sábado, 31 de outubro de 2009

20 de outubro

Madrugada. Um pássaro canta incessantemente para uma máquina descontrolada que pia sem cessar, toda a vida. Ela jamais lhe responderá a corte. Mas passarinhos não dormem à noite? Pois é.
De manhã, o caos de motores e buzinas encobre o ruído da máquina, que por fim se revela tão discreto. Já os pássaros estão muito longe. Gostaria de poder ouvi-los por aqui em seu horário correto, e não durante madrugadas insones. Seu suave canto indicaria a presença inequívoca do que é natural neste mundo. E mostraria que não nos tornamos loucos.

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verde vergonha

De todos os mimos para endinheirados, bosques privativos são especialmente acintosos. Privatizam-se os últimos redutos verdes da cidade, enquanto na periferia grilada, invadida e desmerecida ocupa-se até o último grão de terra disponível. O sem-teto desesperançado não vai se importar com árvores, rios e córregos, lixo.

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Já que hoje tudo se vende, que tal pôr no mercado cordialidade com pagamento facilitado? Tolerância em dez vezes no cartão de crédito? Qualidade de vida com IPI reduzido?

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