segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

O melhor golpe aos capitalistas seria a redução de seus lucros. Mas isso não vai acontecer. Não contaminados que estamos pelo vírus do consumismo. Maior e mais avassaladora das pragas, consome-nos vivos, e nos quer bem vivos para gastar mais. E, com isso, despertar em outros a vontade de gastar mais. Não vamos parar nem com um planeta pedindo ajuda.

sábado, 12 de dezembro de 2009

mansão matarazzo (ou, a força da grana)

Hoje acompanhei meu pai numa ida rápida (exceto pelo trânsito) à Avenida Paulista. Como estávamos de carro, foi necessário procurar os serviços de um dos estacionamentos praticantes de preços abusivos da região. Paramos naquele na esquina da avenida com a Rua Pamplona. Muitos que passam por ali não devem saber, mas naquele terreno árido, sem interesse ao público, existiu a residência de uma das mais influentes famílias paulistanas do seculo passado. Daí veio a motivação para a pesquisa e o texto que se segue.
Francisco Matarazzo veio da Itália, como tantos outros imigrantes em busca de nova vida no Brasil no final do século XIX e começo do século XX. Com o tempo, o "conde" construiu o maior império industrial da América Latina. Como residência para sua família, mandou erguer uma mansão na Avenida Paulista, então endereço de outros aristocratas paulistanos. A construção ficou pronta em 1941.
A partir da década de 1960, as grandes construtoras voltaram seus olhos para a avenida, então puramente residencial, e a região à sua volta jamais foi a mesma. Os palacetes foram vendidos e derrubados um a um, para a construção de edifícios, em sua maioria, comerciais. Surgia a Paulista cosmpolita que conhecemos. Poucas das antigas mansões prevaleceram e, até o final dos anos 1980, a propriedade dos Matarazzo era uma delas.
A então prefeita Luiza Erundina queria que o local abrigasse um centro cultural. para o trabalhador. O imóvel chegou a ser tombado pelo Conpresp, responsável pela preservação do patrimônio municipal. Mas a família Matarazzo se opunha a essa destinação para o casarão, atenta à especulação imobiliária que fazia do metro quadrado na região o mais caro da cidade à época. Tentaram mesmo implodi-lo, sem sucesso. Na mídia, muito se discutiu sobre a validade de um tombamento numa região já descaracterizada - valeria a pena manter a mansão como um dos poucos resquícios da antiga Avenida Paulista, contrastando com todos aqueles prédios modernos? Argumentos pró e contra surgiram aos montes, e a ideia do espaço cultural não vingou.
Em 1993, Paulo Maluf assumiu a Prefeitura. Ele suspendeu o tombamento da mansão. O órgão nacional de patrimônio (Iphan) chegou a manifestar-se a favor do tom]bamento. Em 1995, porém, na calada da noite, tratores contratados pelos próprios Matarazzo avançaram contra a casa e a puserram abaixo. O poder da família há muito declinara, e um dos seus poucos símbolos desapareceu pelas mãos de quem deveria ter mais interesse em preservá-lo.
Desde a demolição, funciona no terreno o atual estacionamento. Em 2007, finalmente a família Matarazzo concretizou sua venda. Duas gigantes do mercado imobiliário arremataram-no por R$ 125 milhões. As megaempresas pretendiam construir no espaço mais um grande empreendimento comercial para São Paulo. Até agora, nada se fez.
Restam quatro casarões na Avenida Paulista. Um deles, a Casa das Rosas, é tombado e utilizado como espaço cultural. A região não tem mais o metro quadrado da cidade; as grandes construtoras hoje fazem seus melhores negócios junto à Marginal Pinheiros. Porém, quase todo ponto da cidade está apto a receber novos empreendimentos, desde que não haja legislação em contrário. A história pregressa do local não importa.
Mansão Matarazzo, de possível casa de cultura a estacionamento, ao menos até que se decida que a hora mais rentável para construir chegou. Mais um conto de "Sampa".

Um pouco da história dos Matarazzo conta-se aqui, e pode-se ver o terreno da mansão enquanto ela ainda estava em pé aqui. Nas duas páginas, textos que serviram de base à minha pequena pesquisa. E nesta foto, a antiga entrada do casarão, tudo o que sobrou dele.