quinta-feira, 12 de julho de 2012

acaso

Quais as chances de ter uma música na cabeça e ao apanhar o encarte do CD abri-lo justamente na letra dessa canção?

Quais as chances de isso acontecer no meio de uma madrugada fria em que se levanta desesperançado, entregue ao fato de que o sono que parecia tão necessário ao corpo e à mente se esvaiu?

Quais as chances de desenterrar uma canção específica do inconsciente?

Quais as chances de a tal canção falar clara e abertamente de amor?...

Quais as chances de você entender o que eu sinto?

Quais as chances de você SENTIR o que eu sinto?...

Você, o motivo desta noite mal dormida, o motivo da demora em pegar no sono, apesar do cansaço que insisto em dizer que sinto.

Por que é que estou tão cansado?...

Eu sei...e nisto não há nada de acaso.

Ah, estou cansado da solidão...estou cansado de as músicas evocarem o amor que tanto quero viver.

Quais as chances de minha busca inglória enfim ter acabado?

Quais as chances de minha trajetória errática terminar em seus braços?...

O acaso tem esse incompreensível poder de tornar as circunstâncias tão particulares e maravilhosas.

Minha vida cruzar com outra, a sua...

Tudo está em minha mente, entretanto. Nada aconteceu de fato. Apenas neste coração.

Se este encontro mexeu tanto comigo, mais provável ter sido assim por meu próprio desejo de ver algo importante e, sobretudo, significativo nesta situação toda.

Quero uma razão para você estar onde está.

Não há.

Há quem diga que acaso não existe. Será?

Ouça a canção comigo e entenda:

"Eu não vim aqui/pra entender/ou explicar/nem pedir nada pra mim/não quero nada pra mim..."

Não quero nada pra mim.

Não me arrogo o direito de querer nada. Não cobrarei do acaso - nem de você - o que dele não posso exigir. Não cobrarei de você o que não pode me dar.

Vou procurar em outro lugar. Talvez eu encontre. Assim, por acaso.


***

Essa palavra, arrogar, eu já tinha mas jamais havia utilizado. Não tinha certeza de como utilizá-la. Quais as chances de conferir o significado de uma palavra no dicionário e encontrar entre uma lista de pesquisas alheias, prévias - e aleatórias - a palavra amor?



a morte

A morte...tão misteriosa quanto familiar...tão insondável quanto certa...a única certeza...nesse mundo racional que criamos, buscamos sempre razões e certezas...a morte é a única certeza...e estamos sempre fugindo dela...fugindo da nossa única e comum certeza...não podemos sequer falar na morte...ela que aconteça com os outros...vamos adiar sua inevitabilidade enquanto for possível...na verdade...vamos esquecer a sua inevitabilidade...julgamo-nos tão melhores...somos humanos...somos racionais...mas morremos também...como qualquer outra criatura viva...como qualquer outro animal...então criamos uma morte própria para nós...quando morremos, é que vamos para algum lugar...para onde?...depende de onde viemos e da morte que convencionamos...mas só saberemos ao certo para onde vamos quando nos formos...formos para onde?...existe onde?...esse verbo exige mesmo um complemento?...e não é verdade que os mortos simplesmente se vão...pois os sentimos mesmo após sua morte...a morte cria presenças ausentes...já se foram, mas demoramos a reconhecer...na verdade, dependendo de quem for, a presença ausente é sentida por muito tempo...por vezes ela é invocada...e sentimos que ela sempre estará ali...estará não estando...tão misteriosa é a morte...tão familiar...também morreremos mas não iremos embora...