quarta-feira, 25 de outubro de 2006

ismos

Há pouco apropriei-me
de palavras litúrgicas
- da doutrina dominante -
e afirmei, ou antes pedi:
dizei uma palavra
e serei salvo.
Mas agora penso...
e se sou eu
aquele a quem cabe
o cabalístico dizer?
Todos fazemos o que não se deve.
E é o que somos.

terça-feira, 24 de outubro de 2006

de dois, inúmeros

Lula e Alckmin adoram números. Os dois candidatos procuravam, a todo momento, fundamentar suas críticas mútuas com dados numéricos. Alguns pareciam incompreensíveis até para quem os citava, mas uma ou outra pesquisa era mais acessível.
Em dada ocasião, Lula acusou Alckmin de aumentar os impostos de x para y por cento durante sua gestão em São Paulo, sendo x e y números decimais com duas casas após a vírgula. O candidato do PSDB, que vem insistindo em sua promessa de baixar impostos - seriam os tucanos republicanos? - replicou com palavras similares a estas:
"Queria que o candidato me dissesse o nome de um imposto que aumentei. Eu posso citar duzentos que mandei abaixar."
Números que não valem nada. Levá-los a sério, bem como tantas outras coisas ditas ao longo desta campanha eleitoral, é bobagem. A menos que se abstraia o contexto, com a intenção de ver o lado engraçado.

polêmica

Deu na CBN. Era uma discussão que peguei pela metade.
Uma senhora, cansada de testemunhar ataques de bandidos a pessoas em filas (INSS? deve ser), resolveu tomar uma atitude. Arranjou um revólver e, diante de novo assalto, ameaçou o criminoso. Como resultado, este foi preso, assim como a mulher. Ela não tinha porte de armas, e aquela que portava, pertencente à filha, estava em situação irregular.

abstinência

Devido a circunstâncias alheias à minha vontade (malditos..) quase não tenho acessado a Internet nos últimos dias. Dá para imaginar este rato sem computador? Desnecessário dizer que isto me prejudica. A rede é minha principal fonte de notícias. Para compensar, tenho ouvido a CBN sempre que possível, em casa. Mas apenas isto não basta: vejam, esqueci-me do debate Lula/Alckmin de ontem, na Record. Uma conversa rápida me pôs a par da atração televisiva poucas horas antes de sua transmissão. Algo assim jamais aconteceria se eu estivesse usando Internet da forma habitual.
Os supérfluos necessários, por assim dizer, andam ainda mais esquecidos. Não leio e-mails desde sábado (!) e minha última conversa via MSN data do dia anterior. Notícias e artigos sobre quadrinhos também deixam saudades.
E o blog? Fosse algo físico, teria bastante poeira acumulada agora. Há textos prontos aguardando postagem, e outros que sequer foram digitados.
Essa situação muda hoje. Vou à luta! Pelo direito ao ócio virtual.

(O tom jocoso desta última frase é notório, certo? Nâo? Aimeudeus.)

quarta-feira, 18 de outubro de 2006

clique

Triste é quem não consegue rir de si mesmo.
Lugar-comum? Concordo. Mas teve uma hora no dia de hoje em que isso fez tanto sentido...

terça-feira, 17 de outubro de 2006

sinfonia de outubro

Há algo diferente soando a meu redor.
Ainda há pouco, chovia, e nada se ouvia além da água a atingir o chão, os telhados, tudo que lhe interrompesse a queda.
E quando a chuva por fim cessou, quando se esperava um momento de total silêncio, surgiu um novo som. Não é som da natureza, como água caindo. Curioso, busco ouvi-lo mais atentamente, saber do que se trata.
Logo o identifico. É música.
Essa canção, eu a percebo como o primeiro movimento de uma peça orquestral inédita. Poucos instrumentos são necessários para sua execução. Eles cantam docemente. Apenas o começo.
Antes da música, já havia outro som. Os músicos afinavam seus instrumentos antes da grande aparesentação. Isso, porém, levou tempo. A espera me deixou inquieto. Aquilo não era música! Parti, e foi como se deixasse minha poltrona na sala de espetáculos sem intenção de retornar. Não demorou para que a chuva caísse, encobrindo qualquer outro ruído.
Agora, a introdução de uma obra sinfônica. Avidamente aguardo o que virá a seguir. Melodias leves, agradáveis, como boas conversas. Trechos tensos, toda a orquestra em fortíssimo, acordes dissonantes. Ah, talvez um grandioso tema capaz de ecoar na mente por um bom tempo, ainda que seja executado uma única vez durante toda a peça.
Gosto de pensar nessa última possibilidade. Mas, acima de tudo, alegra-me saber que há, de fato, música soando aqui. Não estou ouvindo demais: é uma agradável surpresa.

