sábado, 29 de março de 2008

fotos de celular

Analisando assim, friamente, o telefone celular, nome genérico dado a esse artefato multitarefa que boa parte das pessoas não totalmente excluídas da sociedade de consumo atual possui, o qual também pode ser utilizado como aparelho de telefonia móvel, é uma das invenções mais peculiares da história. Não pelo aparelho em si, mas devido ao retrato que nos revela da humanidade.
E note-se que, num primeiro instante, alguém poderia pensar que o celular, ao contrário, aos poucos nos desumaniza. Capture isto: uma pessoa se aproxima, falando, mas não é a você que ela se dirige. Nem a alguém próximo, aliás: seu interlocutor é um ser invisível, ele ou ela também a falar "consigo" em outra parte. Mas esta é uma foto à parte no álbum que ora contemplamos. Quase todos já ouviram da boca de alguém o dito "não vivo sem meu celular" e, a partir do que se apresenta nas próximas linhas, tal dependência se mostrará aos olhos legítimo sinal de...bem, tire o leitor sua conclusão.
Falamos acima sobre uma pessoa já engajada em uma conversação ao telefone. Mais interessante ainda, entretanto, é notarmos a posse do aparelhinho antes de qualquer palavra ser dita, quando ouvimos um daqueles toques ou ringtones tão correntes quanto extravagantes. Se o celular toca seqüências de peças eruditas ou pior, uma campainha de telefone, ele não poderia ser mais arcaico. Hoje muito se escolhe, basicamente, entre os hits do momento e os inventivos toques falados - quem já ouviu sabe, impossível descrevê-los. Quer algo marcante de verdade e as opções anteriores não satisfazem? Ninguém deixará de olhar em volta procurando aquele telefone que tocou o tema da clássica cena do assassinato em Psicose ou rugiu como o monstro de fumaça da ilha de Lost.
Completa-se a ligação. Agora, por favor, não seja indelicado e procure fechar os ouvidos à conversa alheia. Se, por um motivo qualquer, porém, a pessoa se vê obrigada a elevar o tom de voz...então seja bem-vindo, por um instante, à vida de um completo desconhecido. Seu papel é o de um confidente involuntário. E creia, não se experimenta o real constrangimento até o dia de ouvir a primeira briga ao celular. Um boi faz falta é nessas ocasiões, com o perdão da liberdade tomada ao dito popular. Os mais maldosos não seguram as risadas.
Álbum pitoresco, não? Teríamos mais cenas assim fascinantes, a seu modo, se prosseguíssemos. Nunca o criador do telefone celular deve haver imaginado que seu invento seria utilizado como um modo de expressão tão contundente.

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