Sinto que estou devendo umas palavrinhas sobre a Copa do Mundo neste blog. Sabe como é, sou brasileiro, não posso me manter calado sobre um assunto que causa tanta comoção país afora, apesar de não dar a mínima para o desempenho da seleção brasileira na competição. Creio que acabei de dar uma pista quente, por assim dizer, sobre meu ânimo para o torneio. Estou alheio a toda essa expectativa que o país está vivendo.
Apenas agora há pouco fui buscar um mínimo de informções sobre o Mundial na Internet, para confirmar se o primeiro jogo aconteceria hoje - vejam, estou tão afastado desses assuntos que mesmo essa informação básica eu não a tinha com precisão. Enquanto isso, muita gente já deve estar com suas tabelas à mão, conjecturando possíveis resultados de jogos, apontando equipes "zebras", azarando os argentinos. E, sobretudo, torcendo pelo sucesso da equipe montada em nosso país.
Isso não me pega mais. Afirmo com a mão no peito, numa clara provocação aos mais fanáticos.
Fatos: nunca fui grande fã de futebol. Mais por uma conjunção de fatores externos em meus tenros anos que qualquer outro motivo, tornei-me são-paulino e anti-corintiano, e creio que sempre serei. Posso falar sobre isso algum dia, mas este não é o momento.
Acompanhei a seleção brasileira na infância e na adolescência, como até então me parecia que todos à minha volta, pelo simples fato de serem brasileiros, o faziam. Os tropeços do time me chateavam, suas conquistas eram minhas também. Chorei pelo tetracampeonato de 1994 como se este fosse a realidade mais emocionante que me tivesse sido permitida vivenciar - bem, dado o que eu era, talvez isso fosse verdade na época. Assisti a todas partidas da seleção com ceticismo. Para mim o tetra ainda não viria. Mas ele aconteceu, ainda por cima no ano em que o esporte brasileiro havia perdido um grande ídolo, Ayrton Senna. A trágica morte do piloto também me fez derramar algumas lágrimas e creio que, para o brasileiro médio, com a vitória no futebol surgiram novos heróis, que substituíam aquele que tragicamente havia partido. O que dizer, então, de um moleque bobo de catorze anos que vivia grudado na frente da televisão? Tudo fazia parte de um grande contexto - se me permitem o neologismo - prantístico. Daí em diante, foi um salve a seleção atrás de outro.
Então veio a Copa da França, em 1998. Mais uma vez, jogos emocionantes até a grande final contra os anfitriões do torneio. Um grande fracasso, como todos sabem. O que teria acontecido aos nossos heróis? Por que haviam lutado tão vorazmente se não mostraram nem sombra da garra e da determinação vista nos jogos - batalhas! - anteriores.
Logo surgiram os rumores que a Copa havia sido entregue. O resultado já estaria decidido em favor dos donos da casa. Foi o fim do mito, ao menos para mim. Dei-me conta de que tudo que experimentava relacionado a futebol era influência do meio: das pessoas, por sua vez influenciadas pela mídia, por vezes tão ufanista, exceção feita a Galvão Bueno, sempre ufanista, sempre exaltando a "chamada" pátria de chuteiras. Meu ódio pelo comentarista da Rede Globo começou aí.
A paixão incondicional foi suprimida pela racionalização. E daí que a seleção tivesse perdido, ou mesmo entregue, uma Copa? Em que isso me torna uma pessoa pior, melhor, o que seja? E se tivesse ganho, em que consistiria a alegria da taça conquistada? Seria sensato dizer que se trataria de algo nosso? Uma vitória do Brasil, enquanto nação soberana, República Federativa? Mesmo? Pois é como às vezes fazem parecer.
Por que tanta exaltação por um mísero esporte, que no final das contas não passa de um grande negócio, no qual não temos participação alguma como investidores? Apenas pagamos para ver um espetáculo de qualidade discutível - mais ainda para quem não gosta de futebol - e enchemos os cofres de emissoras de televisão, bem como o de seus anunciantes, e de entidades diretamente relacionadas a esses eventos. Estou sendo frio demais? Apresente-me, então, um único ser movido por meras paixões ao tratar de assuntos mercantis. Caso apareça alguém, garanto que o pobre coitado não dura muito. O mercado é mais hostil que uma selva. Não creio mesmo que algum jogador, ao perder um jogo, pense mais na decepção que causa a um país que no que deixa de ganhar em dinheiro ou em prestígio (que por fim se traduz em mais dinheiro).
É isso. A impossibilidade de dissociar finanças e futebol e a cobertura da imprensa, especialmente a televisiva, de eventos esportivos, normalmente variando entre o pedante e o ultranacionalista, foram responsáveis por meu afastamento em relação a assuntos ligados à seleção. Não torço contra, mas os contornos de drama com que pintam a trajetória da equipe em todo torneio de grande porte me levam a abandonar a habitual indiferença e divertir-me com suas eventuais derrotas.
Ao que parece, eu tinha mais a dizer sobre Copa do Mundo do que podia imaginar. Nada dentro do que normalmente se esperaria de alguém nascido num país onde se respira futebol, mas creiam-me, vivo muito bem assim. Torçam à vontade, se isso lhes apetece. Seu interesse pelo desempenho do time do Brasil ou pela vida social dos jogadores durante sua estada no país sede da competição - relaxem, eu sei que é a Alemanha - não me ofenderá, a menos que me julguem menos brasileiro por não não dar a mínima para tais tópicos. Bem ou mal, meus motivos foram expostos aqui, e eles são bastante fortes para que minha opinião não mude novamente.
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