quinta-feira, 9 de junho de 2011

dos amores invisíveis

(Esta imagem veio daqui)
Todos devem ter visto a campanha da Vivo para o dia dos namorados, que nos saiu um interessante videoclipe da música Eduardo e Mônica, do Legião Urbana (segue link para quem esteve em Marte nos últimos dias). Tudo vai bem, uma profusão de bugigangas hi-tech que sequer podiam ser concebidas no mundo real à época em que a canção foi composta...até que o vídeo vai chegando ao final e surge a mensagem: "Essa é uma homenagem da Vivo a todos os Eduardos e Mônicas, etc." Então surgem mais nomes de casais que entre outros tantos que "juntos escrevem suas próprias histórias de amor".

Será que se adivinha do que vamos falar? Não? Bem, vamos lá...

Não há nenhum casal LGBT entre os citados. Pior é que a gente sabe que não vai ter, mas ainda assim fica olhando curioso até o final, para ter certeza...da certeza.
Vi o comercial ontem, mas guardei o pensamento só para mim, este é nosso mundo, nosso Brasil, paciência. Mas, no Twitter, o @BuleVoador lançou a provocação: cadê casal gay?




Os tweets geraram reações variadas no microblog, a favor e contra. E acabaram por gerar este post também.
Insisto: o vídeo é bacana. Mas deve-se dizer também que é válido notar a ausência de casais gays, sim. Não se trata de patrulhamento. Ora, a exclusão está em toda parte. Será que todo lugar a que vamos está preparado para receber deficientes físicos? Você já imaginou a situação de um deficiente visual ou auditivo numa escola? Da mesma forma para o público LGBT (que não é portador de deficiência por ser público LGBT, POR FAVOR): não existe uma heteronormatividade que, alheia ou não à nossa vontade, impõe comportamentos e juízos de valor? Pois é...
(Percebam que não falei em preconceito, mas em exclusão, que é o que de fato ocorre na propaganda. Seria leviano falar em homofobia, não houve insulto ou ofensa moral de nenhuma espécie no filme.)
Mas alguém deve estar aí dizendo, "mas a música é Eduardo e Mônica, por que você acha que tem de ter um casal de homens ou de mulheres aí?" Em partes. Primeiro, não acho que tem de ter, e sim que poderia ter, como ação afirmativa, de inclusão. Prossigo invertendo a pergunta: por que você acha que não tem de ter? O mundo hoje está um tanto diferente do que era nos anos 80. E não só por causa dos celulares 3G e demais gadgets bacaninhas. Devagar, mas bem devagar mesmo, nossa sociedade vem se tornando mais sensível à questão da diversidade sexual. São tantos gays/lésbicas assumidos/as hoje, você certamente conhece algum. Ou alguns. Ou muitos. Isso era mais difícil no passado. Não que hoje as coisas sejam um mar de rosas, ainda temos de suportar Bolsonaros e Malafaias estimulando o ódio que ainda mantém o Brasil como detentor do triste título de país que mais mata LGBTs. Nem leis antihomofobia a gente consegue ver aprovadas. Mas, enfim, vocês pegaram a ideia de devagar. As coisas caminham num sentido de maior aceitação das sexualidades.
Aí a Vivo decide que não vai entrar nessa.
A Vivo não entra nessa, mesmo com o momento favorável para um posicionamento humanitário. Mesmo com tantos homossexuais confiantes para dizer o que são - e, com certeza, tantos outros querendo muito ter coragem para juntar-se a eles. Mesmo com o fato de que um dos compositores de Eduardo e Mônica, o falecido Renato Russo, era bissexual (aquela outra música, que diz "gosto de meninos e meninas", lembra?) e certamente ADORARIA ver a menção de outros casais, não-heteros, numa peça escrita sobre uma obra sua.
Então, por que a Vivo não entrou nessa?
Voltemos a primeira frase deste post, mais precisamente a um trechinho dela: campanha da Vivo para o dia dos namorados. Aí está a resposta. Capitalismo. Negócios. Estamos falando de uma propaganda. Propagandas divulgam produtos. Produtos que têm de vender. Se eu quero vender, não posso correr riscos. E associar sua marca de alguma forma à homossexualidade, numa peça publicitária de tão grande alcance (o vídeo tem quase 2 milhões de visitas em dois dias), pelo jeito, é visto como um risco, sim. Talvez tenha ocorrido a alguém do staff do filme colocar, digamos, uma Luana e Renata ali, mas, se ocorreu, a ideia deve ter sido imediatamente abortada. Para que correr o risco? Pelo menos não seremos ofensivos, porque isso também seria um tiro no pé (ainda maior? quem sabe).
Então, que gays e lésbicas em relacionamentos se sintam de alguma forma incluídos entre os "outros tantos casais" citados no final do clipe. Pelo menos até que alguma empresa brasileira decida que vale correr o "risco" de tirar o amor entre iguais da invisibilidade que lhes foi imposto. Qual se habilitaria? Na França, o McDonalds - entre tantas outras - já chegou lá. Este é o comercial que o @BuleVoador citou:

3 comentários:

Jiquilin disse...

Belo post, mano...
Bem vindo a turma dos blogueiros patrulheiros...
kkkk

Ro disse...

Hum, agora eu fico pensando quantos lgbt tem uma linha da vivo. E mesmo que o MAC tenha uma propaganada deste tipo não significa que eles sejam realmente friendly...

André disse...

Definitivamente não significa, Ronaldo. É que o McDonalds francês viu a ação friendly como marketing positivo para a empresa, como algo rentável, enquanto por aqui tal atitude ainda é encarada como um risco. As empresas querem é lucrar, seja parecendo progressistas ou ficando caladas sobre temas mais polêmicos para não perder receita. Quem define o que fazer é a percepção que se tem do senhor mercado.