)

Apenas dando uma força na divulgação do trabalho de meus amigos...

novo projeto de trem bala chinês

Via ZipLista


O futuro é logo ali....

Projeto do trem bala na China: descer do trem sem que ele precise parar!

Não há tempo a ser desperdiçado. O trem bala está se movendo o tempo todo. Se existem 30 estações entre Pequim e Guangzhou, parar e acelerar de novo em cada estação vai fazer perder energia e tempo. Uma parada de 5 minutos por estação (passageiros idosos são naturalmente mais lentos) resultará em uma perda total de 5 min x 30 estações, ou 2,5 horas de tempo de viagem do comboio.

Os chineses são inovadores o suficiente para chegar a um conceito de trem sem paradas. Os passageiros embarcam, na estação, em uma cabine conectora antes que o trem chegue. Quando o trem chega, ele não vai precisa parar. Ele apenas diminui a velocidade para pegar a cabine conectora que vai se acoplar ao teto do trem.

Depois dessa acoplagem, os passageiros deixam a cabine conectora e descem para o interior do trem. Após o embarque, a cabine será movida para a traseira do trem, para ser ocupada pelos passageiros que querem descer na próxima estação. Quando o trem chega na estação seguinte, ele deixará a cabine conectora na estação. Os passageiros assim desembarcam na estação sem a necessidade do trem parar. Ao mesmo tempo, o trem vai pegar os passageiros de uma outra cabine conectora, com novos passageiros.

Assim, o trem terá sempre uma cabine conectora na parte traseira do teto (para desembarque) e uma cabine conectora na parte dianteira do teto (para embarque) em cada estação.

Isso não é "pensar fora da caixa"? Veja o vídeo ilustrativo...



quarta-feira, 9 de março de 2011

se não pode comprar, babe

Ao contrário de mim, meu pai é uma pessoa que gosta de carros. (Eu também gostava quando era adolescente, mas isso passou.) Aí, se a condição financeira permite, ele procura o melhor carro que seu dinheiro pode comprar, de acordo com seu gosto pessoal. Hoje, devo dizer, ele possui um automóvel que chama atenção. É um fato que constato, não ligo para carros e sou avesso a qualquer tipo de ostentação. As pessoas passam na rua e ficam olhando para a charanga do velho, quando ela está fora da garagem.
Moramos próximo a uma grande revendedora de automóveis. Alguns dos funcionários da loja deixam seus carros na rua durante o dia inteiro e vão trabalhar (aliás, é de uma alegria imensa para mim que uma loja de carro não providencie espaço em suas dependências e, em consequência disso, seus empregados abarrotem as ruas próximas). Bem, o que importa é que essas pessoas estão entre os admiradores do carro do papai. Admiradores? Uns só falta babarem mesmo. Mas claro: eles estão inseridos num meio em que tudo acontece em torno desse bem de consumo chamado automóvel. Eles o compram, vendem, revisam, consertam, manobram, estacionam, limpam, decoram, exibem. Tocam-no, sentem seu cheiro, amam o ruído de seu motor. Eles o desejam, especialmente os modelos mais caros, os tops de linha. Mas não podem tê-los, por mais que creiam o contrário. São apenas funcionários. Não ocupam cargos de chefia, condição em que, é quase certo, deixariam o carrão dentro da concessionária, numa vaga demarcada.
Mas desejar é diferente; não custa, ao menos em dinheiro. Ter e alimentar sonhos de consumo dentro e fora do trabalho. A coisa vai além de um simples gostar de carro. Eu me pergunto se em algum momento essas pessoas param e pensam sobre o que lhes acontece. Elas são agentes e objetos do processo de convencer a massa a comprar automóveis, não somente pela promessa de mobilidade própria - totalmente falsa, aliás, dadas as condições de nosso trânsito -, mas também pela sensação de poder ao alcance do bolso, ainda que o carro dos sonhos não seja - e raramente é - aquele que a conta bancária permite ter. Isso é, talvez, lá com os chefes e com um outro cliente exclusivo. Aos reles mortais, o sonho, a fantasia, a fuga da realidade. A baba.
Não, não deve sobrar tempo a esses trabalhadores para raciocinar sobre o que lhes passa, estão presos demais nessa grande ilusão. Meu trabalho acaba comigo, fico aqui o dia inteiro, sou explorado, mal pago, mas gosto demais de carro para realmente me importar com isso. E esse "amor" é fator decisivo que os faz fechar os olhos para esta realidade: a fim de que uns poucos possuam os veículos de sonhos, é preciso que uma massa tenha uma vida de pesadelo. E esses empregados nunca deixarão de ser massa. De manobra, inclusive. Pudessem escapar desse universo alienante, será que todos seriam tão apaixonados por automóveis assim? Não despertariam para interesses outros, para opiniões distintas sobre o mundo e o trabalho?

