sábado, 25 de junho de 2011

os jovens e a participação política

Saiu esta reportagem do R7 afirmando que quase 60% dos jovens não se identificam com partidos.
Umas conclusões óbvias podem se tirar daí. Primeiro, e isto não é novidade para quase ninguém, que os partidos políticos, mais notadamente os grandes, estão muito distantes dos anseios da população em geral, comprometidos que estão com interesses outros, daqueles que as siglas de maior representatividade parecem de fato representar. Faça-se a mesma pesquisa com banqueiros, grandes empresários, ruralistas; a elite, enfim: esse grupo, se sincero for, afirmará que sente grande identificação com a maioria dos partidos mais próximos do poder.
Falei dos grandes, mas essa sensação de frustração com o sistema partidário atinge também os partidos pequenos, que possuem discurso diferenciado em relação à práxis dominante mas não conseguem crescer porque estamos desiludidos com partidos em geral.
A outra ideia é uma resposta à possível pergunta: então o jovem não se interessa por política? Por essa política partidária, definitivamente, não, mas isso é lá com os partidos decidir se querem sua participação ou não. O fato é que militar num partido não é a única forma de se manifestar politicamente, de agir em prol de uma causa coletiva. Estão aí essas grandes manifestações ocorrendo em todo o país de prova. Protestos conta o aumento da passagens de ônibus, o Churrascão da Gente Diferenciada em São Paulo, e marchas como a da Liberdade e a das Vadias, todos foram organizados de forma espontânea e apartidária pela internet - este, sim, o grande veículo de mobilização. Assim convocados para marcar presença e deixar claras suas posições, os jovens saem às ruas e erguem as bandeiras com as quais se identificam, mais notadamente aquelas com as quais os grandes partidos não podem (não querem?) se comprometer. A bancada evangélica, por exemplo, possui membros no governo e na oposição majoritária, o que torna o ativismo pelos direitos das mulheres e dos gays dentro de alguma dessa lógica de poder. O mesmo se aplica em relação à bancada ruralista e a luta contra o Código Florestal.
Enfim, os jovens estão aí, buscando participar de alguma forma. Se não há espaço para levantar a voz dentro da política tradicional, que se faça política ganhando as ruas. É fácil encontrar bandeiras de pequenos partidos de esquerda nessas manifestações. Estes devem ter percebido o movimento como uma oportunidade de mudar a própria política partidária, aproximando-a daquilo que a sociedade realmente deseja - e transformando isso em votos, evidentemente. E os partidos grandes? Silenciar-se a essas novas demandas não é possível. A tática de cooptação também não funciona como antes. Que atitude vão tomar?

quarta-feira, 15 de junho de 2011

professores do ifsp fazem paralisação

Poucos conhecem o IFSP - Instituto Federal de Ciência, Tecnologia e Educação de São Paulo. Trata-se de uma instituição de ensino federal, como o nome entrega, que oferece cursos de nível técnico, técnico integrado ao ensino médio e superior - em São Paulo, há cursos superiores nas áreas de tecnologia, engenharias e licenciaturas. O instituto originou-se da expansão da antiga Escola Técnica Federal de São Paulo, que, ao passar a oferecer também formação superior, foi chamado de Cefet antes de adotar a denominação atual. Há campi do IFSP em outras cidades do estado de São Paulo, assim como outros IFs em outros estados.
A expansão da antiga escola técnica exigiu a contratação de novos docentes, o que foi feito de modo insuficiente e inadequado, dada a política adotada de contratar majoritariamente professores substitutos, cujo vínculo empregatício com o IF tem duração de apenas dois anos. Agora, a reitoria da instituição pretende aumentar a carga horária dos professores, o que compromete a dedicação para outras atividades intrínsecas à carreira docente - como a pesquisa, a extensão - e tem nítidos reflexos na qualidade dos curso oferecidos.
Desse modo, os estudantes têm se posicionado a favor da paralisação marcada para hoje e amanhã, a qual serve como advertência de que os docentes não aceitam as propostas do reitor e vem também chamar a atenção para diversos problemas de infraestrutura enfrentados pelos frequentadores do campus. A possibilidade de uma greve no segundo semestre não é descartada.
A seguir, uma carta aberta do Centro Acadêmico do curso de Licenciatura em Geografia dá mais detalhes sobre a situação no IFSP e o porquê do apoio à paralisação dos docentes.


Carta Aberta do C.A. Geografia

em Apoio à Paralisação dos Professores do IFSP

Nos próximos dias 15 e 16 de junho os professores do IFSP irão realizar uma paralisação em defesa do trabalho docente, em resposta ao processo de sucateamento da educação dentro do Instituto. Tal precarização ocorre devido à expansão das vagas que não é acompanhada dos investimentos necessários para manter a qualidade de ensino e que foi agravada pelo corte de R$ 3 bilhões, na verba para a educação, feito pelo governo Dilma para 2011. Dentre os elementos mais sentidos pelos professores estão a ausência de um plano de carreira, defasagem salarial e o recente aumento da carga horária imposta à categoria. Este último item impede que nossos professores disponham de tempo adequado para elaborar suas aulas, atender o discente e para pesquisar e atualizar seus conhecimentos - elementos considerados essenciais para manter a qualidade de ensino.

