sexta-feira, 14 de julho de 2006

transcender

Você já quis chorar a tal ponto de achar necessário que seu corpo se abrisse no meio para dar vazão à enorme quantidade de lágrimas que aparentemente você iria verter? E mesmo assim todo esse choro não seria o suficiente para o que você tem no peito?
Essa sensação, já experimentei, e não porque estivesse triste, pesaroso, ou sentindo uma profunda dor psicológica. Aconteceu, e tudo o que eu estava fazendo na ocasião era ouvir música. Não uma música qualquer...algo realmente belo, tocante, capaz de fazer o ouvinte viver, digamos, uma experiência transcendental.
Em que consiste isso? É como ter consciência de nossa insignificância no universo, porque você viu o que torna o universo tão sublime e por um mísero instante, ainda mais mísero se pensarmos nas dimensões infinitas do espaço e do tempo, você percebe que é parte de toda essa imensidão também.
Creio que, durante quase toda nossa vida, estamos muito distantes dessa espécie de "comunhão cósmica" a qual encontro tanta dificuldade em descrever. E mais complicado ainda é atingi-la. O motivo é apenas um: falta de tempo. Estamos sempre ocupados demais com nossas vidas, nossas relações sociais, com a impressão que causaremos nas pessoas, com nossas próximas refeições. E tais preocupações são corretas, pois são necessárias. Pode acontecer, mais dia, menos dia, a qualquer ser humano descobrir que os assuntos ditos "do mundo", por mais bem resolvidos que estejam, não são as únicas coisas importantes. Mesmo rodeados de pessoas amáveis e vivendo de maneira confortável, pode-se sentir uma certa solidão que nada, nada neste mundo é capaz de aplacar, ao menos entre aquilo que já conhecemos.
Onde, então, encontrar tal conforto? Há quem o busque, poe exemplo, na religião. De fato, pessoas afirmam ter vivido experiências extasiantes enquanto cumpriam rituais religiosos. Há quem considere isso uma grande bobagem. Eu mesmo já pensei assim; hoje, não mais. Não possuo um credo, mas tenho as músicas. Graças a elas, quando alguém fala em sentimento de elevação, de estar próximo de algo muito superior à nossa compreensão, acho que sei do que se trata.

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