domingo, 15 de janeiro de 2012

noite e sangue

As paredes cobertas de sangue e restos de cadáveres. Todos mortos por ela. Vários deles, durante várias noites, tantos conseguisse acertar. Acaba de tirar a vida de mais um. Sente-se uma assassina, talvez seja mesmo, pensa. Mas não havia escolha. Era uma decisão lógica. Vivos, ão a deixariam dormir. Infernizariam sua noite. Ou eles ou eu. E não serei eu.
E eles são tantos. inúmeros. sua população está fora de controle. Todos sabemos disso. Convence-se de que está fazendo um bem. não só para si mesma, mas para todos. É para o bem comum. Certeza de que me entendem. E o que faz ainda é pouco, eles se proliferam de modo absurdo. no fundo, isto é só paliativo. Em pouquíssimo tempo haverá mais deles, aos montes. Espera que todos estejam fazendo sua parte.
E, na realidade, por que negar? Sente um prazer imenso ao matá-los. Urra de modo ensandecido ao atingi-los. Mira satisfeita a mancha de sangue nas mãos antes de lavá-las. É a confirmação de seu poder, de sua superioridade. Não foi o que lhe ensinaram? Estamos acima deles. Trilhamos um caminho glorioso, ainda que tenhamos tropeçado em alguns momentos. Deslizes que permitiram, por exemplo, que eles se espalhassem desse modo descontrolado. Mas ainda haveremos de vencer. É nosso destino.
Despede-se da família e vai se deitar. Está exausta e satisfeita. Dormirá em paz.
Um ruído familiar e um levíssimo toque. Acorda de súbito na madrugada. Surpresa e indignada. Não consegue se perdoar.
Não havia vasculhado por todos os cantos? Sua pontaria não tinha sido certeira? Tantas noites de prática...
Tanto sangue...deles...não o meu, não o meu...
Levanta-se com uma almofada em punhos. Acende a luz. Precisa limpar essas paredes pela manhã.
Como deixei esse último pernilongo escapar?