sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

natalinas

Já há alguns meses o lixeiro só passa na rua de casa bem tarde, por volta das duas da manhã - consegui conferir uma vez. Eu já vinha pensando, se bobear, ele fica sem caixinha de natal. Mas hoje, dia da véspera, o caminhão apareceu perto das oito, o horário antigo, recolhendo resíduos e o dinheirinho dado de bom coração. Nada mais certo, aliás: seria muita sacanagem colocar o pessoal pra trabalhar nesta madrugada, longe de suas famílias.

***

Um dia desses encontrei tudo revirado em casa, estavam desmontando móveis para levar embora. No chão, uma peça de outros tempos: uma máquina de escrever, mais precisamente uma Olivetti Lettera 82. E tem mais: ela foi um presente de Natal. Falo muito sério. Eu tinha oito anos quando pedi uma máquina de escrever. Ganhei esse modelinho clássico e portátil: ela vinha com uma tampa e uma vez fechada, podia ser carregada como uma valise. Claro que não era exatamente leve, né?
Mas calculem a criança nerd que fui, pedindo um presente desses!
O engraçado é que nunca me interessei em estudar o método de datilografia que vinha junto com a máquina e nem me lembro de ter escrito algo memorável com ela. Mas se você me perguntasse o que eu ia ser quando crescesse, a resposta estava na ponta da língua: escritor. Aliás, já falei disso por aqui, há alguns anos, quando eu...escrevia muito mais.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

os filhos dos sem-teto sofrem, sim. mas a culpa não é dos pais

Quem me segue no Twitter deve saber que tenho acompanhado o caso de um grupo de sem-teto que está acampado em frente à Câmara Municipal. Para os que não sabem da história, aí vai um resumo.
O grupo é ligado à Frente de Luta por Moradia. Meses atrás, a FLM organizou a ocupação de quatro prédios ociosos no centro de São Paulo. Dois desses edifícios tiveram reintegração de posse decretada, num intervalo de poucos dias entre uma decisão judicial e outra. O primeiro grupo desalojado ficou numa praça próxima à Câmara. Lá permaneceram ali por três dias, da mesma forma pacífica que antes haviam deixado o prédio, até serem expulsos pela Guarda Civil Metropolitana com bastante truculência. Foram utilizadas até mesmo bombas de gás. Ato contínuo, os sem-teto foram para a frente da Câmara, para prosseguir pressionando o poder público por medidas que viabilizem a moradia popular no centro, bem como se proteger de novos ataques.
(No dia seguinte, eu vi crianças com os olhos inchados. E não era de insônia.)
Um segundo grupo juntou-se a eles alguns dias mais tarde, após execução de ordem judicial em outro prédio ocupado. E a sede do Legislativo municipal encontra-se ocupada já há duas semanas. O que a Prefeitura ofereceu até agora foi rechaçado pelo grupo, por se tratar de paliativos e/ou soluções que não contemplassem a todos os acampados.
Há muitas famílias ali, algumas com crianças bem pequenas. O Ministério Público vem discutindo uma maneira melhor de ampará-las enquanto o acampamento/protesto prossegue. O tempo instável dos últimos dias preocupa: calor intenso e chuvas idem. Esse é o foco de uma reportagem publicada hoje no jornal Diário de S. Paulo.
Não a leiam agora, porém...não sem antes chamarmos atenção para alguns pontos.
"Agora que estamos aqui, num lugar que muitas pessoas olham, dá para elas terem uma ideia de como é duro viver sem casa", diz um dos acampados, conforme publicado. Ou seja, essas pessoas estariam sujeitas a tais dificuldades onde quer que estivessem. Elas não têm onde morar. Sob as tendas improvisadas diante da "Casa do povo paulistano", esses problemas estão bem diante dos olhos de todos, é uma situação que não pode ser facilmente ignorada. A questão da invisibilidade social é abordada diretamente na matéria, o que é algo bastante positivo.
Mas é de um jornal paulistano que falamos, um porta-voz do pensamento conservador local. Como tal, o Diário não perdeu a chance de tentar desqualificar o movimento e seu modo de reivindicar. A leitura é evidente logo no título da reportagem - "Crianças na rua por protestos dos pais" - e em outras passagens no texto, entende-se que os pais submetem as crianças a condições de vida similares às de um mendigo.
Já ouvi gente dizendo que os acampados estariam "usando" os filhos para chamar atenção, despertar piedade. Mas não ocorre às pessoas que tem essa opinião o seguinte: a situação calamitosa e digna de pena seria a mesma na porta da Câmara, num barraco em encosta de morro ou alagado e isolado de tudo num Jardim Romano da vida.
A ação da FLM pressiona as autoridades a sair de seu imobilismo habitual, além de oferecer aos demais cidadãos a oportunidade de pensar sobre o processo de exclusão na metrópole - a mídia deveria tomar parte nesse debate.
Mesmo apresentando alguns momentos de bom senso, a matéria do jornal ainda é enviesada. Assim, ela serve para amplificar o discurso retrógrado que muitos possuem em relação a movimentos sociais e a suas bandeiras. Mas não falta por aí conservador que é mal informado, que não enxerga a situação além de uma perspectiva limitada a partir da qual é fácil chamar de manipulador (ou coisa pior) quem tem uma causa, por mais justa que seja. O jornal não colabora de fato para uma nova visão dos fatos. As ideias sobre nossa realidade não mudam, o que é bastante propício para um governo municipal que praticamente nada faz para promover efetiva inclusão social e não recebe por isso as devidas críticas de alguns setores da imprensa local (por quê?)
Bem a calhar vem esta matéria mais correta de um outro jornal paulistano, o Jornal da Tarde, também de hoje, que afirma categoricamente que o número de domicílios vagos em São Paulo resolveria o atual déficit de moradia - e ainda sobrariam casas!
Agora sim, após todas essas precauções, segue o link para a matéria do Diário.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

a culpa é do pedestre

Segunda feira passada eu estava atravessando uma avenida próxima de casa para pegar o ônibus , na faixa de pedestres e o farol verde para mim. Foi quando quase fui atropelado. Era um trecho em linha reta, nada havia que pudesse obstruir a visão da motorista quase homicida de forma alguma. Passou o vermelho, e quase me passa por cima, porque quis.

Mais cedo, no mesmo dia, eu estava num outro ônibus e passei por uma mulher caída no chão que não compartilhou de minha sorte. Um motoqueiro a atingiu em cheio. Ela estava perto da faixa de pedestres e de um ponto de ônibus. Carros e coletivos mal se mexiam, ocasião em que, bem se sabe, os motociclistas cortam o corredor entre as pistas de rolagem a toda velocidade, buzinando contra quem se mova em seu caminho - ou passando por cima mesmo, ao que me pareceu com o episódio de hoje.

Nas duas ocorrências, usando o impessoal termo das autoridades, vozes se ergueram a mim responsabilizando o pedestre, e somente ele, pelo que houve. Na primeira - em termos cronológicos - um amigo meu; na outra, o motorista de um ônibus parado no farol enquanto eu ainda atravessava meio atordoado e meio emputecido veio me passar sermão. Ele não tinha nada com o caso e ainda veio me culpar por minha quase morte.

Por que é tão fácil responsabilizar o pedestre por algo de que ele é vítima?

Os automóveis se impuseram nas ruas de tal maneira que não faltam motoristas a se julgarem senhores absolutos delas. Aquele que se coloca no caminho desse tipo de condutor é visto com hostilidade e se torna vítima em potencial, mesmo que se trate de um inofensivo pedestre atravessando em local indicado e onde ele possui teórica preferência. Some-se o comportamento "carrocrata" vigente à frustração de ter um automóvel - que deveria garantir mobilidade e independência - e não conseguir andar devido aos congestionamentos e está completo o quadro: a "afronta" de fazer o motorista perder dois segundos da vida pode custar caro.

