segunda-feira, 26 de novembro de 2007

se quando dormimos
morremos por um instante
ao fingir que dormimos
simulamos a própria morte
ocorre porém que passamos
quase toda a história do universo
assim
mortos
e perante o infindo
a vida nossa
é de uma brevidade
impossível
Já lhe dei a ordem.

domingo, 25 de novembro de 2007

acordar cedo, pátio do colégio, promúsica, leitura solene, cultura-criança, painéis de pierre mendell, comer sem exigências, herança indígena, yoko ono faz e dita arte, visão do amor impossível, corpo e alma a esmo, facilidades de um mundo, volta ao lar. Meu domingo!

domingo, 18 de novembro de 2007

errante

Deslizo por rios caudalosos a bordo da jangada que construí antes da morte de meu pai. Logo mais estarei novamente diante de meu povo. Minhas jornadas são longas e solitárias, gosto delas assim. Sempre saio silenciosamente de casa, meu ideal é o rio ser a única testemunha de minha partida, mas é impossível numa comunidade tão pequena. Sei que me olham com desconfiança por me acharem assim tão reservado, mas ao mesmo tempo há uma certa reverência em sua contemplação curiosa, eis o jangadeiro. A necessidade de velejar me impele mais que tudo a singrar terras, embora me disponha a nunca voltar de mãos vazias de minhas andanças, sem nada além de histórias enfadonhas aos ouvidos que me cercam; trago presentes aos pequenos, muito coloridos, eles me divertem. Nunca vou até o mar. Penso às vezes em grandes viagens, longas, a se perder na memória o horário e o local de partida. Em meu íntimo aguardo o dia em que empreenderei a mais longa de minhas jornadas, e não haverá ninguém a se surpreender com o fato de eu jamais retornar.


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Onde foi parar o tempo que eu ainda agora tinha de sobra?

sábado, 17 de novembro de 2007

alice acorrentada

Esta noite abri o LimeWire - meu atual programa de compartilhamento de arquivos; cumpre bem sua função - e digitei Beside You, na tentativa de encontrar uma música do Iggy Pop com esse título. Não achei o que queria (pô!) mas um dos resultados da busca foi um mp3 de Heaven Beside You, do Alice In Chains, banda velha conhecida minha, mas que andava meio esquecida até então. Agora digito o nomeEntão deu-se uma coisa interessante: uma volta à adolescência, sem traumas.
O Alice In Chains era, de certa forma, o lado negro do grunge, suas guitarras pesadas responsáveis por um clima mais sombrio entre as médias das músicas de bandas de Seattle do começo dos anos noventa. Este pé no metal, entretanto, não confere ao som do grupo a cacofonia insana, quase insensata de bandas assumidamente barulhentas. É que Alice in Chains é musical, mesmo. Há algo de blues nos riffs da banda - queria ser mais versado em música popular para poder dizer mais a respeito. Além disso, as melodias grudam tão facilmente no ouvido. A música começa, dois ou três versos e já estamos no refrão. Nem ponte existe. O som é barulhento mas é pop feito Spice Girls.
Não se pode deixar de falar também na nítida melancolia no som da banda, um prato cheio para quem não tem medo dessas coisas. Música não tem de ser sempre "pra cima"; o importante é haver algum sentimento.
Foi uma interessante redescoberta. Voltamos a qualquer momento com mais.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

estradas musicais

A música, forma de expressão tão fascinante. Cite ao menos um indivíduo que a despreze, se puder; é coisa raríssima. A paixão de alguns de nós pelos sons musicais pode chegar a tal ponto que apenas apreciá-los não basta, é preciso buscar formas de interagir com os mesmos. Então há quem cante, dance, aprenda algum instrumento. Em casos mais avançados de paixonite pelos tons melodiosos, existe o caminho da profissionalização, e pode-se vir a dominar a escrita e a fluência musical tão bem quanto a falada, ou até melhor.
Difícil entender, entretanto, os pensamentos dos pesquisadores japoneses que conceberam uma vereda, digamos, menos abstrata: uma estrada capaz de emitir notas musicais à passagem de automóveis. Observando os entalhes feitos por uma escavadeira no asfalto, percebeu-se que cada um destes produzia, ao ser atravessado, um som diferente, como num instrumento musical usual.
Para ouvir com clareza a música que veio a produzir, o motorista deve manter os vidros do carro fechados e estar a uma velocidade de 45 quilômetros por hora.
Não é mentira.
E ainda se busca entender o porquê.

sábado, 10 de novembro de 2007

silêncio

Ainda há pouco, surpreendi-me com a notícia da morte de Helena Samara, aos 71 anos, por falência múltipla dos órgãos. E pouquíssimos sabem quem ela é.
É questão de ligar o nome a uma voz. Helena era dubladora, uma profissional competente numa área ingrata e mal reconhecida. (Aliás, um dia faço uma lista de profissões valorizadas neste país, só para me decepcionar amargamente com o resultado.) Entre seus trabalhos, pode-se citar a Mamãe de Futurama, e deve-se listar, sobretudo, seu mais conhecido personagem: a Dona Clotilde, a Bruxa do 71 do incontestavelmente clássico Chaves, que diverte gerações de brasileiros, crianças de agora e as já crescidas, há mais de vinte anos.
Uma triste perda, e o fato de não ser notícia que ganhe o devido destaque a torna ainda mais lamentável.
A seguir, uma lista de alguns dubladores também falecidos, cujas vozes fizeram parte do encantamento de séries, desenhos e filmes que nos deslumbraram, sem se importarem em ficar "escondidos" atrás de personagens muito mais celebrados que eles jamais seriam.

