quinta-feira, 17 de abril de 2008

lembrem-se, lembrem-se

o anjo esquerdo da história (Haroldo de Campos)

os sem-terra afinal
estão assentados na
pleniposse da terra:
de sem-terra passaram a
com-terra: ei-los
enterrados
desterrados de seu sopro
de vida
aterrados
terrorizados
terra que à terra
torna
pleniposseiros terra-
tenentes de uma
vala (bala) comum:
pelo avesso afinal
entranhados no
lato ventre do
latifúndio
que de im-
produtivo re-
velou-se assim u-
bérrimo: gerando pingue
messe de
sangue vermelhoso
lavradores sem
lavra ei-
los: afinal con-
vertidos em larvas
em mortuá-
rios despojos:
ataúdes lavrados
na escassa madeira
(matéria)
de si mesmos: a bala assassina
atocaiou-os
mortiassentados
sitibundos
decúbito-abatidos pre-
destinatários de uma
agra (magra)
re(dis)(forme) forma
- fome - a-
grária: ei-
los gregária
comunidade de meeiros
do nada:
enver-
gonhada a-
goniada
avexada
- envergoncorroída de
imo-abrasivo re-
morso -
a pátria
( como ufanar-se da? )
apátrida
pranteia os seus des-
possuídos párias -
pátria parricida:
que talvez só afinal a
espada flamejante
do anjo torto da his-
tória cha-
mejando a contravento e
afogueando os
agrossicários sócios desse
fúnebre sodalício onde a
morte-marechala comanda uma
torva milícia de janízaros-ja-
gunços:
somente o anjo esquerdo
da história escovada a
contrapelo com sua
multigirante espada po-
derá (quem dera! ) um dia
convocar do ror
nebuloso dos dias vin-
douros o dia
afinal sobreveniente do
justo
ajuste de
contas



(Não chequei se podia colocar o poema sem autorização de alguém; se eu estiver infringindo alguma lei, sejam polidos e me avisem antes de um possível inquérito criminal. O mais que faço aqui é divulgar um autor nosso.)

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