(O caso dos motociclistas: eles existem hoje aos tantos porque as ruas estão tomadas de carros. Eles trafegam, então, pelo espaço vago entre as vias entupidas. Talvez por isso aceitem ainda menos terem de ficar parados, ou mesmo reduzir a velocidade.)

Não digo que não haja pedestres que abusem da sorte, mas generalizar é uma tolice que não resiste a uma breve análise das condições de tráfego em nossas cidades para quem está a pé: calçadas em péssimo estado e escassez de pontos seguros para travessia, nos quais se espera às vezes por um longo período até o momento de seguir em segurança.

O tratamento desigual prossegue nas medidas estabelecidas para educação no trânsito. Repetimos a todo instante, olha o carro!, tão internalizados estão os avisos de que o pedestre deve aguardar sua vez. Mas aí o motorista se impõe e a vez nunca chega. Dificilmente alguém para o carro diante de uma faixa de pedestres não semaforizada. Ou mesmo reduz a velocidade em pontos de ônibus, de onde se supõe que pessoas possam vir a qualquer momento. Aí, acabam ocorrendo "acidentes" como o da semana passada.

Nem o verde para a travessia de pedestres é respeitado, ao menos não de imediato. Coisa corriqueira é algum engraçadinho furar o farol assim que ele fecha.

Como resultado, a pessoa andando por aí tem mais chance de se sentir acuada em qualquer circunstância, e não de bancar a valentona e "louca" como muitos podem achar.

Deslocar-se pela cidade a pé não deveria ser uma questão de vida ou morte. Somos pedestres muito antes de nos tornarmos motoristas. O uso do carro jamais abolirá o caminhar pelas ruas por completo. Regras para uma convivência pacífica devem ser seguidas por todos, não somente por aqueles que se encontram em situação de maior vulnerabilidade por não disporem de uma máquina potente e, sim, potencialmente letal. Condutores também devem se sentir responsáveis, em vez de se julgarem membros de uma hipotética casta superior que jamais erra.

domingo, 17 de outubro de 2010

delicadeza (maria rita kehl)

Reproduzindo, a seguir, o excelente texto Delicadeza, da psicanalista Maria Rita Kehl, ex-colunista do Estadão. (clique aqui para saber do lamentável motivo de sua demissão)

Aqui, a autora trata de um fenômeno que parece certo em São Paulo: o fim da chamada vida de bairro, em que os vizinhos se conhecem, pois o mercado imobiliário, sob as bênçãos da prefeitura, está construindo cada vez mais desses prédios de apartamentos que incentivam a uma vida cada vez mais impessoal dentro da cidade, que deveria ser o lugar de convívio por excelência.

Delicadeza

15 de maio de 2010 | 0h 00

MARIA RITA KEHL - O Estado de S.Paulo

Se eu fosse Deus e se eu existisse, executaria em São Paulo uma prosaica providência administrativa. Tombaria a cidade inteira pelos próximos dez anos: como está, fica. Não se derruba mais nada, não se constrói mais nada. Tratem de melhorar a cidade que já existe: monstruosa, desigual, mal planejada e mal cuidada. Se é para movimentar dinheiro, invistam-se nos espaços públicos: ruas, praças, jardins, calçadas, iluminação, centros de lazer, prevenção contra enchentes - tudo o que faz, de um amontoado de moradias, algo parecido com a magnífica invenção humana chamada cidade. Investir em urbanidade também dá retorno financeiro.

Vista assim do alto, do ponto de vista celeste, São Paulo mais parece uma cidade bombardeada. Imensas crateras em todos os bairros, quarteirões de casas derrubadas, populações pobres jogadas de lá pra cá à procura de lugar para criar novos campos de refugiados de onde serão expulsas pouco tempo depois. Inundações, trânsito bloqueado, gente desesperada presa dentro dos carros parados, gente enlouquecendo pela dificuldade de tocar o dia a dia. Gente que sente no corpo e na alma os efeitos de viver sob uma cúpula negra de poluição que só se vê de cima. Parece uma guerra, mas é só o capitalismo: bombando, enriquecendo alguns e empobrecendo o resto. Enquanto a cidade se torna infernal, se oferece aos que podem pagar o lenitivo de viver numa torre, bem acima do chão, de onde se finge escapar da realidade urbana. O uso novo-rico da palavra torre substituiu as obsoletas "edifício" e "prédio", além da simpática e infantil "arranha-céu". Nas histórias de fadas, a torre era o lugar onde se encarceravam as princesas. Privilégio em São Paulo é viver encerrado numa torre.

Mas como parar todos os negócios imobiliários da cidade? E a economia? E a geração de empregos? Digamos que, se eu fosse Deus, daria um jeito nisso. Se uma prefeitura rica como a nossa, em vez de se tornar cliente de um setor poderoso, investisse os impostos que recebe em outras atividades, em pouco tempo a cidade recuperaria sua pujança. Digamos que seja possível planejar um pouco a economia municipal. Só assim deixaríamos de ser reféns de quem já detém poder econômico. Dez anos são menos que uma fração de segundo pra quem vê o tempo do ponto de vista da eternidade. Mas quem sabe, tempo suficiente para que a cidade pudesse eleger uma nova prefeitura e uma câmara dos vereadores livres de compromissos com o poderoso Secovi, maior sindicato de comércio imobiliário da América Latina.

Mas - em nome de que Deus faria uma coisa dessas? Em nome de que impediria a cidade de, digamos - "crescer"? Não, Deus não precisaria ser socialista. Nem urbanista. Bastaria agir em nome de um valor que está presente em todas as perspectivas sagradas, religiosas ou simplesmente humanistas: em nome da delicadeza. Bastaria considerar que as cidades não existem para impressionar e oprimir as pessoas, mas para ampliar a esfera da liberdade, das possibilidades e daquilo que se costuma chamar de urbanidade.

Nesse ponto convido o leitor a trocar a vista aérea de São Paulo pelo ponto de vista pedestre. Basta descer um pouco do carro e passear a esmo pelas ruas. Se achar a proposta muito mixuruca, finja que é Baudelaire flanando por Paris no século 19, tentando captar o que sobrou da antiga cidade depois da monumental reforma executada por Haussmann a mando de Napoleão III. Ou finja que você é o João do Rio, cronista da capital brasileira reformada por Pereira Passos. A diferença, claro, é que essas duas enormes destruições/reconstruções urbanas foram planejadas visando a modernizar o espaço público, enquanto hoje a construção civil compra o poder público e faz literalmente o que quer em nome do interesse das pessoas, isto é, do mercado. Parece que o mercado é igual à soma das vontades das pessoas. Não é. O que chamamos mercado é um dispositivo formado por poucos, porém grandes interesses, que se impõe às pessoas de modo a determinar o que elas devem querer.

