A mentira, vejo-a como o mais desconfortável lar que alguém pode escolher para habitar. Estranhamente, porém, seu único residente se esforça ao máximo para fazer parecer a si mesmo que está num local aconchegante. Ignora as infiltrações no teto, finge que o piso é firme. Ele deslumbra com gosto a parede carcomida como a uma recém-pintada; mal repara, entretanto, na mobília desgastada que escolheu, e esta vai se sujando sempre.
O imóvel já era pequeno originalmente e a cada dia o dono sente ter de se encolher mais para ali caber.
E se alguém quer entrar nessa casa - sem convite, por razões óbvias - todo cuidado é pouco para impedir que o visitante ultrapasse a porta de entrada; o morador se posta à frente dela também para não notarem que ela está roída por cupins. Como desculpa, cita uma arrumação que, em seu íntimo, não sabe quando e como será feita.
A vergonha sentida pelo solitário mentiroso precisa ser imperceptível a ele próprio.
Ainda assim, ele não se desaloja facilmente desse lugar agourento; torna-se parte da decoração imunda, une-se a ela em seu abandono. Casa e morador estão mutuamente contidos, como naqueles jogos em que uma imagem se repete indefinidamente, quem é dono de quem.
O imóvel já era pequeno originalmente e a cada dia o dono sente ter de se encolher mais para ali caber.
E se alguém quer entrar nessa casa - sem convite, por razões óbvias - todo cuidado é pouco para impedir que o visitante ultrapasse a porta de entrada; o morador se posta à frente dela também para não notarem que ela está roída por cupins. Como desculpa, cita uma arrumação que, em seu íntimo, não sabe quando e como será feita.
A vergonha sentida pelo solitário mentiroso precisa ser imperceptível a ele próprio.
Ainda assim, ele não se desaloja facilmente desse lugar agourento; torna-se parte da decoração imunda, une-se a ela em seu abandono. Casa e morador estão mutuamente contidos, como naqueles jogos em que uma imagem se repete indefinidamente, quem é dono de quem.
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