segunda-feira, 7 de maio de 2012

vivaldi

Meu primeiro CD de música erudita foi também o primeiro CD que apareceu em casa. Havia sido um presente ganho por meu pai, se não me engano, de alguém no trabalho. É uma gravação de três concertos de Vivaldi, entre eles, As Quatro Estações.
O disco, importado, data de 1991 e deve ter chegado em casa nesse mesmo ano, ou no seguinte. O preço de ter sido nosso primeiro CD foi que simplesmente não tínhamos onde tocá-lo. Como ninguém manifestasse, à época, um franco interesse em escutar Vivaldi ou qualquer outro desses grandes compositores - apesar de meu tímido gosto por música instrumental, não necessariamente erudita, na infância -, o cdzinho teve de esperar.
E esperou mesmo. Somente no final de 1995 adquirimos o primeiro aparelho de som com CD player - que orgulhosamente ficou em meu quarto; tantas emoções me proporcionou! Mas ainda levou um bom tempo para tirar a poeira daquele primeiro disquinho da casa. 
Foi numa noite de sábado, não me lembro o ano. Eu estava sozinho em casa (por quê?) e simplesmente me veio a vontade de pôr o Vivaldi para tocar. Tirei o disco do "esconderijo" dele, abri a gaveta do tocador de CD e fui em frente.
As Quatro Estações era uma única e enorme primeira faixa do CD, mais de 41 minutos de duração. As outras duas músicas tinham oito e dez minutos cada. Será que conseguiria ouvir aquilo tudo um dia? Comecei do começo. Foi quando pela prmeira vez ouvi o primeiro tema da Primavera - a música do sabonete Vinólia - de maneira voluntária. Nada mal. Nada mal mesmo. Vamos em frente, apagar a luz para dar "mais clima" e deitar na cama - ei, tomara que eu não durma.
Creio que cheguei até o final do Verão nessa primeira orelhada. Eu só vim a conhecer os movimentos do concerto depois; o encarte do CD não ajudou, limitando-se a dizer que as estações eram quatro (uau!) começando pela primavera. O fato é que eu havia gostado, a ponto de querer ouvir outras vezes. O CD então saiu da gavetinha escondida na estante da sala para a minha pequena mas orgulhosa coleção, para diante dos olhos (e ouvidos) de quem o quisesse.
Não faltou tempo para as outras duas faixas, também. A segunda era um concerto para flauta e orquestra, pelo qual não me apaixonei de início, mas acabou acontecendo; e a última, um concerto para sopros, violino e cordas, bem interessante, mas que não me atrai tanto nos dias atuais.
Tenho hoje mais um CD da Nona de Beethoven, dois de Tchaikovsky (três; um é duplo), um de coros russos e uma Carmina Burana. O grosso de meu acervo erudito, e de meu acervo em geral, está em meu computador (os torrents, tantas outras emoções). Dificilmente comprarei muito mais CDs. Mas a história desse CD do Vivaldi eu gosto de lembrar.
E já que contei essa história, permitam-me comentar algo que ocorreu agora, ouvindo uma vez mais essas músicas, antes e ao escrever. As Quatro Estações e os dois concertinhos aqui são peças, por assim dizer, didáticas, acessíveis, como que de encomenda para quem quer aprender a gostar de música erudita. Pois, convenhamos, há peças muito difíceis de ouvir, e mesmo por demais enfadonhas, para que está tendo um primeiro contato com esse repertório. Não é o caso aqui: o ouvinte iniciante põe um pequeno movimento  ali - nem é preciso ser uma Estação inteira -, aprecia e volta depois; em pouco tempo, terá ouvido o concerto grosso inteiro, abrindo ouvidos e mente para os concertos seguintes, depois para outras composições, outros autores...
Pensando bem, didático assim é o piano de Chopin, e tenho comigo que os criadores por trás dos episódios de Tom e Jerry e do Pica-Pau também o sabiam, não por acaso colocando várias peças do compositor como trilha sonora desses desenhos. Aí, um belo dia você se dá conta que gosta dos "clássicos" e nem sabia.
Para terminar, segue um vídeo da segunda faixa desse meu CD, o Concerto para Flauta e Orquestra nº 2 em Sol Menor OP. 10 (La Notte)...apreciem...