O que será de uma cidade que destrói todas as suas reservas de delicadeza, de graça, de modéstia? Caminhe um pouco pelas ruas de seu bairro em busca dos cantinhos que ainda não foram devastados por alguma obra grandiosa e brega. O que será de uma cidade sem varandas? Sem janelas dando para a rua - e o gato que espia pelo vidro de uma delas? O que será de nosso convívio diário numa cidade sem o pequeno comércio da rua, responsável pelo território coletivo onde as pessoas aos poucos se conhecem, se cumprimentam, conversam? Uma cidade sem zonas de familiaridade? O que será de uma cidade sem as vilas com casas antigas onde o pedestre entra sem passar por uma guarita e encontra um micro-oásis de sombra e silêncio? Sem a minúscula pracinha que sobrou numa esquina onde se esqueceram de construir outra coisa? Procure os lugares em que ainda seja possível o encontro entre o público e o privado, o íntimo e o estranho, o desafiante e o acolhedor. O que será de uma cidade que é pura arrogância, exibicionismo e eficiência? O que será de nós, moradores de uma cidade que despreza a vida urbana?



segunda-feira, 27 de setembro de 2010

vídeo - intervozes - levante sua voz

O curta é uma espécie de "Ilha das Flores" das comunicações brasileiras e mostra de uma maneira bem elucidativa que se deve tomar o maior cuidado com as matérias que a nossa "grande imprensa", mais notadamente Globo, Veja e os jornais de grande circulação, veicula todos os dias.

É assistir e pensar sobre.



Intervozes - Levante sua voz from Pedro Ekman on Vimeo.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

passeio socrático (frei betto)

PASSEIO SOCRÁTICO

Frei Betto

Ao viajar pelo Oriente mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão.

Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: 'Qual dos dois modelos produz felicidade?'

Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: 'Não foi à aula?' Ela respondeu: 'Não, tenho aula à tarde'. Comemorei: 'Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde'. 'Não', retrucou ela, 'tenho tanta coisa de manhã...'. 'Que tanta coisa?', perguntei.. 'Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina', e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: 'Que pena, a Daniela não disse: 'Tenho aula de meditação!'

Estamos construindo super-homens e super-mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados.

Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias!

Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: 'Como estava o defunto?'. 'Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!' Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?

Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual.. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizi­nho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual. Somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. E somos também eticamente virtuais...

A palavra hoje é 'entretenimento'. Domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela.

Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: 'Se tomar este refrigerante, calçar este tênis, ­ usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!'

O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba­ precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.

O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor..

Aliás, para uma boa saúde mental, três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.

Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shoppings centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...

Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas.

Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do Mc Donald...

Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: 'Estou apenas fazendo um passeio socrático'. Diante de seus olhares espantados, explico: 'Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia:´Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz!"

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

o casamento de lisa simpson

O nome de Lisa Simpson está nos Trending Topics do Twitter nesta manhã. De início achei que se tratava de alguma celebridade instantânea homônima, mas uns dois cliques logo trouxeram esclarecimento e alívio: era a Lisa "correta". O que deixou este nerd saudosista contente de verdade e ainda motivou este post foi saber o motivo da referência. O dia de ontem foi o dia do hipotético casamento de Lisa, num futuro alternativo retratado no episódio da sexta temporada de Os Simpsons chamado, bem, O Casamento de Lisa. (clique para ver o "convite")

Hoje sequer me lembro de que os Simpsons ainda estão no ar com episódios inéditos - a série simplesmente não me atrai mais, seu tempo passou. À época do episódio em questão, entretanto, valia, e muito, a pena aguardar pela nova situação inusitada que a família iria viver.

A estréia de O Casamento de Lisa para o grande público brasileiro em tempos de TV a cabo pouco difundida - "legal" ou não - e com a internet ainda engatinhando foi no SBT. Sim, os Simpsons passaram pela emissora de Silvio Santos, e mais surpreendente, ia ao ar durante as noites de terça e quinta, fazendo o horário nobre ser digno do nome por um instante. O ano da primeira exibição do episódio foi 1997 ou 1998, não me lembro ao certo.

Durante uma feira renascentista, Lisa persegue um coelho branco (insira simbologia de sua preferência) e acaba encontrando a tenda de uma vidente, que lhe mostra o ano de 2010, data de seu possível casamento. O noivo é um inglês, fino, rico e educado, o total oposto dos Simpsons. Lisa sente vergonha de apresentá-lo à família, esperando um desastre que em muito se confirma. No dia do casamento, Hugh, o noivo, diz que os dois se mudarão para a Inglaterra e os Simpsons não poderão visitá-los. Lisa diz que não pode abandonar sua família e que Hugh não entende seu amor por eles, abandonando-o no altar.

Há no episódio um equilíbrio entre humor e emoção que o torna memorável. Conhecer o destino dos personagens da série nesse futuro alternativo garante boas gargalhadas. Por outro lado, a história do casamento que não se realiza é muito bem contada. A decisão de Lisa não soa óbvia, no sentido de ser gratuita: há diálogos interessantes dela com Homer e com Marge que justificam plenamente o fato de que ela simplesmente não poder deixar sua família para trás.

Ma minha opinião, é um dos melhores episódios de Os Simpsons.

domingo, 20 de junho de 2010

zíper na boca e o primo do bach

Para relembrar o meu tempo no Coral Unicamp Zíper na Boca, que fez um concerto especial para comemorar seus 25 anos de atividades (e que eu fiquei morrendo de vontade de assistir...)
Em tempo, Johann Ludwig Bach foi primo de Johann Sebastian Bach, e não um dos seus muitos filhos, como eu havia dito anteriormente. #fail


Por Danilo Demori

achei esses dois links de duas peças maravilhosas de outros tempos do Zíper.
Para os Ziperianos novos e antigos, curtam bastante...


Johann Ludwig Bach - Das ist meine Freude



Johann Ludwig Bach - Unsere Trübsal (nota minha: esta saiu do repertório do coro antes de eu começar lá. uma pena!)


sexta-feira, 4 de junho de 2010

nur wer die sehnsucht kennt (tchaikovsky)



Música de Pyotr Illyich Tchaikovsky
Peoma de Johann Wolfgang von Goethe


(Ficamos devendo o nome do solista...)


Nur wer die Sehnsucht kennt

Nur wer die Sehnsucht kennt,
Weiss,was ich leide!
Allein und abgetrennt
Von aller Freude,
Seh ich ans Firmament
Nach jener Seite.

Ach!der mich liebt und kennt
Ist in der Weite.
Es scwwindelt mir,es brennt
Mein Eigenweide.
Nur wer die Sehnsucht kennt,
Weiss,was ich leide!

Só quem já sentiu saudade

Só quem já sentiu saudade,
Quanto sofro há de entender:
Sozinha aqui, longe vivo
De todo e qualquer prazer.
Nos céus meu olhar fixado,
Um só lado quer rever.
Ai! Quem me ama e de mim sabe
Mui distante foi viver.
O tempo todo estonteada,
As entranhas a me arder:
Só quem já sentiu saudade,
Quanto sofro há de entender!

quinta-feira, 3 de junho de 2010

leonel brizola vs. rede globo

Infelizmente, não tivemos ainda grandes homens públicos que se manifestassem de maneira tão clara e sem restrições ao poder de manipulação da Rede Globo quanto o falecido Leonel Brizola, político que, não por acaso, tem péssima reputação entre o público mais conservador, ou simplesmente não muito bem informado.

Brizola havia sido exilado pelo regime militar. De volta ao Brasil, foi candidato ao governo do Estado do Rio de Janeiro, em 1982. Seu favoritismo era inegável, menos para a Globo, que apontava a vitória do candidato pró-regime militar. A empresa que apurou os votos na eleição tinha em seus quadros pessoas ligadas ao regime, e os resultados quase foram fraudados. No fim, a farsa foi descoberta, e Leonel Brizola foi eleito. A Globo foi acusada de participar do caso. (*)

A perseguição da emissora a Brizola prosseguiu por muitos anos. Mas o político não fugiu da luta, e durante seu segundo mandato como governador do Rio, conseguiu um direito de resposta contra a Globo por um ataque particularmente feroz. O direito de resposta foi lido durante o Jornal Nacional, por ninguém menos que o próprio Cid Moreira, a voz mais marcante que já passou pelo JN. E a Globo foi obrigada a proferir a verdade a respeito de si mesma e de seu dono, Roberto Marinho em rede nacional - pela primeira e, até então, única vez.







