O tempo está seco. Parece que, todos os dias, alguém queima alguma coisa aqui nas redondezas. Olho em volta e em alguma direção sempre vejo fumaça; sempre que saio, retorno com as roupas mal cheirosas, trazendo poluição de fora, que se une à poluição próxima, assim como se carregam e se mesclam os grãos de plantas, só que a união de gases não traz vida nova ao mundo, mas antes subtrai o tempo das que já existem. À noite, quando escovo os dentes, é como se algo se abrisse no interior de meu sistema olfativo e sinto o ar carregado como nunca, uma sujeira invisível da qual parece não haver escapatória. Penso que a casa concentra a fumaça de hoje, a de dias anteriores e mesmo a de invernos fechados; por mais que se abram portam e janelas, uma casa tem que ser assim fechada, e muito do que entra acaba concentrado aqui. Aprisionado, e aprisionando também.
Se a fumaça é eterna, reclamo dela para sempre também.
Se a fumaça é eterna, reclamo dela para sempre também.
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