sábado, 30 de maio de 2009

marabá

Hoje o Cine Marabá reabre suas portas ao grande público. Ontem, houve algum desses eventos para convidados, com tapete vermelho e tudo o mais, isso apesar das calçadas  mal conservadas da Avenida Ipiranga...bem, o cinema estava fechado desde 2007 para reforma, a qual deveria respeitar a construção original, tombada pelo patrimônio público. Ainda assim, em vez da enorme sala do passado (com mais de 1500 lugares!), o Marabá agora tem cinco, uma delas com tecnologia 3D. É a primeiro dos antigos cinemas do centro a ser assim revitalizado para o circuito comercial, já que o Olido foi alvo de políticas públicas e hoje é um centro cultural diversificado. As demais antigas salas de exibição da região, onde em tempos idos só se entrava a rigor, elitistas que eram, apresentam atulamente em sua programação filmes não muito adequados a programas saudáveis em família ou entre amigos. Registre-se o ardente desejo de que a iniciativa no Marabá seja bem sucedida e inspire a revitalização cultural e humana do entorno.

sábado, 23 de maio de 2009

Um dia, duas surpresas.
Primeiro, um concerto. Orquestra Pão de Açúcar. Fui sem esperar muita coisa do grupo (formado por adolescentes) nem do repertório (lá vamos nós com obviedades?). Caí do cavalo duplamente. Os meninos são bons e ainda executaram peças bem difíceis - dava para ver o esforço de alguns para manter andamentos e dinâmicas, era interessante. E as melodias mais familiares ali foram a de um tributo ao Queen, muito bacana, que bem poderia ter encerrado o concerto, ao contrário de um brevíssimo Terremoto, de Haydn. Mas valeu.
Número dois. Eu tinha duas opções: ir para casa sem hora para chegar (sexta-feira...) ou assistir àquele filme na sessão "Chuva de Clássicos" na Galeria Olido de que nunca ouvira falar, nem bem nem mal, e ainda por cima em exibição à antiga (super 35, é isso?). Fiquei com o filme. Belíssima. Italiano. Anos 40. Uma mãe quer fazer da filha uma estrela, e para isto está disposta a fazer tudo ao seu alcance. Mas será que isso é o melhor para a menina? Muito bom também. Gostei das personagens femininas, umas italianas autênticas, passionais, que falam alto.


segunda-feira, 18 de maio de 2009

descendo lenha

Um certo jogador de futebol disse um grande jornal que seu rebento é "praticamente europeu", apesar de ter nascido nestas paragens, e prefere que ele tenha amiguinhos nascidos no berço da civilização ocidental. Ao chamado ídolo do esporte não ocorre, entretanto, que é brasileira a equipe que defende, que é majoritariamente brasileira a empresa que lhe rendeu milhões para anunciar suas cervejas, e, sobretudo, foi em terras brasileiras que ele teve a única oportunidade de se destacar em alguma coisa nesta vida e se tornar a máquina de dinheiro de hoje, chance sem a qual jamais ousaria sonhar com a possibilidade de escolher entre os companheiros de seu filhinho, somente infantes nascidos no continente europeu. Óbvio que o profissional da bola não pensou nisso antes de articular suas palavras, nem em todos os conterrâneos despossuídos que esperam sua nova e brilhante jogada. Despossuídos como ele poderia ser até hoje. E que, convencidos por tão fenomenais palavras, podem vir mesmo a se convencer de que somos piores que europeus, norte-americanos, o que o valha.

domingo, 17 de maio de 2009

x-men: evolução

Quinze anos atrás, o então novo desenho dos X-Men me pegou em cheio. Eu tinha catorze anos e queria começar a acompanhar coisas menos "infantis". Os mutantes caíram como uma luva. Eles não apenas eram super-heróis, mas também eram obrigados a encarar o preconceito de quem não os entendia. A idéia me parecia sensacional. A Escola para Jovens Superdotados, Magneto e o ideal de supremacia mutante, Genosha - ilha onde mutantes eram escravizados -, os terríveis robôs sentinelas...a variedade de superpoderes...eu vibrava horrores. E nem me importava com pérolas como "eu convoco o poder total da tempestade" e outras bobagens amarradas aos personagens à guisa de personalidade, como a chatice da Jubileu, a Vampira metida a gostosona e as falas afetadíssimas da Tempestade - como se vê no exemplo acima, ela invocava os elementos climáticos como uma bruxa desvairada.
Enfim, eu me divertia e a coisa ainda me ajudou a tornar o "nerd" de hoje.
Hoje, muito por acaso, vi um pedacinho do "novo" desenho dos mutantes, Wolverine e os X-Men e quase morri de tédio. Mais do mesmo a vida toda. Sentinelas, molde-mestre, irmandade de mutantes, mutações como óbvia metáfora para minorias - e adolescentes -, protagonistas rasos cuja "personalidade" se desvenda em uma única frase, além da evidente megaexposição de Logan, como o próprio título da produção atual supõe.
Essas coisas servem para formar gerações de novos fãs (mais gente para dar dinheiro à franquia) e só. Eu caí nessa há quinze anos, outros cairão agora. Mas, por enquanto, é até perdoável eles acharem tudo o máximo; o senso crítico apurado que venha com o tempo. Só peço que não deixe de vir, por favor!, ou seria melhor continuar lá na seção infantil pro resto da vida.