(*) Saiba mais: leia sobre o caso Proconsult e confira o trabalho de apuração dos fatos, muitos anos depois.

expansão sp: cada vez melhor?

Ah, resolvi compensar a falta de posts por aqui trazendo o texto que publiquei no blog desabafo_sp para cá.


Expansão SP: cada vez melhor?


O Expansão SP é, segundo o próprio governo do Estado, o maior programa de investimento em transporte público jamais realizado em São Paulo. Prometia novas estações, novas linhas e renovação da frota, tanto no Metrô quanto na CPTM.

Os esforços para promovê-lo foram expressivos. Cada novo trem em circulação era anunciado com alardes em todas as estações. Até agoora, porém, somente algumas linhas receberam s novos desde então, mais destacadamente a linha 2 do Metrô, que cruza a Avenida Paulista, e a linha 9 da CPTM, paralela ao Rio Pinheiros. (Esta última teve estação reformada sendo inaugurada como nova, dias atrás.)

Não parou por aí. Linhas e estações cujas obras sequer haviam começado a ser construídas eram anunciadas, não só em grandes cartazes nos trens, mas na televisão. Conexões entre trem e metrô que mal haviam deixado a fase de projeto eram alardeadas como solução próxima.

A realidade é bem outra. O ritmo das obras é lento, marcado por constantes atrasos. Na linha 4 do Metrô houve, no mesmo ano de 2007, um grave acidente, que matou sete pessoas, e um erro de cálculo no projeto que fazia com que túneis não se encontrassem. A linha teve o início de operações prometido para o início deste ano, mas ainda não há previsão para o início do transporte de passageiros. Mesmo assim, só duas estações seriam abertas, em princípio.

E a linha 5, que deveria ligar bairros do zona sul de São Paulo a linhas que cruzam o centro, está empacada desde 2002, data de inauguração de seu trecho inicial (Capão Redondo-Largo 13). A primeira estação a ser entregue em anos deve ficar pronta em 2011, segundo o Metrô, que já chegou a prometer a linha inteira operando em 2012. Até lá, na zona sul só se expandem os congestionamentos.

Desnecessário dizer que a situação nos trens continua bastante problemática. O metrô de São Paulo é o mais lotado do mundo. Que o digam os usuários da Linha 3, que atende a superpopulosa zona leste, onde o Expansão SP só chegou em anúncios e um programa chamado “Embarque Melhor”, totalmente indigno do nome. Nada muito diferente se observa na CPTM: trens antigos, superlotados e constantes atrasos de partidas, mesmo em finais de semana.

O que o governo de São Paulo tem feito ainda é muito pouco para os moradores de São Paulo e cidades vizinhas se deslocarem a trabalho ou lazer com alguma velocidade e um mínimo de conforto.

A propaganda paga pelo contribuinte engana e quer vencer pela insistência.

jornal nacional

Já se vão mais de quarenta anos desde que a primeira edição do Jornal Nacional foi ao ar. Desde então, outras opções de noticiários se apresentam na televisão e fora dela e mesmo a audiência do telejornal está em constante queda. Ainda assim, o noticiário da Globo ainda constitui a fonte de informação mais familiar a grande parte dos brasileiros.

O fato de uma única emissora ter a "preferência" - moldada pelo simples costume - de tantos espectadores como principal fonte de informação e, de forma consciente ou não, formadora de opinião já é extremamente chamativo por si só. Em se tratando de um canal de TV com o histórico da Rede Globo, que apoiou o regime militar e tantas outras forças ligadas ao que há de mais atrasado no país, o caso é realmente de assustar.

Assim como a Globo está longe de "sobrar" em qualidade em relação a outras emissoras, o Jornal Nacional não é em nada superior ao que é apresentado em matéria de jornalismo na TV aberta. Sob sua fachada séria e respeitável, em poucos instantes de transmissão revela-se um jornalismo fraco e repleto de vícios.

Os âncoras lêem as notícias de maneira rápida. A assimilação de todas elas exige extrema atenção e boa vontade do telespectador: um movimento em falso e perde-se algo. Na verdade, a sobreposição de manchetes, sem maior aprofundamento, compromete em muito sua assimilação.

(Não é de admirar que a mudança no penteado da apresentadora repercuta mais que qualquer notícia.)

Também não há uma sequência lógica de apresentação das notícias: à menção ao último incidente na política internacional, pode se suceder uma manchete digna de um Planeta Bizarro.

Mas ainda é jornal, ao menos no nome, então sempre há matérias de maior destaque. São, via de regra, temas que permitem a exploração sentimentalista, como crimes e tragédias naturais, mas há outras opções. Tentaremos falar um pouco de cada uma delas.

O jornal carrega no melodrama em casos que rendem comoção do público. Se alguém morre, veremos choro. Se foi assassinato, veremos alguém clamando por justiça. E tome extensa cobertura, repórteres e repórteres falando, mesmo sem nada acrescentar ao assunto, por dias a fio, até o fim ou completo esquecimento do caso. O dito padrão Globo só não permite mostrar sangue.

Quando o JN permite a "discussão" de temas controversos, ele o faz de forma rasa e manipulativa. Um lado tem mais voz que outro, e a opinião do telespectador menos atento ao fim da matéria é aquela que a Globo quer que ele tenha.

Há espaço para o denuncismo, também. O jornal não hesita em repercutir acusações publicadas na revista Veja, que está longe de merecer qualquer crédito em matéria de isenção e seriedade. Tais denúncias quase sempre carecem de confirmação (ora, é a Veja). Ao fazê-lo, a Globo se firma como a grande representante da mídia conservadora e tendenciosa, já que jornais e revistas semanais têm público bem mais restrito.

Neste ano eleitoral, uma sucessão de "crises" e "escândalos" sem fundamento já foi ventilada, em tentativa desesperada de emplacar ao menos um fato negativo que pudesse afetar os rumos da campanha, levantando o moral de seu candidato preferido.

Grande é o destaque do jornal para competições cuja transmissão é monopólio da emissora, como a Fórmula 1 e grandes campeonatos de futebol locais ou aqueles em que a seleção brasileira venha a participar. Na cobertura desta Copa do Mundo, a pieguice e o ufanismo elevados à última potência; o sucesso nesse torneio se torna questão de vida ou morte.

Via de regra, o futebol tem espaço garantido no último bloco. O único espaço realmente definido no jornal vai para o efêmero entretenimento. Enquanto isso, no Brasil e no mundo...bem, tente se lembrar de algo relevante visto no JN depois que ele termina e a novela começa.

Raso, sensacionalista, parcial, alienante: eis os adjetivos que descrevem o Jornal Nacional. Que sua audiência mantenha a tendência em queda e ele seja relegado à insignificância que merece. Por um horário "nobre" mais digno do nome, e pela maior diversidade de visões sobre nós mesmos.

Para encerrar de vez o assunto, aqui vai: um jornal que tenha tornado o nascimento da filha de Xuxa a manchete do dia não inspira a menor credibilidade. E tenho dito.

domingo, 23 de maio de 2010

cantique de jean racine (fauré)

Para um bom domingo: a belíssima Cantique de Jean Racine, de Gabriel Fauré, na interpretação do Cambridge Singers.

