sábado, 30 de dezembro de 2006

sem título

O homem diante de mim não aparenta a idade que tem, de forma alguma. Claro, alguns olhos clínicos podem identificar traços que denunciem a passagem do tempo, a qual ele às vezes sente nublar sua vista e curvar-lhe as costas. Mas não é algo que todos notem, o homem deve ficar feliz consigo mesmo, pois aparenta ser mais jovem. Chamo-o homem pois conheço sua idade. Externamente, porém, ele mais parece um menino. Um menino que só há pouco encontrou pistas interessantes sobre o mundo e sua composição.
Ele tem o mundo à sua espera, não há dúvida.
Digo isso tudo a ele sem palavras. A nós dois, basta nos vermos nos olhos, e tudo se entende. Ele se sente grato pela atenção, gosta de saber que é querido. Uma única lágrima escorre de seu olho direito. Com satisfação o homem percebe que pode chorar sem parecer uma criança desesperada, como tantas vezes ocorrera, mesmo após o término de sua infância. Por isso mesmo ele sorri, é um sorriso franco, lindo, convenhamos, lindo é quem o sorri e é menino o suficiente para fazê-lo.
Despedimo-nos sem cerimônias. Dou meia-volta e vou em frente.
Ouço alguém dizer parabéns.

sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

confidência e tentativa de auto-ajuda


Preciso dizer: eu desanimo com as coisas. Se me proponho uma determinada tarefa e começo a encontrar dificuldades em cumpri-la, sinto-me perdido, acho que tudo está muito errado, dá vontade de desistir. Sou o oposto do brasileiro do slogan. Acontece que detesto me sentir derrotado, não lido bem com adversidades.
Pensando bem, sou assim desde criança. Nunca gostei de perder. Se começava mal uma partida de videogame, por exemplo, logo procurava o botão reset. Para parecer que nunca havia feito nada errado, sabe? Tudo que eu fizesse devia beirar o impecável. Isso explica também por que eu chorava na quarta série quando não tirava dez em alguma prova - acredite, não é uma coisa fácil de admitir.
Sem contar meu total desinteresse por esportes coletivos. De vez em quando penso: o que me desmotivava de fato? Eu era naturalmente ruim e não valia a pena tentar, ou eu era ruim e não iria me expor?
Já desisti de várias coisas nesta vida. De algumas, talvez, por me recusar a lidar com as dificuldades peculiares a cada caminho.
Mas por quê? Todos sofrem, nada é fácil, às vezes nem mesmo para os bem-nascidos. Custei a perceber isso e, ainda hoje, ciente dessa verdade, minhas cabeçadas ainda provocam dores intensas, próximas do insuportável. Não posso continuar agindo dessa maneira. Sou adulto, preciso ser prático, tomar decisões e, sim, manter-me firme, convicto, aceitando todos as implicações, especialmente as ruins, de ter seguido por uma estrada e não por outra. A vida não tem um botão reset - eu o utilizava quase sem pensar no Atari. As dificuldades de nosso percurso continuam registradas. E isso é bom. Um dia a gente alcança a linha de chegada, olha para trás e pensa: "olha só o que eu venci".

violência, de novo

E ontem foi a vez do Rio. Ao longo do dia, a mídia falou e falou dos ataques "covardes" a alvos policiais e ônibus ocorridos desde a madrugada anterior. Aliás, bastante espertos, os bandidos: suas ações podem estragar o mais badalado réveillon do Brasil - duvido que não ostente esse título, tem cobertura da Globo!
De uma hora para outra, o Rio de Janeiro se tornou perigosíssimo, como aconteceu com São Paulo meses atrás. Nada de revanchismo bairrista aqui. Na verdade, o medo é uma constante para quem mora em qualquer grande cidade brasileira. A situação é mais assustadora ainda em regiões periféricas, mas disso não há necessidade de falar o tempo todo. Vez ou outra, porém, em que a bandidagem decide que o terror deve tomar conta de todos. Neste caso específico, a ordem foi estragar a sua, a nossa festa, a de quem viesse. Talvez não houvesse muito a comemorar.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

sobre o fim de ano...anos atrás

Algo que escrevi há exatos dois anos, em meu antigo diário, e agora está aqui porque penso praticamente da mesma forma. Em vez de escrever a mesma coisa outra vez, aproveito o texto antigo.
Transcrevo-me sem alterações, deixando à mostra pequenos erros que hoje não cometeria. Entendam, naqueles dias eu nem pensava em publicar.

