terça-feira, 11 de dezembro de 2007

fuga

Certo dia, alguém disse que eu vivia num mundo à parte, bonito, criado por mim mesmo. E foi algo que jamais esqueci. Para começar, a pessoa que o afirmou é bastante inteligente, e é uma das poucas neste planeta com quem eu compartilhe algo que pode ser definido como verdadeira amizade. A expressão "mundo à parte" remete quase instantaneamente ao caso de meu irmão, identificado como portador de traços de autismo e a cada dia mais determinado, se posso usar aqui tal palavra, a proceder única e exclusivamente conforme suas vontades não verbalizadas. Além disso, a mencionada beleza do mundo de André explicaria minha delicada relação com os sons musicais e minha empatia e inquietação por um mundo natural irremediavelmente modificado pelas mãos da lógica e da ganância.
Sobretudo, chama atenção aquela ser a maior verdade nunca antes dita a meu respeito.
Começo, entretanto, a enxergar com maus olhos minha gritante individualidade. Estou preso a este mundo inventado - meu refúgio, meu espesso cobertor em dias muito frios, minha inesgotável fonte de gozo - a ponto de não saber como me colocar fora dele. A todo momento esse gesto é necessário, e jamais procedo de maneira realmente satisfatória. É estranho demais: sou capaz de aconselhar a qualquer pessoa a tomar decisões lógicas e racionais num mundo lógico e racional ou então, se nada me for perguntado, balançar a cabeça para aquele menino tão simpático a meus olhos porque ele insiste em viver de ideais num mundo definido pela palavra concessão. Mas eu mesmo sigo aprisionado num mundo fantástico. Ainda acredito que posso viver uma felicidade idealizada, inclusive no campo profissional, se não em tempo integral, o suficiente para dizer, sou mais alegre que triste.
Mas isso não soa pueril demais? Adultos sofrem. Sempre, sempre. Por que não é possível "cair na real"?
Quando começou o isolamento? O mais óbvio palpite seria o momento em que vi minha preciosa infância ameaçada, tendo de partir para nunca mais, e tive muito medo. Mas não terá começado antes? Minha meninice não terá sido mágica demais? (imaginem se eu tivesse sido rico, então.) Ou existiria algum tipo de propensão ao mutismo e à misantropia em minha família, o qual se manifesta de forma mais evidente e até patológica em meu irmão, mas tão presente em meu ser também? Genética é um ramo da ciência capaz de fazer o homem acreditar em destino?...
Estou numa bela ilha tropical, perdida em algum lugar ao sul, envolvido por delícias imaginadas, e mesmo aqui não me livro do medo avassalador do mundo dos homens.

E meu primeiro post mais elaborado em semanas ficou uma porcaria, incoerente, mal escrito.

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