Tem até a partitura para aprender a cantar junto, na sua voz ;)





A sugestão foi da Tatiane Olsen, mais uma vez.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

loyola brandão e a falação

Um dos livros cuja leitura mais me arrebatou é brasileiro. Ele se chama Não Verás País Nenhum e foi escrito por Ignacio de Loyola Brandão. A história se passa numa São Paulo de um futuro tão aterrador quanto possível: a especulação imobiliária tomou todo o espaço disponível e destroçou a vida nos bairros, os carros foram proibidos de andar nas ruas porque eles simplesmente não saíam mais dos congestionamentos, o clima é sufocante mesmo à noite. O apocalipse se estende ao país inteiro: a Amazônia se tornou um grande deserto, os governantes mentem, oprimem, matam. E tudo aconteceu basicamente porque deixamos...
É livro para comentar e citar pelo resto da vida. Destaco agora palavras sobre a "falação" que se forma em torno de certos assuntos de relevância, no mínimo, discutível e na qual às vezes embarcamos sem nos dar conta, até o momento em que simplesmente não conseguimos mais ouvir falar sobre o caso e constatamos que tanta discussão não fez a menor diferença...


"Um país onde há séculos se deita falação. Desde a carta de Pero Vaz de Caminha. A falação foi uma característica que os Esquemas souberam capitalizar, introduzindo na psicologia popular. Fizeram com que a falação se transformasse numa cortina de fumaça, encobrindo tudo que fosse possível.

O processo de falação obedece a uma seqüência invariável. Um primeiro momento, o da chamada denúncia. Alguém levanta o problema. Em seguida, uma fase delicada. A das vozes indignadas, governamentais ou não, que se erguem exigindo providências. O terceiro momento requer habilidade.

É a fase das promessas. Garante-se a formação de comissões de inquérito, promovem-se passeatas controladas, editoriais consentidos na imprensa, entrevistas categóricas. Este período é essencial, exige uma avalanche de falação contínua, exacerbada, exasperante. Falar até o total sufoco.

Não deixar ninguém raciocinar. Repisar indefinidamente o assim, até o ponto de completa saturação. Falar, falar até o esgotamento. E então, de repente, ninguém mais pode ouvir sequer comentar as tais denúncias. Elas se esvaziam. (...)

Os sistemas de governo se sucederam, as noções políticas se modificaram, menos a falação. Esta prosseguiu, como tara hereditária.(...)

Veio a Falação. (...) surgiram os protestos, artigos, e falatório contra tudo o que parecia errado para eles. Lutavam, denunciavam, protestavam, organizavam manifestações de rua, assembléias, cortejos, comícios, atos.

(...)

Quando a falação se iniciava, o poder se calava. Por um tempo. Depois, se indignava. Lentamente seus membros passavam a engrossar a fileira dos que contestavam. Até que todos, absolutamente todos, estavam falando.

Enquanto falavam, deixava-se a esperança de que providên­cias seriam tomadas. Era a nuvem de fumaça. As pessoas se esgo­tavam na falação. Cansavam o assunto, esvaziavam. Morria."



Pergunte-se qual é a falação do momento. E por favor, leia Não Verás País Nenhum.



domingo, 16 de maio de 2010

dia do gari

Hoje, dia 16 de maio, é o dia do gari. Foi por acaso que descobri a data, mas é uma informação que vem bastante a calhar.

O gari, esse profissional de vida dura, com a difícil tarefa de manter um pouco mais limpas as ruas da cidade que, por vezes, nós mesmos ajudamos a sujar. Você, que esteve no centro de São Paulo neste final de semana, imagine o trabalho que os varredores não terão ao final de mais esta Virada Cultural. Ainda temos muito a aprender, principalmente no que se trata de respeitar o serviço de uma categoria que muitas vezes tratamos como invisível e do qual só lembramos na hora de criticar.

Ou, pior ainda, para nos colocar acima de um pedestal imaginário, porque não somos aqueles que fazem o "desprezível" trabalho manual, cuja má fama alguns acreditam remontar aos tempos da escravidão.

E o mau exemplo já veio da boca de um conhecido "formador de opinião". Num descuido na parte técnica da Rede Bandeirantes, Boris Casoy mostrou sua verdadeira face, em frases escancaradamente preconceituosas, vergonhosas.

Relembre (ou conheça) o caso agora:







A lição? Sejamos mais humildes e vamos nos policiar para que nossas opiniões não reflitam ideias ofensivas - ainda que o preconceito não esteja tão "na cara" quanto na fala do senhor aí em cima.

Parabéns aos garis por seu dia, e minhas sinceras saudações a todos que realizam seu trabalho de maneira digna.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

duas demolições. só uma é notícia

O metrô de Santo Amaro, a lenda, está de volta à pauta...
O Metrô já vem desapropriando e desocupando alguns imóveis aqui na região. A companhia "escolheu" para suas futuras obras um terreno onde se situava um imóvel grande na avenida Santo Amaro, onde até um tempo atrás funcionava uma casa noturna, para sermos bem eufemistas.
Só para variar, o Metrô fez as coisas meio lentamente, e o imóvel acabou invadido. Moradores da região ficaram incomodados, não sem razão. Seguem links para matérias da imprensa que permitem acompanhar o caso.



E, por fim, foi ao chão.
Outro imóvel foi derrubado, do outro lado da avenida. Esse vinha sendo utilizado como residência já há algum tempo. Eram pessoas pobres, que talvez tivessem elas mesmas invadido a casa, abandonada, por não ter para onde ir. Que terá sido feito delas, agora que o Metrô decidiu tomar seu pedaço de chão para suas obras sem prazo de entrega? Foram para um casa nova? Cabe a pergunta, pois, evidentemente, isso não virou notícia. Talvez não se tratasse de algo que tirasse o sono da "opinião pública".

sexta-feira, 7 de maio de 2010

ubi caritas

Por Tatiane Olsen


Ubi Caritas cantada pelo coro The King's College, Cambridge, é lindo de mais.

Onde há caridade e amor, Deus lá está

Unamo-nos em um único amor em Cristo

Exultemo-nos e alegremo-nos

Temamos e amemos o Deus vivo

E que nosso coração ame ao próximo sinceramente



bom fim de semana

segunda-feira, 3 de maio de 2010

gabriel's oboe

Aqui temos um dos meus coros favoritos, daqueles que tenho muito orgulho em dizer que pude cantar.
O filme A Missão tem trilha sonora composta por Ennio Morricone, músico italiano. A canção mais conhecida do filme é Gabriel's Oboe, posteriormente arranjada para coro a quatro vozes pelo maestro brasileiro Paulo Rowlands, que iniciou a trajetória no canto de muita gente, inclusive deste blogueiro. O texto cantado é uma oração em latim, o Angele Dei (anjo de Deus).
A seguir, a interpretação do coral Rondo Histriae, da Croácia (!) Assista e deslumbre-se. Não deixe de conferir mais do trabalho de Paulo Rowlands em sua página pessoal.


domingo, 2 de maio de 2010

andré fala do expansão sp no blog do @desabafo_sp

Que tal ler um post meu em outro blog?

Clique aqui para ver minha contribuição (que venham mais! rs) ao blog do @desabafo_sp, pessoal de olho na qualidade (?) do transporte nessa São Paulo caótica, caótica. No texto, busquei confrontar a propaganda maciça do Expansão SP com a realidade.

sábado, 1 de maio de 2010

Walt Disney + Salvador Dali

(decidi postar aqui no blog as coisas bacanas que recebo, via email, por exemplo. uma boa ideia pra ter sempre post novo)

Em 1946, Salvador Dalí e Walt Disney decidiram trabalhar juntos em um curta de animação chamado Destino. Infelizmente o projeto foi abandonado com menos de 20 segundos de animação pronta.