Newton da Matta - Bruce Willis em diversos filmes; morto em 2006
Marcelo Gastaldi - Chaves, Chapolin, Charlie Brown; 1995
Mário Vilela - Seu Barriga, Nhonho
Aldo César - Bender (Futurama); 2001
André Filho - Superman (dublagem original dos primeiros filmes) e filmes mais antigos de Sylvester Stallone; 1997
Older Cazarré - Zé Colméia, Dom Pixote, Homem Fluido (Os Impossíveis), Jaiminho (Chaves); 1992
Olney Cazarré - Pica-Pau, Hadji (Johnny Quest); 1991
André Luiz "Chapéu" - Brutus (Popeye), Tigrão (Ursinho Puff)

rené magritte


La condition humaine



The son of man

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

alberto caeiro

Que é Fernando Pessoa, que fala de André.


Quando eu não te tinha
Amava a Natureza como um monge calmo a Cristo...
Agora amo a Natureza
Como um monge calmo à Virgem Maria,
Religiosamente, a meu modo, como dantes,
Mas de outra maneira mais comovida e próxima.
Vejo melhor os rios quando vou contigo
Pelos campos até à beira dos rios;
Sentado a teu lado reparando nas nuvens
Reparo nelas melhor...
Tu não me tiraste a Natureza...
Tu não me mudaste a Natureza...
Trouxeste-me a Natureza para ao pé de mim.
Por tu existires vejo-a melhor, mas a mesma,
Por tu me amares, amo-a do mesmo modo, mas mais,
Por tu me escolheres para te ter e te amar,
Os meus olhos fitaram-na mais demoradamente
Sobre todas as cousas.

Não me arrependo do que fui outrora
Porque ainda o sou.
Só me arrependo de outrora te não ter amado.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

patch adams no roda viva

Meu primeiro contato com esse simpático senhor e seu trabalho, a que o rótulo "medicina humanizada" pode parecer pouco eficaz, como é comum quando se rotula, mas não deixa de ser um começo.
Todo mundo deveria ter visto a entrevista de ontem. Todo mundo mesmo. Adams dá palestras por universidades mundo afora; porém, no meio acadêmico as pessoas pensam a todo momento - ou deveriam fazê-lo - então talvez seu discurso humanitário, aquele que vai além da já mencionada humanização nas relações médico-paciente, não seja tão impactante como na televisão.
O choque causado pelo doutor começa pela sua indumentária: brinco em forma de garfo, camisa florida e calças vermelhas largas como as de palhaço. Que ninguém se engane com esse ar bufão: mesmo em momentos mais descontraídos, a fala de Patch Adams é contundente. Ele inicia criticando o filme baseado em sua vida, estrelado por Robin Williams, que reduz seu trabalho à máxima "rir é o melhor remédio". A cinebiografia pode ter aumentado, e muito, as contribuições financeiras a seu hospital modelo nos Estados Unidos, onde se atende de graça, mas não passa de uma, digamos, hollywoodianização de seus ideais.
E o médico com cara de palhaço se revela um grande provocador. Ele afirma que a indústria farmacológica é nefasta, que os grandes hospitais não são nada além de grandes instituições comerciais/financeiras. O sistema de saúde norte-americano exclui automaticamente 50 milhões de pessoas porque elas não possuem dinheiro.
Adams não se restringe à medicina, uma vez que a mudança de atitude que ele exige dos médicos deve valer para todos. E os petardos continuam. Noventa por cento dos americanos não pensa. As três pessoas mais ricas do mundo possuem renda igual à das 48 nações mais pobres. Torcer por multimilionários jogadores de futebol é uma lastimável perda de tempo - ele se referia ao football, mas nada impede de aplicarmos isso ao "nosso" soccer. Pessoas ricas que nada fazem além de se exibir são completamente vazias. Ele nos exorta várias vezes à questão da Amazônia.
Patch Adams: o capitalismo é a pior coisa que já aconteceu ao mundo!!!
A televisão fica pequena e tímida diante das idiossincrasias do doutor. Ele não tem controle. Fala palavrões e põe convidados e entrevistadores a cantar. Em certo momento, levanta-se da cadeira, arregaça as pernas da calça para mostrar o personagem que interpreta ao apartar - com sucesso em 100% dos casos, segundo ele próprio - brigas entre pessoas que nunca havia visto. Sim, aquelas desentendimentos para os quais qualquer outro ser humano dá as costas. É a revolução de Adams.
Em cada gesto, em cada palavra, a segurança de quem acredita no que está fazendo, que é possível um outro mundo, baseado em fraternidade, cordialidade, amor incondicional, em vez deste nosso corroído pela ganância por poder e dinheiro, e há fome e miséria ali ao lado.
E se todo mundo tivesse visto essa entrevista...todo mundo mesmo...e repensasse a vida...por que não?

numbers

everyday i hear countless voices talking and talking but i only listen to the ones that tell forever things.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

spice girls, dez anos depois

Porque o tempo passa :)
Victoria agora é Beckham e, ao lado de uma Geri mais magrinha, faz triplicar o número de louras no grupo; Emma não é mais única. Mel B. não assusta mais ninguém, com a provável exceção de Eddie Murphy. E Mel C. parece ter deixado a fama de esportista lá atrás no passado.
Que ninguém espere inovações artísticas, contudo. Claro. Elas continuam tão pré-fabricadas quanto na década passada, quando ainda eram, de fato, garotas. Headlines (Friendship Never Ends) é muito, muito parecida mesmo com tanta coisa que já se ouviu. Mas algo ainda está lá que garanta a nostalgia dos fãs, também eles mocinhas, e mocinhos, de outrora.


quinta-feira, 1 de novembro de 2007

em meio à festa

O São Paulo é campeão no ano em que deixo de ser torcedor.

Força de vontade, meu garoto.