domingo, 10 de maio de 2009

galvanizando

É daqui a pouquinho...vamos conferir em todas as suas emoções o grande prêmio da Espanha...e os brasileiros ainda vão ter o gostinho de ver dois de seus pilotos na...segunda fila.
A gente chega lá. E quando acontecer, haja coração, amigo.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

quem não tem colírio usa

Não gosto de óculos de sol. Não mais. Já tive um par de lentes escuras, dessas que se acoplam a óculos de grau por meio de um imã. Partiram-se, e as lentes corretoras que uso no momento não lhe oferecem suporte. E nem sinto falta. Quer dizer, qual o problema com o sol? Nossos antepassados viveram milhares de anos sob sua luz, sob condições bem mais adversas que as nossas. Além do mais, quem vive numa cidade tem muito bloqueio a luz solar, muita sombra mesmo. Óculos escuros, só compreendo seu uso contínuo para atividades muito específicas. A mais comum seria dirigir sob o sol, penso eu. Todo aquele reflexo...mas é fato que a população em geral parece acometida por uma febre de óculos escuros. Aparentemente, todos têm de usar. Nos ônibus, à noite, em dias nublados, em casa. Em fotos. Desde os modelos vendidos em camelôs que parecem a maneira mais rápida de derretar as "vistas", aos mais badalados, de "grife", falsos ou não. Modinha ao alcance de todos.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

urbana 2

(em minhas preces, peço que urbana 1 se torne um dia texto completo.)



(...) Tenho meu espaço mais ou menos garantido na cidade. Tive boa educação, médicos; hoje moro bem - como quando vivia com meus pais - , tenho emprego de que posso me orgulhar em termos financeiros e meu lazer está garantido. Tenho dinheiro. O pobre não tem as mesmas chances. Não é nem cidadão. Por isso, só consegue moradia, isso quando consegue, bem longe de mim, longe da cidade boa para os endinheirados. É como as coisas são. E com destino desses, o pobre tem um estilo de vida que eu não consigo imaginar, talvez nem entender. E isso me assusta. Vejo alguém diferente de mim e fico logo ressabiado. Mais todas essas coisas que a gente ouve, na mídia, ou das pessoas, pessoas como eu. A falta de segurança cada vez maior, essas ruas que se tornaram um perigo. E a maior parte dos criminosos é essa gente despossuída, que veio de favelas. Então vou fazer o que muitos de nós estão fazendo. estou indo para um condomínio fechado, com muros, grades, câmeras de vigilância, segurança privada. Posso pagar, mesmo. Mereço um pouco de conforto. Falando em conforto, já chegou a hora de trocar de carro. Vou comprar um desses bem grandes e altos. Devem ser uma delícia de dirigir. Na propaganda diz que enfrentam até enchente. Acho uma ótima idéia, esse problema das enchentes parece aumentar a cada ano. Um carrão desses não vai me deixar na mão. Dirijo sempre sozinho, nunca se sabe. O seguro é bem mais caro que o do outro automóvel. Fazer o quê? Carro sem seguro é impensável nos dias de hoje. Meus pais, meus tios, eles tiveram vários carros e não tinham que se preocupar com isso. É essa cidade, cada vez mais cheia, mais perigosa. Felizmente, posso manter o padrão de vida que acredito que mereço, posso arcar com seguro...e condomínio. Mas até estou gostando de morar aqui. Achei que não iria gostar de apartamento. Eles oferecem tanta coisa. Parque privativo, não-sei-quê gourmet, todos esses equipamentos de lazer. Se eu quiser, praticamente só preciso sair do prédio para trabalhar. E essa vista que tenho...aquilo mais ao longe é uma favela? Bem, daqui a algum tempo posso pensar em procurar algum desses condomínios com casas enormes fora da cidade, desses onde só se chega pegando estrada, praticamente no meio do mato. Aquilo, sim, deve ser conforto.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

álcool (você sabia?...)

o uso crônico de álcool pode resultar em feminização nos homens
by wikipedia
Nem consigo me lembrar de quando foi que descobri, estarrecido, a existência de uma favela enorme encravada no local que eu costumava achar, como tantos - inclusive o mercado imobiliário - que era o Morumbi. Os mapas indicam que Paraisópolis fica no distrito de Vila Andrade. E eu imaginava, aqueles condomínios de altíssimo padrão, com vista para aquele mar de barracos, e vice-versa, eis a face mais ostensiva do capitalismo à brasileira. (Bem, um pensamento assim confirma que a "descoberta" não aconteceu na minha infância.)
E assim soube que favela não é coisa só de lugar distante e "esquecido por deus". Há algumas em localidades ainda mais centrais. A Berrini tem a sua; em Jabaquara, Campo Belo, Vila Mariana, entre outros bairros nada periféricos, as moradias insalubres marcam presença. Sem vergonha nenhuma a ninguém. Bem, ensaiam-se programas de urbanização em Paraisópolis e Heliópolis, as favelas que cresceram a pontos de serem consderados bairros, de modo a coisa não ficar tao feia aos olhos de quem vê de fora, creio. Ao menos há a intenção de fazer algo...em algum lugar...para alguém...mas não sei por quê, continuo tão insatisfeito como quando vi aqueles barracos atrás daquelas torres que tantos consideram elegantes.