A chegada do chefe de Estado do Vaticano e suprema autoridade da Igreja Católica promete alterar a rotina dos paulistanos, fiéis - praticantes e afastados - ou não. E coincidiu com uma abrupta mudança no clima que derrubou a temperatura agradável dos últimos dias em muitos graus. É como se o tempo quisesse se adequar ao visitante. Um absurdo, evidentemente; uma pessoa, por mais influente que seja, não nos obriga a tirar do armário as vestimentas mais pesadas, mas por que não aproveitar a circunstância para pensar sobre esta ilustre vinda?
Bento XVI, o papa, não é das pessoas mais carismáticas. Convenhamos! Na comparação com seu antecessor, João Paulo II, homem vigoroso e de fala mansa - ao menos, até começar a definhar até o triste fim diante de nossos olhos - o visitante de hoje perde feio. O pontífice atual, na realidade, é mais lembrado por suas declarações de cunho conservador, daquelas que confirmam a muitos de nós o quão distante está o pensamento da cúpula católica em relação à realidade do mundo (evita-se o uso do adjetivo "mundana" para não causar falso entendimento).
Aí chegamos a um ponto interessante. O número de católicos vem caindo, e os que abandonam o rebanho do papa não necessariamente se tornam evangélicos, como se poderia supor, mas também escolhem outras crenças distintas, ou simplesmente não seguem mais religião alguma. Seja qual for o caso, temos uma situação em que o catolicismo tenta melhorar sua imagem. E um dos motes da visita de Bento XVI a nossas terras é a canonização de Frei Galvão. Sim, um santo brasileiro, e ainda por cima o primeiro deles. Um belo golpe de marketing. Mas o dito popular está correto, já que esse santo de casa não fará milagre algum. As posições da igreja continuarão as mesmas. O pessoal do Congresso disposto a levar adiante um plebiscito sobre a legalização do aborto vai ouvir a sua. Idem para os "fomentadores da promiscuidade" que levam educação sexual a alunos pré-adolescentes e distribuem preservativos por aí a quem quiser usá-los.
Papa no Brasil é megaevento, uma benção a quem a toma como tal. Contudo, mesmo parando o trânsito e provocando comoção coletiva à maneira, digamos, de um popstar, a igreja é a mesma de sempre, que ninguém se engane. E isso não é uma crítica. Cada um tem suas crenças. Os chefes católicos possuem suas próprias convicções e, baseados nelas, tomam decisões sobre a instituição que governam. Com certa frieza, pode-se notar.
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