segunda-feira, 9 de outubro de 2006

mudanças e o tempo

Noite de domingo. Uma nova semana está para começar. Mais um ciclo, pequeno ciclo, em nossas mensuráveis vidas humanas.
Quando um novo e marcante ciclo se inicia, é quase natural fazermos planos, em conformidade com nossos anseios - pense nas resoluções de Ano Novo. Anseios capazes de refletir pequenas, ou grandes, frustrações. Antes de tudo, desejamos que tudo dê certo dessa vez, desejamos afastar o sofrimento.
Planos para a semana, daqueles grandes, para mudar completa ou significamente a vida, não são assim tão usuais. Uma pequena mágoa a ser curada, uma rua diferente a ser tomada no trajeto para casa, preencher novos horários; eis mudanças comuns entre uma semana e outra. Talvez boa parte de nós considere esse espaço de tempo curto para levar a cabo decisões impactantes. Um pensamento saudável, de que nem todos compartilham. E dói.
Na natureza, tudo são processos. É bobagem marcar data para a felicidade chegar. As coisas ocorrem a seu tempo, o qual pode parecer extremamente lento para nós, seres apressados, por vezes ultralógicos. Acostumados à obrigação de cumprir prazos sempre e a todo momento, queremos impor essa mesma rigidez a aspectos não-práticos da vida. Porque não somos atendidos como e quando requisitamos à indomável fortuna, nascem as frustrações. E, pobres, sentimos a passagem do tempo como a de um rolo compressor sobre as cabeças aos brados de "quando serei feliz?', "por que tanta desilusão?", e outros.
O remédio: trabalhar continuamente até a causa do desassossego na vida ser dirimida. Sem prazos, sem neuroses. Sem buscar milagres. Isto, sim, parece adequado para uma semana. Esta que começa, e tantas outras forem necessárias.

***

Nossa, não era nada disso que eu pretendia escrever ao pegar caderno e caneta. Para dizer a verdade, eu estava no time dos desesperados. Não planejaria esta minha semana em função de prazos por puro pessimismo. E agora...passou. Mesmo. Bom, basta ler o texto aí em cima para perceber.
Não vou deixar de escrever jamais.

***

Olha, o link que vou passar a seguir não tem nada a ver com o que escrevi até agora, mas eu não estava a fim de criar um novo post só para esta matéria do UOL. Entendam como um serviço do tipo "conheça seus políticos". Conheçam e sintam sua cara cair...

quinta-feira, 5 de outubro de 2006

carmen (bizet)

Scène X

10. Chanson et Duo

Carmen (avec intention en regardant souvent Don José qui se rapproche peu à peu)

Près des remparts de Séville
chez mon ami Lillas Pastia,
j'irai danser la seguedille
et boire du Manzanilla,
j'irai chez mon ami Lillas Pastia.
Oui, mais toute seule on s'ennuie,
et les vrais plaisir sont à deux;
donc pour me tenir compagnie,
j'ammènerai mon amoureux!
Mon amoureux!.. il est au diable!
Je l'ai mis à la porte hier!
Mon pauvre coeur, très consolable,
mon coeur est libre comme l'air!
J'ai des galants à la douzaine;
mais ils ne sont pas à mon gré.
Voici la fin de la semaine:
qui veut m'aimer? je l'aimerai!
Qui veut mon âme? Elle est à prendre!
Vous arrivez au bon moment!
Je n'ai guère le temps d'attendre,
car avec mon nouvel amant
près des remparts de Séville,
chez mon ami Lillas Pastia,
j'irai danser la seguedille
et boire du Manzanilla,
dimanche, j'irai chez mon ami Pastia!

