quinta-feira, 7 de maio de 2009

urbana 2

(em minhas preces, peço que urbana 1 se torne um dia texto completo.)



(...) Tenho meu espaço mais ou menos garantido na cidade. Tive boa educação, médicos; hoje moro bem - como quando vivia com meus pais - , tenho emprego de que posso me orgulhar em termos financeiros e meu lazer está garantido. Tenho dinheiro. O pobre não tem as mesmas chances. Não é nem cidadão. Por isso, só consegue moradia, isso quando consegue, bem longe de mim, longe da cidade boa para os endinheirados. É como as coisas são. E com destino desses, o pobre tem um estilo de vida que eu não consigo imaginar, talvez nem entender. E isso me assusta. Vejo alguém diferente de mim e fico logo ressabiado. Mais todas essas coisas que a gente ouve, na mídia, ou das pessoas, pessoas como eu. A falta de segurança cada vez maior, essas ruas que se tornaram um perigo. E a maior parte dos criminosos é essa gente despossuída, que veio de favelas. Então vou fazer o que muitos de nós estão fazendo. estou indo para um condomínio fechado, com muros, grades, câmeras de vigilância, segurança privada. Posso pagar, mesmo. Mereço um pouco de conforto. Falando em conforto, já chegou a hora de trocar de carro. Vou comprar um desses bem grandes e altos. Devem ser uma delícia de dirigir. Na propaganda diz que enfrentam até enchente. Acho uma ótima idéia, esse problema das enchentes parece aumentar a cada ano. Um carrão desses não vai me deixar na mão. Dirijo sempre sozinho, nunca se sabe. O seguro é bem mais caro que o do outro automóvel. Fazer o quê? Carro sem seguro é impensável nos dias de hoje. Meus pais, meus tios, eles tiveram vários carros e não tinham que se preocupar com isso. É essa cidade, cada vez mais cheia, mais perigosa. Felizmente, posso manter o padrão de vida que acredito que mereço, posso arcar com seguro...e condomínio. Mas até estou gostando de morar aqui. Achei que não iria gostar de apartamento. Eles oferecem tanta coisa. Parque privativo, não-sei-quê gourmet, todos esses equipamentos de lazer. Se eu quiser, praticamente só preciso sair do prédio para trabalhar. E essa vista que tenho...aquilo mais ao longe é uma favela? Bem, daqui a algum tempo posso pensar em procurar algum desses condomínios com casas enormes fora da cidade, desses onde só se chega pegando estrada, praticamente no meio do mato. Aquilo, sim, deve ser conforto.

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