segunda-feira, 7 de março de 2011

compra-se lixo eletrônico. compulsivamente

Não encontro o carregador de meu celular. Minha mãe se dispõe a me ajudar. Encontra uns cinco ou seis carregadores diferentes. Alguns da mesma marca do meu telefone. Mas é claro que nenhum serve. Quase todos esses carregadores estão, portanto, encostados, sem função, tomando espaço. Viraram lixo, apesar de a gente não jogar fora. E nem deveríamos. Estão funcionando, só não têm mais função, depois que os respectivos aparelhos que alimentam de maneira exclusiva foram substituídos e/ou perdidos - os que se encaixam na primeira categoria ainda estão aqui, evidentemente.
E tem um caso ainda mais absurdo: uma televisão, desses modelos bem modernos, tela bem fininha e tal. No começo do ano, deu problema, a imagem ficou toda branca. Já levamos a dois técnicos. Os dois dizem que arrumar a tevê sai mais caro que ir à loja e comprar outra. Enquanto isso, temos duas veteranas pesadonas que nunca deram problema - a mais antiga tem dezesseis anos. Acho inadmissível comprar uma coisa que não é barata para que ela não dure e tenha de ser substituída em curto prazo.
No caso dos celulares, me parece insensato não haver compatibilidade entre modelos de uma mesma marca. Por que não posso comprar apenas um aparelho novo, se quero apenas substituir meu antigo telefone? (e no meu caso será sempre antigo, pois não acho necessário trocar celular de seis em seis meses) Lembra a lógica dos computadores, em que a substituição de um ou outro périférico menos atual por vezes exige a troca da máquina inteira.
Alguém diria, "há empresas que aceitam de volta aparelhos que você não vai mais usar". Ora, e não fazem mais que sua obrigação! Elas produziram essas toneladas de produtos marcados para dar problema, à custa de processos industriais extremamente poluidores, e substituem periodicamente suas linhas de montagem para produzir novas toneladas desses produtos e fazer todo mundo ter de comprar tudo de novo...a responsabilidade é toda delas. E ainda têm a coragem de dizer que quem tem de aderir a essas campanhas ecologicamente corretas é você, consumidor, você é quem tem de fazer sua parte para salvar o mundo...mas ei, não deixe de ter um celular para cada operadora, e de trocá-los periodicamente para não ficar por fora. E o pior é que a gente ainda compra, com o perdão do trocadilho, essa história.
Errada está essa lógica capitalista e consumista. O pequeno documentário a seguir, entitulado A História dos Eletrônicos, fala mais sobre esse sistema que precisa ser mudado.




quinta-feira, 3 de março de 2011

não foi acidente. problemas na sociedade não são "acidentais"