quarta-feira, 4 de outubro de 2006

agora sim...sobre as eleições

(as palavras pensadas que fiquei devendo...texto em "germinação" desde dois dias atras)

São Paulo, manhã de segunda. Nada de sol. O céu está tomado por nuvens, de onde cai uma chuva fina e intermitente. Faz frio, como é praxe quando há garoa. Isto pode soar clichê, mas, em virtude dos fatos tristes do dia anterior, parece que até mesmo o dia acordou carrancudo.
Eleição e copa do mundo tem suas semelhanças. Esses dois eventos mobilizam a nação, por mais que sempre haja quem deseje não se envolver de forma alguma com eles. Dentre os participantes, há favoritos e azarões, há odiados e respeitados. Há torcida, a favor e contra. Há expectativa. A diferença entre a festa do esporte e a da democracia é que, na última, um bom desempenho não depende apenas onze protagonistas, muitos entre os quais mais interessados no dinheiro a ser ganho ou nas mulheres que poderão conquistar ao longo da carreira. O sucesso, ou fracasso, de um ideal politico, ou do ideal de um politico, está nas mãos dos eleitores. E esses são milhões, milhões de pessoas, tão iguais, ao contrário dos futebolistas, poucos e dotados de talento ímpar. Os eleitores são iguais, pois têm acesso aos mesmos dados sobre todos os postulantes. O uso dessas informações é livre para cada indivíduo, mas, aqui entre nós: a partir de algumas delas, poderiamos esperar que se desenvolveu um senso comum capaz de nos fazer dizer "não!" a quem sequer deveria se lançar candidato.
Contudo, pessoas comuns, gente como a gente, perpetuaram comportamentos imperdoáveis, incompativeis com o grau de esclarecimento que se espera após vinte anos de democracia e boas frustrações. Assim, foram eleitos - em alguns casos, reeleitos, pior ainda - costumazes corruptos, auto-proclamadas "celebridades" e eternos caciques ultraconservadores, ou seus representantes. Somos todos povo, gente sofrida que se diz cansada de um Brasil ao mesmo tempo rico e pobre. Não é fácil explicar os resultados das urnas.
A seleção brasileira, perca à vontade, mesmo os mais fanáticos logo se aquietam, pois isso em nada afeta nossas vidas de fato. Já os resultados da votação de domingo têm o amargo sabor de uma goleada aos que torcem por nosso pais. E seu efeito é duradouro, quatro anos no minimo, ao final dos quais mais uma vez seremos chamados a escolher quem nos representará, entre dignos e indignos.
À tarde, o sol voltou a aparecer. Pode-se pensar que alguém acima de nós ainda crê em nossa capacidade de aprendizado, mesmo a base de bordoadas. Aqui, em terra firme, muitos estão profundamente decepcionados. Esses continuarão a enxergar os dias bonitos lá fora, mas, ao se perguntarem sobre o que esperar daqueles que nos governam, tudo ficará cinza, feio, nublado.

segunda-feira, 2 de outubro de 2006

animo-me!

Vou participar de um pequeno coral que apresentará o Messias de Haendel acompanhado por uma orquestra de câmara. O concerto acontecerá no dia 9 de dezembro, às 20:30, no Mosteiro de São Bento, em Vinhedo.

domingo, 1 de outubro de 2006

ao povo brasileiro (essa era a intenção)

Já temos os resultados, parciais ou totais, das eleições de hoje. Estou triste. Mesmo. Por meio deste post, em princípio, eu manifestaria minha indignação, sem me preocupar em parecer rude ou desrespeitoso. Em vez disso, porém, calo-me. Neste momento, meu corpo e minha mente precisam de repouso. Mas não fica assim...uma vez descansado, prometo - e não como um político faz - pensar em palavras melhores sobre o que não pode deixar de ser mencionado sobre hoje.
Ainda desejo a todos uma boa noite.