Mas, alguém dos estúdios Disney decidiu terminar o projeto baseando-se nos storyboards de Dalí.
O resultado:



Fonte:
http://pepsi.gizmodo.com.br/conteudo/o-encontro-de-disney-e-dali

domingo, 18 de abril de 2010

coca-cola, negócio e arte

Do Portal Luís Nassif

Por Fernando dos Santos Curi

Veja mais fotos como esta em Portal Luis Nassif

quarta-feira, 14 de abril de 2010

a locomotiva sem trilhos

Estou numa campanha heroica para destruir o insensato mito "São Paulo, locomotiva do País". Nada mais oportuno do que falar de transporte sobre trilhos.

Esta saiu no jornal de hoje:

Obra do Metrô descobre trilho de bonde na zona sul

Antes de os automóveis reinarem absolutamente em nossas ruas, e ai de você se ficar na frente deles, o transporte público era realizado por trens, ou por bondes. Uma das justificativas (?) para a aposentadoria dos bondes foi justamente a de atrapalharem o trânsito. O que a prefeitura fez então, à época? Jogou asfalto por cima dos trilhos. Os de Santo Amaro não são os primeiros e nem serão os últimos a serem "reencontrados".
Os últimos anos do bonde, aliás, coincidiram com a construção de diversas avenidas, como a 23 de Maio e as marginais, as freeways, caminhos livres para os automóveis.
Anos depois, o governo acordou para a vida e resolveu expandir a malha ferroviária da cidade, ainda que bem-len-ta-men-te. Ora, tivesse havido algum planejamento naqueles, os pequenos bondes teriam sido substituídos por trens de superfície, e hoje não teríamos de esperar a boa vontade dos nossos atuais governantes para que, por favor, façam com que não percamos uma vida no trânsito e de quebra, sermos transportados com um mínimo de conforto.
Mas na época acharam que asfalto é que era progresso. Ainda tem quem ache...
E se eu for falar do ramal da Cantareira de trem, da qual fazia parte a estação Jaçanã do samba do Adoniran, aí o sangue ferve de verdade. Não é que me asfaltaram uma ferrovia?
Você aí, preso no trânsito, respirando essa coisa tóxica do escapamento do seu carrão, continua achando São Paulo sensacional? Vai fundo. Ou melhor, fique aí nesse anda-para.

sábado, 3 de abril de 2010

ninguém deve seguir esse exemplo

Olha que vexame...Não ligo para futebol, mas não se pode negar que no nosso país os profissionais desse esporte são muito mais representativos como pessoas públicas que muito "formador de opinião" por aí. Não por acaso, estão sempre na mídia. E todo mundo vai saber desse gesto feio. Assino embaixo de tudo que a Luiza escreveu. Escolher a quem ajudar? A vida escolheu vocês, Robinho e compannheiros de time, para se realizarem financeiramente com algo que vocês gostam. E olha a sua retribuição.



Por Luiza Costa de Oliveira


Matéria do jornal ESTADO DE SÃO PAULO de hoje.

Ação beneficente vira estopim de crise no Santos

Recusa de jogadores em presentear deficientes pode ter por trás mais do que motivos religiosos: há problemas no clube





Isso é uma coisa que eu repito muito, esses jogadores de futebol - inclusive do meu time também, devo dizer (e digo, sem problema algum) - devem pensar no que virá na vida deles posteriormente a toda fama e glamour da profissão. Serão gordos barrigudos falando de futebol, como grandes (ou não) comentaristas?? Com sorte vão ficar bem jogando e parando quando quiserVão manter a fama de antes?? Serão esquecidos??


Fisica e mentalmente falando, pois nós que lutamos de outras formas, estudando, ralando, trabalhando - boa parte das vezes em coisas que não gostamos - pra sobreviver e - longe de mim, subestimar o esforço deles, senão não seria uma entusiasta do futebol, não torceria pro meu time, etc. - mas é preciso que eles conheçam, saibam e estudem, inclusive a própria religião mais profundamente. Estudem e no máximo, serão mais esclarecidos.


Antes de tudo, repudio esse tipo de comportamento, socialmente falando, e mais do que católica (que todo mundo sabe que eu sou), eu SOU CRISTÃ, e isso não é uma atitude cristã. Onde foi parar: "Fora da caridade não há salvação"? Tá na Bíblia não tá?? Tá em São Francisco de Assis e nas palavras do Chico Xavier... Qual é o problema?? Jesus não desprezou ninguém, não é???


É ridículo isso, não penso se é problema no clube, imagem, dinheiro, sei lá... o que penso é nas pessoas que estavam lá esperando por seus ídolos (Robinho e cia - CREDO !!!). Isso não é legal, é desrespeitoso - no mínimo. O que esses caras pensam??


Fico muito triste e indignada, por isso mando a mensagem. Desculpem-me a chatice...

os simpsons - o peixe de três olhos


Os episódios dos Simpsons que fizeram a fama do seriado e realmente merecem ser lembrados estão lá atrás, nas primeiras temporadas. Este de que falarei agora é do segundo ano do show.
Bart fisga um peixe de três olhos nas proximidades da usina nuclear da cidade, propriedade do sr. Burns. O fato ganha a mídia e motiva uma inspeção do governo do estado-onde-fica-Springfield. Devido à série de normas de segurança que a usina ignora, Burns é obrigado a reformá-la. Para se livrar da conta, ele tem uma ideia, estranhamente inspirada por Homer: candidatar-se ao governo. Mas é preciso livrar-se do episódio do peixe, coisa que Burns consegue, graças a sua equipe de campanha. O bicho ganha até um apelido carinhoso, Piscadela.
Na campanha, Burns é o típico candidato de uma nota só: brada contra "o que está aí" e na realidade seu único "projeto" são seus objetivos pessoais. Sob a imagem cuidadosamente construída por seus assessores, ele é um plutocrata que odeia os próprios eleitores de quem quer o voto. Nem mesmo ele engole suas próprias histórias, como dito no episódio.
Uma peça fantástica, que muito mostra sobre política em pouco mais de vinte minutos de exibição. Temas como construção e destruição da imagem de pessoas públicas, critério de escolha de candidatos - fará por mim ou fará por todos? - estão lá. (Só faltou a mídia tomar partido...)
Simpsons em excelente forma é televisão em excelente forma. Uma pena o seriado estar longe de seus grandes dias.
Assista antes de votar, e cuidado sempre com o "sr. Burns" da vez.







sábado, 27 de março de 2010

ghost bike




Minha habitual pedalada de final de semana teve destino certo esta manhã: uma homenagem a mais um ciclista morto (assassinado!) nas ruas desta cidade. O sr. Manoel Pereira Torres atravessava na faixa com sua bicicleta, com o sinal aberto para os pedestres, próximo ao viaduto Vereador José Diniz. Um motociclista que passava em alta velocidade no corredor exclusivo de ônibus o atingiu em cheio. Com o impacto, a bicicleta foi lançada contra um poste de aço e dobrou ao meio. Já seu Manoel foi arremessado foi arremessado contra o semáforo, a três metros de altura. Morreu na hora.
A ghost bike é uma bicicleta pintada de branco instalada no local da morte do ciclista. Foram também pintados nos dois lados da avenida os dizeres "devagar vidas", tudo como ação em nome de uma maior tolerância no trânsito e, por extensão, em nossas vidas.
Leia mais a respeito da morte de seu Manoel e desta ghost bike (e de outras) neste post do Vá de Bike. E aprendamos alguma coisa.