Por outro lado, nós alunos também sentimos de perto a precarização pela qual passa o Instituto. Sofremos com uma infraestrutura insuficiente, que vai desde o acervo da biblioteca, goteiras nas salas de aula, poucas verbas para trabalho de campo e para assistência estudantil, a quase inexistência de programas de pesquisa e extensão e principalmente com a falta de professores. Neste semestre, por exemplo, algumas disciplinas só foram iniciadas no mês de maio, pois infelizmente o IF aplica uma política de contratação de “professores substitutos” que dura no máximo dois anos. Essa política traz enorme insegurança para nosso curso, pois além da grande rotatividade de professores, todo ano temos que enfrentar a enorme burocracia para tais contratações e o conseqüente atraso para início das disciplinas.

Todos esses problemas que rebaixam nossa qualidade de ensino levam ao Centro Acadêmico da Geografia a manifestar publicamente seu apoio à paralisação dos professores nos próximos dias. Fazemos um chamado aos alunos dos outros cursos para que apóiem a paralisação em defesa do trabalho docente e da qualidade de ensino dentro do IF, nos mobilizando para exigir da reitoria que acate as reivindicações dos professores e também as nossas

terça-feira, 14 de junho de 2011

mais um ciclista morto. mas o pedal continuará

A segunda-feira, que já não é fácil para quase ninguém, ainda calhou de vir com uma nota das mais tristes: o atropelamento seguido de morte de mais um ciclista nas ruas de São Paulo. (A notícia, aliás, me chegou com uma imagem chocante de um rastro de sangue na rua, que não compartilharei aqui.) E lá foram os ciclistas no começo da noite se manifestar, pedir respeito à vida, acender velas e instalar mais (!) uma ghost bike (como esta, em Santo Amaro).
E infelizmente é isso: quem busca alternativas à falta de mobilidade em nossas grandes cidades e evitar o stress a ela inerente necessita tomar cuidados redobrados, vulnerável que está frente à irresponsabilidade de certos condutores de veículos motorizados, justo aqueles que mais deveriam zelar pela segurança alheia. Digo "certos", mas talvez o correto seja "muitos", pois o horror nas ruas é generalizado; temos é sorte de não morrer ainda mais gente.
"Mas todo mundo sabe que a rua é perigosa. Por que esse pessoal inventa de sair pedalando no meio dos carros?" Meu caro, bicicleta é veículo e tem todo direito de estar na rua. É lei. Isso dito, vamos fazer um exercício de empatia. Não é todo mundo que sai às ruas de bike. Mas a experiência de ser pedestre todos vivem. Certo. E todos os pedestres correm riscos. Até mesmo ao atravessarem na faixa com o farol verde para eles. Até mesmo quando andam nas calçadas. Não é assim? E se alguém é atropelado nessas condições, de quem é a culpa? Quem torna ruas e calçadas perigosas? Esse irresponsável que resolveu sair às ruas a pé em vez de pegar o carro, como um cidadão "de bem" deve fazer? O ponto é: assim como os pedestres são vulneráveis, ciclistas também são. E todos têm o direito de estar onde estão, sem morrer.
Tem mais. Como ciclista esporádico que sou, vejo em quem pedala nas ruas um certo idealismo, algo que vai além do que se locomover de um modo menos usual, além de fazer algo que lhe oferece grande prazer. É uma maneira diferente de se relacionar com o entorno: observar mais a paisagem urbana, senti-la de fato. Ser parte dela, em vez de afastar-se, protegidos (porque isolados) dentro de um carro. Mesmo de forma inconscientemente, o ato de pedalar nos faz crer que podemos ser diferentes, que não precisamos andar apressados, manter-nos em estado de alerta, nem ser agressivos. É a tal da cultura de paz contra a insensibilidade, contra um não-se-importar que se manifesta, neste caso, em culpar a vítima pelo "acidente" que a vitimou.
A indiferença no trânsito é gritante porque ela ceifa vidas diante de nossos olhos. Mas ela está em toda parte, em várias situações de nossa vida, é um problema de cada um de nós. Se trabalhássemos para vencê-la - e permitam-me sonhar mais um pouco - , vislumbro a possibilidade de as segundas-feiras, até mesmo elas!, serem um tantinho melhores.

sábado, 11 de junho de 2011

dia dos namorados

Vi no Zé Simão a piada e agora recebi por email...e quer saber? é isso mesmo!


...e daí que eu vou passar o dia dos namorados sem namorado?