(...)
Ontem eu estava pensando no quanto esta semana é estranha. Sim, porque o ano praticamente acabou, mas o ano que vem...bom, não veio ainda. Até certo ponto, esta é uma semana indefinida. Esquisito achar isso da época em que se faz aniversário, mas não posso evitar. Tirando o fato de eu soprar velinhas, o que não é lá muito relevante para o resto do mundo, fica a sensação de que tudo de realmente importante relativo a 2004 já aconteceu, e agora estamos apenas cumprindo tabela.

segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

natal

Lá fora, mais precisamente nos Estados Unidos e na Europa Ocidental, tão influentes em nossa cultura - não se pode negar - Natal bonito de verdade é aquele em que faz bastante frio, as pessoas têm de usar roupas pesadas para se aquecerem. O ideal é haver neve. Ver os flocos caindo levemente durante a noite e no dia seguinte acordar com as ruas e as casas cobertas de branco. As crianças adoram, fazem bolas e bonecos de gelo.
Mas estamos no Brasil. Um país tropical. Neve é coisa raríssima, ocorre apenas no sul, quando ocorre, entre julho e agosto. Nada de Natal branco por aqui.
Hoje está chovendo. Puxando pela memória, certamente me recordarei de outros Natais igualmente chuvosos. Não é algo totalmente inesperado. O verão teórico começou há pouco e até mesmo existe um tipo de precipitação que tem como, digamos, sobrenome essa estação do ano.
Chuvas de verão são bem-vindas após um dia de imenso calor. Mas talvez não no Natal. Afinal, chuva em dia de festa é chato por si só.
E se a água, antes de chegar ao chão. passasse por um resfriamento absurdo e se tornasse neve branquinha? Talvez não reclamássemos tanto, apesar de todo o incômodo. Decerto os pequenos adorariam ter um Natal igual ao dos filmes na tevê. Eu mesmo teria adorado, em minha época. Hoje, posso reclamar da chuva, mas prefiro de longe a neve, a qual acredito firmemente que só é bonita de longe. A um hemisfério de distância, mais ou menos.
***
Meu brinquedo de Natal preferido é a nova câmera da família! Breve, por aqui e no meu Orkut, algumas de minhas fotinhas.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

feliz ano novo pra você!

Menos de 35% da população mundial comemoram o Ano Novo no dia 1o. de Janeiro próximo. Minha fonte é o National Geographic Channel.
Chineses, indianos, muçulmanos, judeus...cada um desses povos possui calendário próprio, o ano podendo começar antes ou depois do nosso.
Assim, quando disserem na televisão que o mundo festeja a chegada de 2007, pense num mundo um tanto menor. Tipo, aquele sob influência ocidental e cristã.
Um barato, dar-se conta das dferenças.

