terça-feira, 11 de julho de 2006

o final de Belíssima

Posso não ter acompanhado um único jogo da seleção na Copa, mas assisti ao último capítulo de Belíssima. Tendo em mente a máxima de que neste país todos adoram futebol e novela, vocês ainda podem me considerar, no mínimo, metade brasileiro.
O que caracteriza um típico final de novela? Resolução, às vezes apressada, de tramas intrincadas que se estenderam por meses; mistérios desvendados; o derradeiro castigo dos vilões, pondo termo ao sofrimento dos mocinhos, que selam sua união trocando um beijo apaixonado na última cena do folhetim. Não se fugiu muito desta receita em Belíssima, exceto por uma ou outra surpresa.
Para começar, um enorme clichê: o inescrupuloso André (Marcelo Anthony), acidentalmente alvejado por Bia Falcão (Fernanda Montenegro), a grande vilã da história, no capítulo anterior, tem seu sofrimento prolongado até Júlia (Glória Pires) visitá-lo no hospital. Lá, ele entrega todas as tramóias de sua mentora para chegar ao poder e diz a Júlia que sempre a amou. Bia desaparece da cidade, mas é encontrada pela polícia Junto com os oficiais está Vitória (Cláudia Abreu), que revela ser sua filha desaparecida. Bia consegue enganar os policiais e foge novamente, desta vez para fora do país.
Encerrado esse plot, vemos os finais felizes de personagens secundários. Aqui, o humor leve dá o tom. Até as velhas alegres - de ambos os sexos - têm seu momento de brilhar e encontram caras-metades. Algo que merece ser citado é o modo como todos descobrem o romance de Safira (Cláudia Raia) e o mecânico (Reynaldo Gianechini). Ver um prédio caindo devido a uma intensa conjunção carnal parece bizarro à primeira vista; porém, se pensarmos no esforço que os dois sempre fizeram para esconder seu caso, a coisa até funciona.
Em busca de lances significativos de fato, temos de avançar diretamente à última parte do capítulo, que se passa quase totalmente na Europa. Júlia vai a Grécia encontrar Nikos (Tony Ramos) - e temos aí imagens lindíssimas do país. O grego em princípio rejeita a mulher que ama, alegando que ambos vivem em mundos diferentes (será que existe alguém que nunca tenha visto isso antes?), mas é óbvio que os dois ficam juntos no final, com direito a "casamento grego" e tudo mais.
Após a cerimônia, somos levados a Paris, para saber de Bia Falcão. Em princípio, a megera parece estar sozinha num quarto de hotel. Ao fundo, Elis Regina cantando "As aparências enganam..." O espectador pode pensar que Bia vive em amarga solidão, mesmo tendo escapado da justiça. Contudo, não é bem assim: ela tem a companhia de um rapaz, e seus beijos. Final feliz para ela.
A próxima cena, a derradeira da novela, surge como resposta ao que acabamos de ver. De volta à Grécia e aos récem-casados Nikos e Júlia. Os dois trocam algumas palavras. Nikos diz algo como "mesmo com tudo de ruim, viver ainda vale a pena". Não me lembro das palavras exatas. Clichê, a frase? Pode ser. Mas tem um poder danado no contexto em que foi inserida.
Esta última seqüência foi a única capaz de oferecer brilho a um final de novela que, de outra maneira, teria sido medíocre, apenas "mais do mesmo". A repetição de fórmulas é minha principal queixa em relação aos folhetins atuais, ao lado da presença cada vez mais constante de pseudo-atores. Se algo sai do lugar-comum num meio em que raramente se resolve arriscar, mesmo que seja por um mínimo detalhe, e ainda provoca o espectador médio (como assim, bandido se dar bem no final?), não digo que todas as outras mesmices estão perdoadas. Apenas sorrio por dentro com o pequeno esforço do autor em fazer a noite do povão diante da tevê ter um momentozinho especial.

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