Já se vai quase uma semana desde que o funcionário público Ricardo José Neis atropelou deliberadamente um grupo de ciclistas que fazia uma manifestação pacífica pelas ruas de Porto Alegre. Muito se falou sobre o caso desde então, e todos dotados de um mínimo de bom senso devem estar aguardando uma punição exemplar ao "monstrorista" (*). Mas a questão que fica é se todos entendem de fato por que precisa haver justiça aqui.
A hashtag #naofoiacidente emplacou no Twitter há dias e deve ter convencido a muitos. Alguém jogar um automóvel em cima de uma pessoa não pode ser encaracdo como mero "acidente de trânsito", como se faz em estatísticas oficiais. São centenas de quilos de metal contra um frágil ser de carne e osso. O carro é uma arma em potencial. Sua condução exige responsabilidade.
O que vemos nas ruas, entretanto? Creio que todos têm uma história de horror no trânsito para contar, que tenham visto e presenciado - neste único post tenho duas - e não algo que tenha ocorrido certa vez na vida, mas nos últimos dias. Nas ruas se exercitam livre e impunemente o egocentrismo - eu tenho de passar, estou com pressa - , a egolatria - eu tenho de passar com meu carro/minha moto, especialmente se ele/a for grande e caro/a - e, como óbvia consequência, a intolerância com quem pode menos. E segundo essa lógica perversa, pode menos o pedestre, o carroceiro, podem menos os ciclistas que "invadem" o espaço que segundo o motorista perverso, é somente dos carros - ainda que o Código Nacional de Trânsito diga exatamente o contrário.
Então, estamos de acordo: não foi acidente. Mas vamos pensar um pouco mais. Pegue-se o Jornal Nacional de ontem - não recomendo esse noticíario, mas acabei pegando o comecinho dele na noite passada e veio até a calhar. Primeiro bloco: uma sequência de crimes hediondos que nem vale lembrar, principalmente pela forma sensacionalista e banalizada como são tratadas tais notícias. E em meio a esse balaio, o casal global deu as últimas sobre o caso de Porto Alegre. Como se fosse mais um escândalo midiático qualquer, como se Ricardo José Neis fosse mais um desses malucos cuja conduta não encontrasse similar em nossa sociedade. Como esses pais que matam os filhos, que a nossa imprensa adora.
Repetindo: todo mundo tem uma história de horror no trânsito para contar. Exigir justiça para o atropelador de Porto Alegre é bem diferente de, digamos, aparecer na frente do tribunal onde se julgou o caso Isabella e pedir a cabeça dos Nardoni, como se estivéssemos na Roma antiga. Falar de Ricardo José Neis é precedente para revermos conceitos enraizados em nossa sociedade. "Eu gosto do meu carro, gosto de andar rápido. Não admito que fiquem no meu caminho. Puxa, será que esse meu comportamento não põe em risco a vida dos outros? Será que, agindo dessa maneira egoísta, não poderia eu mesmo acabar causando algo parecido com o que aconteceu em Porto Alegre?"
O que Neis fez parece algo extraordinário, talvez devido à força das imagens, mas definitivamente não é algo descolado da realidade de nossas ruas. Não é um caso à parte, está inserido num contexto de desvalorização da vida humana mediante o autoproclamado domínio de quem se locomove guiando um veículo motorizado. Ricardo José Neis cometeu um crime e deve ser punido (**). Sua motivação foi um pensamento que tem aval da sociedade. Todos nós temos de aprender com esse erro, coma vantagem de que não precisaremos ir para a cadeia.




(*) Para quem achou o termo estranho, é uma mistura de monstro com motorista. Motorista-monstro.
(**) A punição que queremos deve se dar pelas vias da Justiça, não pelo justiciamento puro e simples que já marcou este caso similar, ocorrido esta semana. Aliás, rigores da lei para este outro monstro também!

sábado, 29 de janeiro de 2011

visibilidade trans

Hoje, 29 de janeiro, é o Dia Nacional da Visibilidade Trans. A justificativa para a escolha da data colhi do site A Capa, e apresento a seguir.

No dia 29 de janeiro de 2004, 27 ativistas trans entraram no Congresso Nacional para o lançamento da campanha nacional "Travesti e Respeito". Além do ato ousado, foi neste mesmo dia que o coletivo de ativistas fundou a Associação de Travestis, Transexuais e Transgêneros do Rio de Janeiro (ASTRA), que hoje se configura como uma das principais entidades de luta dos direitos trans. Por conta disso, é que se comemora em 29 de janeiro o Dia Nacional da Visibilidade Trans.

Uma transexual apareceu no reality show da Rede Globo. Poderíamos pensar, quer visibilidade maior que essa? A participação dela, porém, parece ter causado ainda mais confusão na cabeça do povão no que diz respeito aos conceitos de orientação sexual e identidade de gênero. Os tweets de meu amigo Jiquilin, a seguir, mostram o que quero dizer.