terça-feira, 23 de março de 2010

o anjo esquerdo da história

Novamente cito no blog este coro, composto por Gilberto Mendes sobre poema de Haroldo de Campos.
Ocorre-me que já se vão quase dez anos desde que o ouvi pela primeira vez (ah, o tempo passa). Foi numa apresentação do coral Gilberto Mendes, de Valinhos, antes que eu me tornasse parte dele, e tivesse a honra de cantá-la, para grande espanto do coralista iniciante que eu era então. Foi a primeira música que aprendi na nova "casa", e importante demais em muitos sentidos. Divulgar grandes autores brasileiros e passar uma forte mensagem política e humana se revelou um envolvente desafio e cantar cada vez melhor foi aos poucos adquirindo uma importância muito grande, como se eu estivesse percorrendo um caminho que eu estava destinado a traçar...(algo que preciso recuperar atualmente, mas essa é outra história)
Achei uma gravação do Madrigal Ars Viva, do qual o próprio Gilberto Mendes (o compositor, claro) participou, da música. A versão deles tem algumas coisas de que não gosto, umas mudanças de andamento estranhas, mas no geral é boa, e serve para mostrar a todos esta música sobre a qual tenho muito orgulho de dizer que fez parte de minha carreira de coralista - e de minha própria história.


segunda-feira, 22 de março de 2010

Voltaram à mochila lápis, caneta e agenda para notas. Falta apenas a inspiração para voltar a escrever. Virá, se tiver de vir.

sábado, 6 de março de 2010

luiza erundina


Antes de abrir a boca para soltar a confortável máxima "político é tudo igual", conheça um pouco sobre Luiza Erundina. Uma boa oportunidade passou hoje, numa entrevista da deputada federal e ex-prefeita de São Paulo ao programa Provocações.
Por defender o direito a greve de motoristas e cobradores de ônibus em anúncios publicados nos jornais da capital, foi acusada de gastar dinheiro público de forma irregular. Um advogado entrou com ação pública contra Erundina, e ela perdeu. Para quitar a dívida, teve um apartamento e um carro penhorados, e ainda teve de contar com a ajuda de amigos políticos, que organizaram eventos para arrecadar a quantia restante.
Políticos são realmente todos iguais? Em uma cidade que já foi governada por gente como Paulo Maluf e Celso Pitta, Luiza Erundina foi a única prefeita condenada judicialmente.
No programa, Erundina comentou o caso, relembrando sua passagem pela prefeitura da maior cidade do país. Fez questão de frisar as dificuldades que enfrentou sendo o que é - mulher, nordestina e de esquerda. A deputada falou também de suas convicções e perspectivas políticas e pessoais.
Além da íntegra do programa no site da TV Cultura, selecionei mais uns links interessantes. Clique aqui para ler a chamada para a entrevista de Erundina no site da TV Cultura e aqui para saber mais sobre o caso arbitrário que gerou sua condenação.
Também destaco a íntegra de sua participação no programa Roda Viva, em 1988, após a confirmação de sua candidatura a prefeitura de São Paulo. O programa também é excelente exemplo de como a imprensa se comporta com políticos de esquerda, como Erundina, ou que simplesmente a incomodem por algum motivo. Destaco os momentos em que Boris Casoy (tinha de ser ele) questiona se a então candidata acredita em deus e em que a acusa de promover o que chama de invasões urbanas.
A imprensa que demonizou a ex-prefeita desde sua campanha e especialmente durante seu mandato tem muito em comum com a justiça que a sentenciou: ambos selecionam os desvios que querem coibir. Por sua trajetória, por sua orientação política, devido a essa perseguição explícita à sua pessoa empreendida por representantes de um pensamento retrógrado e elitista, Luiza Erundina é uma figura política digna de respeito e confiança. E de voto.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

O carnaval parece a época perfeita para uma boa "limpeza" no blog. Vamos lá.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

ônibus executivo, transporte especial...e o que temos hoje

Falemos com franqueza, o transporte coletivo em São Paulo é ruim. Ruim demais. E piora a olhos vistos. No caso específico de ônibus e lotações, pagam-se absurdos R$ 2,70 para andar feito sardinha em lata - a menos que o passageiro tenha a felicidade de escapar dessa sina nas pouquíssimas linhas não superlotadas da cidade. Mas das ruas congestionadas e das faixas exclusivas e corredores ineficientes, dessas não há como fugir.
Creio que o transporte público sempre tenha sido problemático, com a possível exceção, talvez, da época em que os saudosos bondes circulavam por uma área urbanizada muito, mas muito menor que a de hoje. Algumas soluções de um passado não tão distante cuja lembrança simplesmente me surgiu poderiam dar algumas ideias para atacar o problema.
Trata-se de um tipo de transporte diferenciado, mais confortável que o ônibus ou a lotação comum. Ele ainda existe em longos trajetos intermunicipais. Para transporte específico na cidade de São Paulo, houve no mínimo duas encarnações desse modelo.
(Eu queria enriquecer este post com algo mais que minhas lembranças sobre o assunto, mas não achei nada na internet sobre esses coletivos. Nada.)
Dos ônibus executivos não me lembro muito bem, acredito que não cheguei a entrar em algum deles. Circularam em meados ds anos 80. Recordo-me de uns carros amarelos, com uma única porta e assentos diferenciados, possivelmente de couro. Havia a linha 7192 (Jardim São Luiz-Praça Ramos), que saía das proximidades do Centro Empresarial (conjunto de escritórios mais antigo que qualquer prédio da Berrini), passando pelas avenidas Giovanni Gronchi e Morumbi e seguindo para o centro acessando a avenida Cidade Jardim e seguindo quase em linha reta até a rua Augusta.
Em substituição ao modelo executivo, surgiu na gestão de Luiza Erundina o transporte especial. Na época, ônibus comuns passaram a ser brancos com um "M" cuja cor variava de acordo com a região onde a linha tinha seu ponto inicial. Os "especiais" eram sempre bicolores - verde e cinza - e tinham um E grande. Eram ônibus como os utilizados em viagens turísticas que percorrem longas distâncias, semelhantes aos atuais fretados - cuja circulação Gilberto Kassab restringiu meses atrás. A tarifa era quase o do dobro da cobrada em um ônibus comum. Havia linhas saindo do terminal Tietê que chegavam aos bairros mais distantes da zona sul. A linha que fazia o trajeto do Valo Velho até a rodoviária fazia percurso semelhante ao antigo executivo, com os óbvios complementos para atingir os extremos de seu percurso. Foi também uma das primeiras a ser extinta. Acredito que em 2000 já não havia mais nenhum nas ruas.
Em seu lugar, nada. O espaço desses ônibus nas ruas (e muito mais) foi tomado por automóveis. E quem dirige não abre mão de andar num ônibus superlotado. Fica realmente difícil convencer alguém de abrir mão do carro sob esse ponto de vista, mas andar sozinho em veículos de passeio cada vez maiores está longe de resolver a questão. Serve mais para o ego.
E ideias, há. Vans mais confortáveis para pequenos trajetos, interligando, por exemplo, bairros do centro expandido, aqueles em que estão os empregos e a adesão ao transporte público por parte dos moradores é quase zero. Pelo maior conforto em relação ao transporte comum, poderia ser praticada uma tarifa maior. Ainda assim, sairia mais barato que a gasolina do carro. E com uma boa aprovação do modelo, as ruas ficariam mais seguras e o trânsito, menos caótico. Com as grandes avenidas mais tranquilas, os ônibus diferenciados poderiam voltar, sejam fretados, sejam sob a gestão da SPTrans. Nada disso anularia o investimento nos coletivos tradicionais, com a readequação de corredores de ônibus e melhoria na frota. Até os sofridos trólebus teriam sua vez, com a manutenção e ampliação de sua rede (ônibus elétrico é silencioso e não polui). Falando em menos trânsito e menos poluição, mais estações e terminais de ônibus poderiam ter bicicletários seguros.
Tudo muito bonito e hipotético, infelizmente. Pois a palavra-chave que acompanha os (raros) discursos sobre transporte público é megaobra. Grandes negócios para quem constrói e quem manda construir. Metrô é ótimo, rápido, porém caro e de construção demorada. O caminho da dignidade para os trens metropolitanos também parece longo. E volta e meia surgem as ideias mirabolantes. O grande exemplo é o antigo Fura-Fila, depois Paulistão, hoje Expresso Tiradentes, e que já mereceria nome novo, pois o corredor elevado de ônibus não chegará mais à distante Cidade Tiradentes, na zona leste. O que foi implantado fica como está; o resto será uma linha de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), a nova febre dos gestores paulistas. No embalo da Copa do Mundo de futebol no Brasil, anunciou-se até a construção de um trem leve (ou bonde moderno, para alguns) que ligasse o Aeroporto de Congonhas ao estádio do Morumbi. A conferir se os endinheirados vizinhos do campo aceitam. Outras linhas substituiriam corredores de ônibus implantados e outros que só ficaram no papel.
Enquanto isso, o transporte coletivo sobre rodas segue em sua situação de quase abandono, lembrado pelas autoridades somente em época de aumento de tarifa, como o de dias atrás, ou quando se aumentam os subsídios para as viações urbanas, ação política que antes premia as empresas por seus péssimos serviços. E o trabalhador da periferia distante que conta somente com os desprezados coletivos para chegar ao trabalho ou a algum equipamento de lazer sofre um tanto mais a cada dia.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

