quinta-feira, 3 de junho de 2010

jornal nacional

Já se vão mais de quarenta anos desde que a primeira edição do Jornal Nacional foi ao ar. Desde então, outras opções de noticiários se apresentam na televisão e fora dela e mesmo a audiência do telejornal está em constante queda. Ainda assim, o noticiário da Globo ainda constitui a fonte de informação mais familiar a grande parte dos brasileiros.

O fato de uma única emissora ter a "preferência" - moldada pelo simples costume - de tantos espectadores como principal fonte de informação e, de forma consciente ou não, formadora de opinião já é extremamente chamativo por si só. Em se tratando de um canal de TV com o histórico da Rede Globo, que apoiou o regime militar e tantas outras forças ligadas ao que há de mais atrasado no país, o caso é realmente de assustar.

Assim como a Globo está longe de "sobrar" em qualidade em relação a outras emissoras, o Jornal Nacional não é em nada superior ao que é apresentado em matéria de jornalismo na TV aberta. Sob sua fachada séria e respeitável, em poucos instantes de transmissão revela-se um jornalismo fraco e repleto de vícios.

Os âncoras lêem as notícias de maneira rápida. A assimilação de todas elas exige extrema atenção e boa vontade do telespectador: um movimento em falso e perde-se algo. Na verdade, a sobreposição de manchetes, sem maior aprofundamento, compromete em muito sua assimilação.

(Não é de admirar que a mudança no penteado da apresentadora repercuta mais que qualquer notícia.)

Também não há uma sequência lógica de apresentação das notícias: à menção ao último incidente na política internacional, pode se suceder uma manchete digna de um Planeta Bizarro.

Mas ainda é jornal, ao menos no nome, então sempre há matérias de maior destaque. São, via de regra, temas que permitem a exploração sentimentalista, como crimes e tragédias naturais, mas há outras opções. Tentaremos falar um pouco de cada uma delas.

O jornal carrega no melodrama em casos que rendem comoção do público. Se alguém morre, veremos choro. Se foi assassinato, veremos alguém clamando por justiça. E tome extensa cobertura, repórteres e repórteres falando, mesmo sem nada acrescentar ao assunto, por dias a fio, até o fim ou completo esquecimento do caso. O dito padrão Globo só não permite mostrar sangue.

Quando o JN permite a "discussão" de temas controversos, ele o faz de forma rasa e manipulativa. Um lado tem mais voz que outro, e a opinião do telespectador menos atento ao fim da matéria é aquela que a Globo quer que ele tenha.

Há espaço para o denuncismo, também. O jornal não hesita em repercutir acusações publicadas na revista Veja, que está longe de merecer qualquer crédito em matéria de isenção e seriedade. Tais denúncias quase sempre carecem de confirmação (ora, é a Veja). Ao fazê-lo, a Globo se firma como a grande representante da mídia conservadora e tendenciosa, já que jornais e revistas semanais têm público bem mais restrito.

Neste ano eleitoral, uma sucessão de "crises" e "escândalos" sem fundamento já foi ventilada, em tentativa desesperada de emplacar ao menos um fato negativo que pudesse afetar os rumos da campanha, levantando o moral de seu candidato preferido.

Grande é o destaque do jornal para competições cuja transmissão é monopólio da emissora, como a Fórmula 1 e grandes campeonatos de futebol locais ou aqueles em que a seleção brasileira venha a participar. Na cobertura desta Copa do Mundo, a pieguice e o ufanismo elevados à última potência; o sucesso nesse torneio se torna questão de vida ou morte.

Via de regra, o futebol tem espaço garantido no último bloco. O único espaço realmente definido no jornal vai para o efêmero entretenimento. Enquanto isso, no Brasil e no mundo...bem, tente se lembrar de algo relevante visto no JN depois que ele termina e a novela começa.

Raso, sensacionalista, parcial, alienante: eis os adjetivos que descrevem o Jornal Nacional. Que sua audiência mantenha a tendência em queda e ele seja relegado à insignificância que merece. Por um horário "nobre" mais digno do nome, e pela maior diversidade de visões sobre nós mesmos.

Para encerrar de vez o assunto, aqui vai: um jornal que tenha tornado o nascimento da filha de Xuxa a manchete do dia não inspira a menor credibilidade. E tenho dito.

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