domingo, 17 de dezembro de 2006

messias

Foi realmente uma pena: não pude participar da apresentação de ontem. A baixa disponibilidade de ônibus típica de um sábado não permitiu que eu chegasse a tempo de apanhar o veículo que levaria os coralistas ao local do concerto. Pelo mesmo motivo, minha tentativa heróica de ir até o mosteiro de São Bento por conta própria para cantar fracassou: à minha chegada, coro e orquestra já estavam no palco; o espetáculo já havia começado. Mais tarde, uma coralista comentaria a decepção estampada em meu rosto.
Assisti à apresentação de longe, o terno que tomara emprestado horas antes para o evento - e cujo cabide havia se partido durante o melancólico trajeto Campinas-Vinhedo - sempre em mãos. Perdi a primeira peça, meu adorado Ave Verum, de Mozart, mas essa voltou no bis. Ouvi a seguinte, uma ária de Alessandro Scarlatti para soprano, e depois a conhecidíssma Ária da Quarta Corda.
Finda a parte inicial, foi anunciado o Messias. Doeu-me o coração ouvir os primeiros acordes do coro And the Glory of the Lord, ausentei-me da sala do concerto por alguns instantes, ouvindo a música de um corredor adjacente. Foi quando mais quis estar no palco. Esse sentimento, porém, passou logo, e antes mesmo da metade do já referido coro voltei a ser platéia. Permaneci na sala praticamente até o final; apenas fui esticar um pouco as pernas quando quando o Hallelujah ressurgiu, no bis.
O concerto foi maravilhoso. Identifiquei um ou outro erro nos baixos - e talvez na orquestra, não me arrisco a afirmar - bem como algumas vozes de coralistas "furando" seus naipes, mas nada capaz de comprometer o espetáculo, que classifico como excelente e de alto nível. Sim, deixar de cantar após dois meses de trabalho moldando voz e espírito para a apesentação machuca, e muito, mas busco alento na idéia de que ajudei a construir o concerto e tenho condições de tomar parte em projetos musicais de grande qualidade. Se ontem tive de conferir tal qualidade da platéia, foi por azar, não incapacidade.
***
Só mais umas coisas.
Após a apresentação, alguns coralistas - poucos - disseram que eu deveria ter vestido o paletó e subido ao palco entre uma peça e outra. Isso não me pareceu certo por várias razões.Jamais faria tal coisa sem consentimento do regente. Talvez até me metesse a ser o "coralista que chegou depois" em algum compromisso menos formal do Zíper na Boca, mas nunca numa apresentação de gala, quase todos no palco músicos profissionais - justamente eu era uma das pouquíssimas exceções. Além disso, todos já estavam ali há quase duas horas, em clima de apresentação, aquecidos e concentrados. Não seria honesto de minha parte "chegar chegando" sem ao menos estar descansado. E, por favor, estamos falando de um mosteiro. Já estive lá cinco anos atrás. É simplesmente um local à parte neste mundo maluco. Todos - maestro, cantores, musicistas - já haviam absorvido a atmosfera do santo lugar. Quanto a mim, era apenas cansaço e nervosismo.
Após o concerto, o regente, católico, falou-me algo como "Deus não quis que você cantasse". Não sei se realmente acredito num deus, mas talvez houvesse mesmo um motivo para que as coisas se dessem da mnaeira como descrevi. Fico apenas me perguntando se a razão é de ordem "esotérica", ou se algo menos complexo explica tudo. Algo em minha vida cotidiana, por exemplo. Quem sabe?
Isto é cidade grande com clima de interior:

Uma loja de shopping center (um dos maiores do país) anunciando em carro de som, desses com locutor de voz bem brega.

Juro que vi isso agora há pouco.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

objeto

A decepção jaz sobre a cama. É onde ela assume inusitada forma corpórea, redentora para uns, indesejada para outros, sob diferentes ângulos. A respeito disso, entretanto, a opinião do maior de todos os juízes é a única relevante, e esse todos sabemos o que pensa, embora sua voz não se faça ouvir, não agora.

domingo, 10 de dezembro de 2006

intangível/inatingível

Como eu não há outro. Soa estúpido, não? Por tão óbvio. Um, um qualquer, nunca é igual a outro. E não escapo disto. Ali, na multidão, apontam-me, e me torno um qualquer, o que, sabe-se, é bem distinto de ser qualquer um, mas disso não falo aqui.
Digo: como eu não há outro. Claro. Somos todos diferentes.
Então eu?
Sou mais diferente que os outros.
A meu redor, pessoas se entendem, pessoas de todo tipo, e é um milagre. O que as torna únicas não faz diferença. Estão unidas.
Mas eu. Sobro. Sempre sobro. Às vezes levo tempo para perceber, às vezes está claro desde logo. Tenho apenas minha peculiar companhia, talvez a única a mim adequada.
Não sei por quê.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

aviõezinhos

Só eu acho que vem se dando muito espaço na mídia sobre a questão do tráfego aéreo? Por acaso isso é problema que afete toda a população? Pouquíssimos brasileiros andam de avião. Por outro lado, quando acontece de se reajustar tarifa de ônibus, simplesmente dizem, com dois, três dias de antecedência, vai subir para tanto, aí sobe e não se toca mais no assunto.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

falo mas não digo

(pelo menos por enquanto...)

Sempre que me acontece algo "estranho", procuro você.
Estou balançado por bem-sei-o-quê e quero saber como você está se virando.
Se está bem, se tem seus probleminhas.
Se a vida vem lhe pregando das suas. Também (?)
Se posso ajudar.

Altruísmo é o cacete. Quero minha recompensa.