terça-feira, 14 de junho de 2011

mais um ciclista morto. mas o pedal continuará

A segunda-feira, que já não é fácil para quase ninguém, ainda calhou de vir com uma nota das mais tristes: o atropelamento seguido de morte de mais um ciclista nas ruas de São Paulo. (A notícia, aliás, me chegou com uma imagem chocante de um rastro de sangue na rua, que não compartilharei aqui.) E lá foram os ciclistas no começo da noite se manifestar, pedir respeito à vida, acender velas e instalar mais (!) uma ghost bike (como esta, em Santo Amaro).
E infelizmente é isso: quem busca alternativas à falta de mobilidade em nossas grandes cidades e evitar o stress a ela inerente necessita tomar cuidados redobrados, vulnerável que está frente à irresponsabilidade de certos condutores de veículos motorizados, justo aqueles que mais deveriam zelar pela segurança alheia. Digo "certos", mas talvez o correto seja "muitos", pois o horror nas ruas é generalizado; temos é sorte de não morrer ainda mais gente.
"Mas todo mundo sabe que a rua é perigosa. Por que esse pessoal inventa de sair pedalando no meio dos carros?" Meu caro, bicicleta é veículo e tem todo direito de estar na rua. É lei. Isso dito, vamos fazer um exercício de empatia. Não é todo mundo que sai às ruas de bike. Mas a experiência de ser pedestre todos vivem. Certo. E todos os pedestres correm riscos. Até mesmo ao atravessarem na faixa com o farol verde para eles. Até mesmo quando andam nas calçadas. Não é assim? E se alguém é atropelado nessas condições, de quem é a culpa? Quem torna ruas e calçadas perigosas? Esse irresponsável que resolveu sair às ruas a pé em vez de pegar o carro, como um cidadão "de bem" deve fazer? O ponto é: assim como os pedestres são vulneráveis, ciclistas também são. E todos têm o direito de estar onde estão, sem morrer.
Tem mais. Como ciclista esporádico que sou, vejo em quem pedala nas ruas um certo idealismo, algo que vai além do que se locomover de um modo menos usual, além de fazer algo que lhe oferece grande prazer. É uma maneira diferente de se relacionar com o entorno: observar mais a paisagem urbana, senti-la de fato. Ser parte dela, em vez de afastar-se, protegidos (porque isolados) dentro de um carro. Mesmo de forma inconscientemente, o ato de pedalar nos faz crer que podemos ser diferentes, que não precisamos andar apressados, manter-nos em estado de alerta, nem ser agressivos. É a tal da cultura de paz contra a insensibilidade, contra um não-se-importar que se manifesta, neste caso, em culpar a vítima pelo "acidente" que a vitimou.
A indiferença no trânsito é gritante porque ela ceifa vidas diante de nossos olhos. Mas ela está em toda parte, em várias situações de nossa vida, é um problema de cada um de nós. Se trabalhássemos para vencê-la - e permitam-me sonhar mais um pouco - , vislumbro a possibilidade de as segundas-feiras, até mesmo elas!, serem um tantinho melhores.

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