sexta-feira, 20 de julho de 2007

o fim de acm

Eu não gostava de Antônio Carlos Magalhães. Assim como a maioria das pessoas dotadas de algum bom senso em relação ao que acontece nesta terra.
Ele era um dos mais notáveis exemplos sobre o que há de pior na política brasileira. Apoiou e tomou parte de quase todo governo brasileiro desde a ditadura militar - só com Lula as coisas não deram muito certo. Era médico de formação, mas foi ministro das Comunicações e presidente da Telebrás, dominando esse estratégico setor à sua maneira e de seus aliados.
E ainda posava como grande pai do povo baiano, quando sempre foi evidente a única causa que respaldava: manter a influência de seu grupo político, cujo principal expoente era ele próprio.
Agora, está morto. Pensamentos como "já vai tarde" e sobre vasos ruins escapam, ainda que sem querer, pois morte e o conseqüente pesar que se abate sobre familiares e amigos da vítima não são coisas que se desejem, assim aprendemos. Porque é bom recordar que, fosse quem fosse, o falecido era humano e tinha seus sentimentos. Suas idas e vindas a hospitais nos últimos tempos indicam que ACM sofreu e sofreu até receber o mais definitivo dos remédios.
Eis o que é sua morte. Ela não significa trajetória interrompida, como a de seu filho, nove anos atrás. O que ACM fez está feito, bem ou mal, dependendo da perspectiva. Querer-lhe o fim da vida como grande castigo, revanche, não era apenas condenável segundo várias correntes de pensamento, mas também completamente inútil. Seu modo de fazer política resistirá, ainda que seus seguidores não mais o tenham como exemplo vivo. E, mais importante, as conseqüências de um dia ter havido ACM custarão a morrer. O povo baiano chorará sua partida em cortejo público e ao tempo de luto que se seguirá. Por muito tempo lembrarão o grande herói que fazia tudo por sua terra amada e se comovia com as demonstrações de afeto rendidas por seus "filhos". E pouco importa se o meu, o seu esclarecimento martele em nossas cabeças o quanto isso era falso, que em boa parte do país, especialmente a mais sofrida, o controle de difusoras de rádio e televisão e o poder político tenham o mesmo dono.
E pouco importa se também nos cansamos de ouvir as mesmas bocas bradando por princípios éticos e democráticos quando estes lhe convinham: as mesmas que se calavam diante das atrocidades cometidas durante as épocas mais escuras de nossa história, talvez cheias após terem se fartado com os ganhos de um modo de governar que pode ter selado para sempre miséria para uma parcela considerável de brasileiros.
ACM vai descansar depois de um longo período de labuta, como alguém honrado. E nós continuamos por aqui, lutando sob o legado dele e de tantos outros para nosso amado país.

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