A presença de Ariadna não foi acompanhada dos devidos esclarecimentos sobre sua condição. O que não surpreende de uma "atração" de uma emissora que não oferece mais que entretenimento banal - e discutível.
Aí ficou aquela salada: mãe perguntando ao filho gay se ele quer "virar mulher", gente achando que travesti e transexual são a mesma coisa.
Se a televisão não vai nos dizer de fato sobre a experiência de vida de um transexual ou de um travesti, que a busquemos de outra maneira. E este simples blogueiro quer oferecer sua contribuição nesse sentido.
O básico do básico é tentar entender as diferenças Este editorial do E-Jovem é muito instrutivo.
Para entender melhor a transexualidade, as recomendações são as seguintes: assistir ao documentário Meu Eu Secreto, o filme Transamerica e ler o livro O Que é Transexualidade, da pesquisadora Berenice Brito.
E sobre travestilidade, vale conferir a ótima entrevista que a revista Trip fez com o cartunista Laerte, que no ano passado apareceu pela primeira vez em público em roupas femininas e se dispõe a debater o assunto com a seriedade necessária.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

o filme deu origem à série. peraí, a série é o próprio filme!

E lá vamos nós descer a lenha na emissora mais assistida do país de novo. "Nossa, você gosta de descer lenha na Globo, hein?" Gosto mesmo! Enquanto ela der trela e fizer o telespectador de trouxa - e continuará fazendo - critico com gosto.
Semana passada a tevê dos Marinho anunciou e exibiu uma série brasileira inédita, o Bem-Amado. Pensei comigo, nossa, será que refilmaram a série original, nessa onda de remakes? Notei que o papel de Odorico Paraguassu era de Marco Nanini, como no filme exibido recentemente nos cinemas. Até aí, não achei nada de mais. Então, durante a semana, me aparece a bomba, via Twitter: a série que a Globo exibiu É o filme. Um filme exibido ao longo de quatro dias.
E essa semana tem mais: o "filme seriado" da vez é Chico Xavier.
Oi, responsáveis pela programação da rede Globo. Não sou especialista em audiovisual, mas tenho uns toquezinhos para dar. Filme não é série. Sabiam dessa? Não dá pra serializar uma obra que foi pensada como algo contínuo. Ao final de um episódio de uma série de verdade - a própria Globo já fez séries, estão lembrados? - deve haver algo chamado gancho, ou cliffhanger, se a expressão do inglês for mais de seu agrado. Sabe o que o gancho faz? Captura o espectador, incentiva-o a voltar para mais. Um filme não precisa necessariamente de ganchos. Não dá para brincar de fazer "plim-plim" no meio de um filme e dizer "não perca amanhã...", como se estivessem chamando um intervalo de vinte e quatro horas. O telespectador pode até voltar no dia seguinte, afinal ele começou a ver o filme (ops, pra vocês é série) mesmo, mas não é a experiência de ver uma série de verdade. Pode até ser meio enfadonho.
E por que serializar logo o filme do Chico Xavier, disponível em qualquer barraquinha de camelô pra ver inteirinho, a hora que quiser, sem ter de esperar até o fim da semana pra saber como termina? Imagina, vejo o "primeiro capítulo" do filme hoje e no dia seguinte arranjo uma cópia dele em DVD. De um dia para o outro, sou um telespectador a menos. E se eu a emprestar pra alguém, ou fizer uma nova cópia, é menos gente ainda dependendo da boa vontade da Globo pra ver o resto da "série".
Por que não passar o filme inteiro de uma vez? Seria a resposta um certo reality show? Será que depois de ver aquilo, a emissora acha que vão aceitar ver qualquer coisa, até uma fração de filme por dia?
Ou a Globo não quer audiência, ou está fazendo essa audiência de trouxa.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

devagar, subindo e sempre

Inevitável falar de ônibus neste momento em que a prefeitura de São Paulo resolveu reajustar novamente a tarifa, num ataxa acima da inflação, confirmando-a como a mais cara do país, e constatar, por este ou aquele ângulo, o quão abusivo é o preço que pagamos pelo serviço oferecido.

Um dos indicadores da baixíssima qualidade de transporte coletivo paulistano - um entre tantos - é a baixa velocidade média desenvolvida pela frota. E não falamos dos óbvios congestionamentos causados pelo excesso de veículos particulares nas ruas. Pensemos nos corredores de ônibus, onde os automóveis não podem circular - com a lamentável exceção feita aos táxis. É muito melhor para o coletivo trafegar por essas vias segregadas, mas a falta de planejamento gera problemas que compromete a eficiência do sistema, que deveria se caracterizar pela rapidez.

