Deslizo por rios caudalosos a bordo da jangada que construí antes da morte de meu pai. Logo mais estarei novamente diante de meu povo. Minhas jornadas são longas e solitárias, gosto delas assim. Sempre saio silenciosamente de casa, meu ideal é o rio ser a única testemunha de minha partida, mas é impossível numa comunidade tão pequena. Sei que me olham com desconfiança por me acharem assim tão reservado, mas ao mesmo tempo há uma certa reverência em sua contemplação curiosa, eis o jangadeiro. A necessidade de velejar me impele mais que tudo a singrar terras, embora me disponha a nunca voltar de mãos vazias de minhas andanças, sem nada além de histórias enfadonhas aos ouvidos que me cercam; trago presentes aos pequenos, muito coloridos, eles me divertem. Nunca vou até o mar. Penso às vezes em grandes viagens, longas, a se perder na memória o horário e o local de partida. Em meu íntimo aguardo o dia em que empreenderei a mais longa de minhas jornadas, e não haverá ninguém a se surpreender com o fato de eu jamais retornar.
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Um comentário:
Gostei de percorrer na estrada da sua alma caro André.Revela sensibilidade e ternura pelas coisas boas e simples da vida.
É tão bom deixar deslizar os pensamentos nas asas da imaginação.
Força e continue.
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