sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

devagar, subindo e sempre

Inevitável falar de ônibus neste momento em que a prefeitura de São Paulo resolveu reajustar novamente a tarifa, num ataxa acima da inflação, confirmando-a como a mais cara do país, e constatar, por este ou aquele ângulo, o quão abusivo é o preço que pagamos pelo serviço oferecido.

Um dos indicadores da baixíssima qualidade de transporte coletivo paulistano - um entre tantos - é a baixa velocidade média desenvolvida pela frota. E não falamos dos óbvios congestionamentos causados pelo excesso de veículos particulares nas ruas. Pensemos nos corredores de ônibus, onde os automóveis não podem circular - com a lamentável exceção feita aos táxis. É muito melhor para o coletivo trafegar por essas vias segregadas, mas a falta de planejamento gera problemas que compromete a eficiência do sistema, que deveria se caracterizar pela rapidez.

No momento em que o ônibus se aproxima de um ponto de parada, pode acontecer de o motorista precisar parar TRÊS vezes - uma para aguardar o deslocamento do ônibus à frente, outra para embarque/desembarque e a última porque o semáforo à frente fechou. São dois os problemas: a tendência dos ônibus a formarem filas devido ao pouco espaço exclusivo de que dispõem, em muitos casos, uma única faixa de rodagem, junto a plataformas - a fila à direita está tomada por carros, não serve para manobras -; e a programação semafórica que prioriza o fluxo de um modo geral, não fazendo distinção se num determinado cruzamento os ônibus trafeguem em uma das vias que se encontram.

Aparentemente, a presença dos corredores de ônibus na capital paulista só é tolerada de um modo que o tráfego de automóveis particulares não seja prejudicado - como se isso fosse possível, dado o número expressivo e crescente dos últimos. Ainda assim, desde 2005 não se constrói nem se reforma decentemente um único metrona de corredor em São Paulo. Sim, inauguraram o Expresso Tiradentes, mas é algo completamente distinto. Afinal de contas, trata-se de uma via elevada - não "atrapalha" os carros - e também uma obra vistosa, dessas que aparecem bastante, não somente pelo porte, mas também pelo histórico (ei, finalmente fizeram alguma coisa com o Fura-Fila).

Se pagamos tão caro por um sistema ruim e que não recebe investimento que gere algum retorno ao usuário, a resposta está nos subsídios pagos a empresas de ônibus, constantemente reajustados. Esses empresários ganham cada vez mais para prestar um serviço ruim. Há quem diga, por conta disso, que o setor de transportes é uma área de capitalismo sem riscos.

Se esse dinheiro fosse investido diretamente em estrutura,reprogramando os semáforos para favorecer o fluxo dos ônibus e modernizando os corredores, por exemplo, estaríamos mais próximos de um valor justo para a tarifa - isso sem o aumento, abusivo de qualquer maneira. O que temos na São Paulo do mundo real é isto: os donos de empresas de ônibus não se sentem pressionados a investir num transporte coletivo melhor, incentivando parte dos usuários a fugir de um sistema tão ruim, trocando a superlotação pelos congestionamentos, se optar pelo automóvel entre outras alternativas de deslocamento. Mas não se iludam, não abandonam os ônibus tantos assim que eles passarão a andar vazios, e mutio menos mais depressa.

E assim vamos piorando um pouco mais a cada dia.

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