Ontem saí de ônibus e no meu trajeto deparei com três crianças, uma na ida e duas na volta, vendendo doces no interior do coletivo. Assim, como um adulto faria, estendendo uma mercadoria à mão de cada passageiro e anunciando seu preço. Só faltou mesmo o tradicional discurso, "desculpe estar incomodando a viagem de vocês", e coisa e tal.
Não são as primeiras nem as últimas crianças a serem obrigadas a trabalhar, mas nunca antes a exploração infantil me deixou tão indignado. Devo ter me imaginado no lugar delas, perdendo meus primeiros anos queridos. Por pouco não disse à primeira garotinha que ela não deveria estar fazendo tal coisa. À ocasião, eu até aceitaria um daqueles pacotinhos de balas, mas me recusei a comprar, com a convicção de que não ajudaria a manter aquela injustiça.
Minha infância foi muito feliz; em minha época, inclusive, custei a aceitar que ela estivesse chegando ao fim, mas isto é outra história. Se fui tão feliz em minha meninice, era principalmente porque gozava de total liberdade para ser uma criança de verdade: sonhadora, despreocupada, curiosa, alegre. Poupado de maiores compromissos ou atribulações. Sim, pois estes cabem à vida adulta. E tirar de uma criança o que ela possui de mais autêntico é desnecessário ato de apressar o curso da vida, além de crime dos mais absurdos. Sem dúvida, há no mínimo um adulto por trás de cada inocente pequeno vendedor de rua, pedinte, o que for. No mínimo um contraventor. Tratar-se de alguém da família, então, só piora as coisas.
A infância não pode ser perdida em nome de mais alguns trocados para ajudar a sustentar a casa. Pais, arranjem-se de outra maneira, pois esse é seu papel: preservar, física e moralmente, seus pequenos. O que tiver de ser aprendido sobre a dureza da vida, o será em seu devido tempo.
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