quarta-feira, 4 de outubro de 2006

agora sim...sobre as eleições

(as palavras pensadas que fiquei devendo...texto em "germinação" desde dois dias atras)

São Paulo, manhã de segunda. Nada de sol. O céu está tomado por nuvens, de onde cai uma chuva fina e intermitente. Faz frio, como é praxe quando há garoa. Isto pode soar clichê, mas, em virtude dos fatos tristes do dia anterior, parece que até mesmo o dia acordou carrancudo.
Eleição e copa do mundo tem suas semelhanças. Esses dois eventos mobilizam a nação, por mais que sempre haja quem deseje não se envolver de forma alguma com eles. Dentre os participantes, há favoritos e azarões, há odiados e respeitados. Há torcida, a favor e contra. Há expectativa. A diferença entre a festa do esporte e a da democracia é que, na última, um bom desempenho não depende apenas onze protagonistas, muitos entre os quais mais interessados no dinheiro a ser ganho ou nas mulheres que poderão conquistar ao longo da carreira. O sucesso, ou fracasso, de um ideal politico, ou do ideal de um politico, está nas mãos dos eleitores. E esses são milhões, milhões de pessoas, tão iguais, ao contrário dos futebolistas, poucos e dotados de talento ímpar. Os eleitores são iguais, pois têm acesso aos mesmos dados sobre todos os postulantes. O uso dessas informações é livre para cada indivíduo, mas, aqui entre nós: a partir de algumas delas, poderiamos esperar que se desenvolveu um senso comum capaz de nos fazer dizer "não!" a quem sequer deveria se lançar candidato.
Contudo, pessoas comuns, gente como a gente, perpetuaram comportamentos imperdoáveis, incompativeis com o grau de esclarecimento que se espera após vinte anos de democracia e boas frustrações. Assim, foram eleitos - em alguns casos, reeleitos, pior ainda - costumazes corruptos, auto-proclamadas "celebridades" e eternos caciques ultraconservadores, ou seus representantes. Somos todos povo, gente sofrida que se diz cansada de um Brasil ao mesmo tempo rico e pobre. Não é fácil explicar os resultados das urnas.
A seleção brasileira, perca à vontade, mesmo os mais fanáticos logo se aquietam, pois isso em nada afeta nossas vidas de fato. Já os resultados da votação de domingo têm o amargo sabor de uma goleada aos que torcem por nosso pais. E seu efeito é duradouro, quatro anos no minimo, ao final dos quais mais uma vez seremos chamados a escolher quem nos representará, entre dignos e indignos.
À tarde, o sol voltou a aparecer. Pode-se pensar que alguém acima de nós ainda crê em nossa capacidade de aprendizado, mesmo a base de bordoadas. Aqui, em terra firme, muitos estão profundamente decepcionados. Esses continuarão a enxergar os dias bonitos lá fora, mas, ao se perguntarem sobre o que esperar daqueles que nos governam, tudo ficará cinza, feio, nublado.

Nenhum comentário: