quinta-feira, 6 de junho de 2013

protesto contra o aumento da passagem: o (pouco) que vi, o que penso

O Movimento Passe Livre organizou um protesto contra o aumento da passagem de ônibus aqui em São Paulo. Até onde consegui acompanhar, os manifestantes tinham fechado a 9 de Julho queimando três montes de lixo que obstruíam todas as pistas da avenida no sentido bairro (nossa, estou parecendo o boletim do trânsito). Os ônibus não conseguiam sair do Terminal Bandeira, onde marcavam presença alguns jovens que também protestavam, chamando o povo a participar, “vir contra o aumento”. Avenida fechada, a marcha começou, batucada, hinos, palavras de ordem, fogos de artifício. Acompanhando tudo, a polícia. A pé, em viaturas, em helicópteros. Fazendo pouco, olhando sério, dedo em riste. Parada, andando rápido, sem pressa...em formação. De guerra?Vendo tudo, de onde estivesse, inclusive do alto, jogando luzes contra os prédios. Tentando impor o medo. Fazendo o que polícia serve para fazer.
Saí do terminal, passei pela estação de metrô fechada. Andei. Andei por meia hora, consegui pegar o último ônibus que passou pelo ponto antes da marcha chegar, uma faixa “por um mundo sem catracas” trazida pelos que vinham à frente. Dois carros da polícia tinham acabado de fazer manobras assustadoras e encostado ali perto. Estávamos a poucos metros do túnel sob a avenida Paulista. Corri para pegar o ônibus, o motorista se afastou do local a toda velocidade. Daí não sei mais. Dentro do coletivo alguém falou em bombas de efeito moral atiradas pela polícia. Bem, polícia.
Os dias têm sido muito cansativos, só queria chegar logo em minha casa. Não pude. Mas digo com toda a calma e convicção de quem andou e pensou a respeito disso tudo: é bonito demais ver as pessoas na rua, andando juntas, para se fazer ouvir, para protestar contra uma situação que nos atinge a todos. Porque todo mundo quer chegar logo em casa. Inclusive quem está de ônibus. Então o protesto nos diz respeito a todos, sim. Então quem gritou e marchou – e certamente apanhou depois, certo, polícia? – contra o aumento só aparentemente está prejudicando o trabalhador que não tem nada a ver com a história. Porque, raios é sobre o trabalhador essa história, É ele quem pagará R$ 3,20 a cada viagem em ônibus lotados, mal conservados – por quantos coletivos quebrados passamos ao atravessar a cidade em um deles, esperando que o nosso não seja o próximo? E eu nem falei das ruas congestionadas. E eu nem falei que até nos corredores de ônibus tem congestionamento. O protesto é ruim? Atrapalha? E a vida, está boa?

Ver o povo marchar é bonito, faz pensar que as coisas poderiam ser diferentes. Imaginem todos indo para a rua, todos por um, o um que é todos. Porque a resposta para a pergunta lá de cima...nós não gostamos dela. E queremos lutar para mudar isso. Juntos. O que você vai fazer, Estado? Cadê sua polícia agora? Será que ela pode contra nós todos?...Mas é uma impressão que dura pouco. Porque não vai ser diferente. A gente tem essa dificuldade de entender as motivações do outro. Mesmo quando o que o outro faz é pensando...na gente. A gente pensa na gente, mas é outra gente. É a gente mesmo! A gente pensa em chegar logo em casa para descansar para amanhã para trabalhar e assim manter o emprego e assim ter dinheiro para comprar a roupa daquela marca que todo mundo está usando ou trocar de novo o celular por um mais “top”, com aquele aplicativo que é muito da hora. E esses baderneiros que apanhem mesmo. Fechando ruas. Atrapalhando a vida de todo mundo. Atentando contra o sagrado direito de ir e vir. Porque eu sou livre...trabalho e compro as coisas que eu quero. Esse trânsito e esse ônibus lotado? Ah, faz parte. O mundo não tem catracas...se liga...