adeus, jornalões

A cada semana eu levava o jornal de domingo com mais gosto para forrar o chão onde o cachorro faz suas necessidades. O número de páginas de seus cadernos aumentava periodicamente não porque havia mais pautas, e sim mais anunciantes. Da mesma forma, ele encolhia em feriados. Em vez de trazer mais matérias para o leitor com tempo livre, ocorria exatamente o oposto, como se o país e o mundo tirassem férias. Os anunciantes também rareavam, haveria alguma misteriosa relação? E mais: estávamos levando menos papel para casa, mas o preço era o mesmo de um domingo sem folga.
É que o negócio não é mesmo informar. Ou as manchetes não seriam tendenciosas, nem os colunistas despejariam opiniões tão irrelevantes. Melhor nem comentar os editoriais, diga-se apenas que se tratam de um bom reflexo do todo. O jornal inteiro parece um grande editorial, na realidade...quem dera os amores e frustrações de quem escreve ficassem restritos ao espaço delimitado para tal. E é tudo mal escrito: os erros de português incomodam pela quantidade, deixam uma impressão de coisa malfeita, amadora.
Decidi valorizar mais meu dinheiro, ainda mais em se tratando de algo tão precioso como a informação, que, aliás, encontro de qualidade e de graça na internet. E se leio alguma bobagem, pelo menos não mexi no bolso. O duro vai ser encontrar um substituto à altura para forrar o chão. Há muita semelhança entre o que o cachorro faz e as folhas impressas em que ele se aliviava.

domingo, 24 de janeiro de 2010

paulistana

Se a aniversariante de amanhã pudesse soprar velinhas, arrisco-me a dizer que seu pedido secreto seria o de pararem de chamá-la terra da garoa. Certamente muitos usam o apelido sem a menor noção de seu porquê, e nem pensam que ele já não faz o menor sentido. A chuvinha fina que não falhava nos outrora agradáveis finais de tarde paulistanos remontam a uma época sem ilhas de asfalto e concreto, em que a periferia braba ainda era zona rural. Pertence ao passado, como os bondes e os cursos d'água limpos e não canalizados e, da mesma maneira que estes, só existem hoje na memória de quem os viu, pois a ganância de uns assim o quis. Alcunha mais adequada seria terra das tempestades, ou dos contrastes absurdos. Mas seria péssimo marketing. A Califórnia é lembrada por suas praias, não pelos terremotos.

domingo, 17 de janeiro de 2010

o direito de não dirigir

Minha carteira de motorista venceu na última semana e não tenho a menor pressa em pedir por sua renovação. Houvesse ainda algo em mim do adolescente que teve aulas de direção com o pai e mal podia esperar para pilotar quando quisesse, a coisa seria diferente. Cresci, amadureci e notei que não há nada de romântico em guiar um automóvel. Já devo ter cansado meus (poucos) leitores com minha posição crítica a esse respeito, mas lá vou eu retomar a temática "anticarro" novamente.
Dirigir bem consiste em evitar o próximo acidente. Impossível contar com a prudência alheia, ao se verificar o flagrante desrespeito às leis e as estatísticas assustadoras de acidentes de trânsito. E ainda há o tráfego intenso. Perde-se tempo e paciência como nunca em nossas ruas e avenidas, com óbvias consequências sobre nossa qualidade de vida. Mesmo quem não dirige sofre. A poluição nas grandes cidades hoje é causada principalmente pela fumaça emitida por automóveis. É dinheiro queimado, e assim chegamos ao ponto.
Os carros que tanto queremos dirigir, o combustível que os faz andar - boa parte de seu preço consiste em impostos. Nosso país tem uma das maiores cargas tributárias do mundo. E é fato que essa enorme quantidade de dinheiro não é bem aplicada. Por exemplo: mesmo com todo a receita gerada pelo imposto sobre propriedades de veículos, muitos adotam como solução mágica para a conservação de estradas a sua concessão à iniciativa privada. Já quanto às cidades, o mesmo governo que incentiva a expansão de crédito para a compra de carros e motos não investe o suficiente em transporte público, como se movido por uma lógica de mercado que em absoluto cabe a quem deveria agir pelo bem comum. Pagamos e pagamos (inclusive na renovação de nossas preciosas carteiras de motoristas) para manter uma situação que não melhora. Pagamos para pagar mais, às vezes com vidas.
Não tenho interesse em voltar a esse jogo tão cedo, então, adio a renovação da bendita CNH o mais que puder. Já que não há pressa, planejo-me para, em meus deslocamenteos, ir mais devagar. E ao longe. Se há escolha, não se deve desperdiçar.

sábado, 16 de janeiro de 2010

for the bible tells me so

O preconceito pode ser definido como uma reação de horror ao desconhecido, ao que não se pensa a respeito. Uma ideia repetida à exaustão pode ser tomada como verdade absoluta, dada a "autoridade" de quem a profere.
O documentário For The Bible Tells Me So mostra como algumas igrejas fomentam a intolerância aos homossexuais e como pais criados de acordo com a doutrina dessas congregações lidaram com o fato de seus filhos se revelarem gays. Entre os depoimentos, figura o de Gene Robinson, primeiro bispo anglicano assumidamente homossexual.
Altamente recomendado, o filme aparentemente não foi lançado no Brasil, mas encontrá-lo na internet, inclusive com legendas em português, não é tarefa difícil.

domingo, 10 de janeiro de 2010

aeronaves cruzam o céu. o som de seus motores encobre o de meu coração se partindo. o meu céu não tem estrelas.