No momento em que o ônibus se aproxima de um ponto de parada, pode acontecer de o motorista precisar parar TRÊS vezes - uma para aguardar o deslocamento do ônibus à frente, outra para embarque/desembarque e a última porque o semáforo à frente fechou. São dois os problemas: a tendência dos ônibus a formarem filas devido ao pouco espaço exclusivo de que dispõem, em muitos casos, uma única faixa de rodagem, junto a plataformas - a fila à direita está tomada por carros, não serve para manobras -; e a programação semafórica que prioriza o fluxo de um modo geral, não fazendo distinção se num determinado cruzamento os ônibus trafeguem em uma das vias que se encontram.

Aparentemente, a presença dos corredores de ônibus na capital paulista só é tolerada de um modo que o tráfego de automóveis particulares não seja prejudicado - como se isso fosse possível, dado o número expressivo e crescente dos últimos. Ainda assim, desde 2005 não se constrói nem se reforma decentemente um único metrona de corredor em São Paulo. Sim, inauguraram o Expresso Tiradentes, mas é algo completamente distinto. Afinal de contas, trata-se de uma via elevada - não "atrapalha" os carros - e também uma obra vistosa, dessas que aparecem bastante, não somente pelo porte, mas também pelo histórico (ei, finalmente fizeram alguma coisa com o Fura-Fila).

Se pagamos tão caro por um sistema ruim e que não recebe investimento que gere algum retorno ao usuário, a resposta está nos subsídios pagos a empresas de ônibus, constantemente reajustados. Esses empresários ganham cada vez mais para prestar um serviço ruim. Há quem diga, por conta disso, que o setor de transportes é uma área de capitalismo sem riscos.

Se esse dinheiro fosse investido diretamente em estrutura,reprogramando os semáforos para favorecer o fluxo dos ônibus e modernizando os corredores, por exemplo, estaríamos mais próximos de um valor justo para a tarifa - isso sem o aumento, abusivo de qualquer maneira. O que temos na São Paulo do mundo real é isto: os donos de empresas de ônibus não se sentem pressionados a investir num transporte coletivo melhor, incentivando parte dos usuários a fugir de um sistema tão ruim, trocando a superlotação pelos congestionamentos, se optar pelo automóvel entre outras alternativas de deslocamento. Mas não se iludam, não abandonam os ônibus tantos assim que eles passarão a andar vazios, e mutio menos mais depressa.

E assim vamos piorando um pouco mais a cada dia.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

cão chupando manga (ou, p..., andré!)

que vergonha... só eu achava que "cão chupando manga" tinha a ver com cachorros?

Eu tenho um cachorro. Ele adora frutas. A manga é uma fruta. Meu cachorro come manga.
Aí veio a curiosidade: de onde viria a expressão "cão chupando manga"?
No alto de minha desinformação, eu achava que a espécie canina abominasse a tal da fruta e que quando a provasse de maneira desavisada, tentaria cuspi-la de volta, tossindo com força, enfim...teria alguma reação que denotasse (e provocasse) nojo. Afinal, eu sabia que cão chupando manga podia se referir a alguma coisa muito feia. Ao menos isso eu sabia.
Mas a internet, essa adorável, pôs fim a esse meu equívoco histórico. Seguem algumas definições que encontrei:
“O 'cão' da expressão é o diabo, que é sempre retratado como bem feio. Quando chupamos manga, frequentemente fazemos caretas." Que cachorro que nada. Mas daí vem a parte da feiúra.
“O Cão Chupando Manga é uma expressão muito usada no Nordeste para definir qualquer coisa superlativa. (...)Também pode ser utilizada para expressar a dificuldade de realizar uma tarefa."
“Na linguagem que o povo usa, no seu dia-a-dia, a expressão o-cão-chupando-manga pode ser usada quando a pessoa é boa, é fera em determinado assunto, valente, determinado, inteligente."
Uma dúvida besta a menos nesta vida. Mas vou sempre lembrar dessa bola fora quando der manga para o meu cachorro comer.