Eu também não passo o Dia do Índio com um índio ,

o Dia da Árvore com uma árvore

ou mesmo o Dia de Finados com um defunto..."

quinta-feira, 9 de junho de 2011

dos amores invisíveis

(Esta imagem veio daqui)
Todos devem ter visto a campanha da Vivo para o dia dos namorados, que nos saiu um interessante videoclipe da música Eduardo e Mônica, do Legião Urbana (segue link para quem esteve em Marte nos últimos dias). Tudo vai bem, uma profusão de bugigangas hi-tech que sequer podiam ser concebidas no mundo real à época em que a canção foi composta...até que o vídeo vai chegando ao final e surge a mensagem: "Essa é uma homenagem da Vivo a todos os Eduardos e Mônicas, etc." Então surgem mais nomes de casais que entre outros tantos que "juntos escrevem suas próprias histórias de amor".

Será que se adivinha do que vamos falar? Não? Bem, vamos lá...

Não há nenhum casal LGBT entre os citados. Pior é que a gente sabe que não vai ter, mas ainda assim fica olhando curioso até o final, para ter certeza...da certeza.
Vi o comercial ontem, mas guardei o pensamento só para mim, este é nosso mundo, nosso Brasil, paciência. Mas, no Twitter, o @BuleVoador lançou a provocação: cadê casal gay?




Os tweets geraram reações variadas no microblog, a favor e contra. E acabaram por gerar este post também.
Insisto: o vídeo é bacana. Mas deve-se dizer também que é válido notar a ausência de casais gays, sim. Não se trata de patrulhamento. Ora, a exclusão está em toda parte. Será que todo lugar a que vamos está preparado para receber deficientes físicos? Você já imaginou a situação de um deficiente visual ou auditivo numa escola? Da mesma forma para o público LGBT (que não é portador de deficiência por ser público LGBT, POR FAVOR): não existe uma heteronormatividade que, alheia ou não à nossa vontade, impõe comportamentos e juízos de valor? Pois é...
(Percebam que não falei em preconceito, mas em exclusão, que é o que de fato ocorre na propaganda. Seria leviano falar em homofobia, não houve insulto ou ofensa moral de nenhuma espécie no filme.)
Mas alguém deve estar aí dizendo, "mas a música é Eduardo e Mônica, por que você acha que tem de ter um casal de homens ou de mulheres aí?" Em partes. Primeiro, não acho que tem de ter, e sim que poderia ter, como ação afirmativa, de inclusão. Prossigo invertendo a pergunta: por que você acha que não tem de ter? O mundo hoje está um tanto diferente do que era nos anos 80. E não só por causa dos celulares 3G e demais gadgets bacaninhas. Devagar, mas bem devagar mesmo, nossa sociedade vem se tornando mais sensível à questão da diversidade sexual. São tantos gays/lésbicas assumidos/as hoje, você certamente conhece algum. Ou alguns. Ou muitos. Isso era mais difícil no passado. Não que hoje as coisas sejam um mar de rosas, ainda temos de suportar Bolsonaros e Malafaias estimulando o ódio que ainda mantém o Brasil como detentor do triste título de país que mais mata LGBTs. Nem leis antihomofobia a gente consegue ver aprovadas. Mas, enfim, vocês pegaram a ideia de devagar. As coisas caminham num sentido de maior aceitação das sexualidades.
Aí a Vivo decide que não vai entrar nessa.
A Vivo não entra nessa, mesmo com o momento favorável para um posicionamento humanitário. Mesmo com tantos homossexuais confiantes para dizer o que são - e, com certeza, tantos outros querendo muito ter coragem para juntar-se a eles. Mesmo com o fato de que um dos compositores de Eduardo e Mônica, o falecido Renato Russo, era bissexual (aquela outra música, que diz "gosto de meninos e meninas", lembra?) e certamente ADORARIA ver a menção de outros casais, não-heteros, numa peça escrita sobre uma obra sua.
Então, por que a Vivo não entrou nessa?
Voltemos a primeira frase deste post, mais precisamente a um trechinho dela: campanha da Vivo para o dia dos namorados. Aí está a resposta. Capitalismo. Negócios. Estamos falando de uma propaganda. Propagandas divulgam produtos. Produtos que têm de vender. Se eu quero vender, não posso correr riscos. E associar sua marca de alguma forma à homossexualidade, numa peça publicitária de tão grande alcance (o vídeo tem quase 2 milhões de visitas em dois dias), pelo jeito, é visto como um risco, sim. Talvez tenha ocorrido a alguém do staff do filme colocar, digamos, uma Luana e Renata ali, mas, se ocorreu, a ideia deve ter sido imediatamente abortada. Para que correr o risco? Pelo menos não seremos ofensivos, porque isso também seria um tiro no pé (ainda maior? quem sabe).
Então, que gays e lésbicas em relacionamentos se sintam de alguma forma incluídos entre os "outros tantos casais" citados no final do clipe. Pelo menos até que alguma empresa brasileira decida que vale correr o "risco" de tirar o amor entre iguais da invisibilidade que lhes foi imposto. Qual se habilitaria? Na França, o McDonalds - entre tantas outras - já chegou lá. Este é o comercial que o @BuleVoador citou: