(sujeito a revisão)
Nesse episódio de Os Simpsons, por fazer todo mundo cantar rock'n'roll durante um culto, sem autorização do reverendo - não era uma dessas celebrações modernas - Bart é obrigado, juntamente com seu comparsa, e delator, Milhouse, a limpar os tubos do órgão que "profanou". Enquanto cumpre o castigo, o garoto Simpson revela não acreditar em alma ou em qualquer coisa relacionada a espiritualidade, ao menos aquela que conhece da igreja. Para prová-lo, aceita os cinco dólares que Milhouse lhe oferece para ter sua alma, um pedaço de papel no qual se escreveu "Bart Simpson's soul".
A partir disso, coisas estranhas começam a acontecer. A porta automática do mercadinho ignora Bart e funciona normalmente para os outros clientes. O cachorro e o gato o hostilizam. As coisas se tornam preocupantes de fato quando ele se vê incapaz de rir assistindo a Comichão e Coçadinha e a um acidente doméstico com Homer. O riso é a linguagem da alma, diz sua irmã Lisa, citando Pablo Neruda. E Bart sai para recuperar sua alma perdida.
Mas o que realmente motiva Bart em sua busca - e também este autor a escrever sobre o episódio - é um sonho perturbador. Nele, as crianças de Springfield se divertem ao lado de suas respectivas almas, descritas como "brinquedos que nunca se quebram". Num dado momento, um dos garotos propõe que todos escolham um parceiro para irem de canoa até uma cidadela. Cada um escolhe sua alma; Milhouse vai com a sua própria e a de Bart, o qual, por falta de uma companhia, não consegue acompanhar os outros. Ao final do episódio, após reaver sua alma com a ajuda de Lisa, Bart revisita o sonho anterior, mas, desta vez acompanhado, pode chegar à cidadela e, no caminho, atrapalhar o menino cdf.
Difícil tentar explicar os fatos ocorridos ao Bart "desalmado". Antes que alguém diga, "é só um desenho", convém lembrar que coisas inexplicáveis acontecem o tempo todo; nomeá-las todas como coincidências soa apressado.
Fato é que o inexplicável impressiona Bart de modo a levá-lo a procurar por algo em que sequer acreditava. Pode-se dizer que ele se converteu. Não a alguma religião, mas à crença de que existe algo misterioso por trás de nossa existência, responsável pelas características únicas de cada ser humano. Algo que, uma vez perdido, devido a nossas ações, torna-nos irreconhecíveis a nossos próprios olhos. Podemos chamá-lo de alma. No entanto, de onde ela vem? Trata-se de algo com que nascemos, ou ela é adquirida a partir de nossas experiências, sobretudo as mais dolorosas, como diz Lisa enquanto Bart engole sua alma de papel? O garoto fica com a primeira opção; cada um de nós pode escolher a sua.
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É interessante o motivo pelo qual Milhouse entrega Bart. Ele pensa, ao repetir as palavras amedrontadoras do reverendo, na punição que receberia. Religiosos maus podem render piadas boas, das finas.
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