Tenho uma pedra no bolso de minha blusa favorita. Minhas intenções, evidentemente, são belicosas. Quero meu melhor arremesso. Meus inimigos, aqueles que desejo atingir, não possuem rosto definido, ou mesmo um traje em comum que os defina como tais; suas atitudes identificam-nos. Faz-se desnecesssária uma observação mais atenta, não há disfarces, camuflagens sob as quais enxergar. Assim, toda minha concentração volta-se para a pedra que agora manuseio. Sinto sua aspereza enquanto a faço caminhar sob meu punho cerrado, cócegas nos dedos e na palma da mão. Ela, a pedra, é suja, recoberta de areia que já foi também rocha e de poeira incapaz de me contar sua vasta história, da qual prender-se em meus dedos é mero apêndice numa biblioteca de volumes sem conta. A pedra abandona minha mão. Ou antes eu a abandono, não sei qual direção ela toma, não a vejo, a fim de não me denunciar. Jamais saberei se minha odiosa vontade se concretizou.
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