O Movimento Passe Livre organizou um protesto contra o
aumento da passagem de ônibus aqui em São Paulo. Até onde consegui acompanhar,
os manifestantes tinham fechado a 9 de Julho queimando três montes de lixo que obstruíam
todas as pistas da avenida no sentido bairro (nossa, estou parecendo o boletim
do trânsito). Os ônibus não conseguiam sair do Terminal Bandeira, onde marcavam
presença alguns jovens que também protestavam, chamando o povo a participar, “vir
contra o aumento”. Avenida fechada, a marcha começou, batucada, hinos, palavras
de ordem, fogos de artifício. Acompanhando tudo, a polícia. A pé, em viaturas,
em helicópteros. Fazendo pouco, olhando sério, dedo em riste. Parada, andando
rápido, sem pressa...em formação. De guerra?Vendo tudo, de onde estivesse,
inclusive do alto, jogando luzes contra os prédios. Tentando impor o medo.
Fazendo o que polícia serve para fazer.
Saí do terminal, passei pela estação de metrô fechada.
Andei. Andei por meia hora, consegui pegar o último ônibus que passou pelo
ponto antes da marcha chegar, uma faixa “por um mundo sem catracas” trazida
pelos que vinham à frente. Dois carros da polícia tinham acabado de fazer
manobras assustadoras e encostado ali perto. Estávamos a poucos metros do túnel
sob a avenida Paulista. Corri para pegar o ônibus, o motorista se afastou do
local a toda velocidade. Daí não sei mais. Dentro do coletivo alguém falou em
bombas de efeito moral atiradas pela polícia. Bem, polícia.
Os dias têm sido muito cansativos, só queria chegar logo em
minha casa. Não pude. Mas digo com toda a calma e convicção de quem andou e
pensou a respeito disso tudo: é bonito demais ver as pessoas na rua, andando
juntas, para se fazer ouvir, para protestar contra uma situação que nos atinge
a todos. Porque todo mundo quer chegar logo em casa. Inclusive quem está de
ônibus. Então o protesto nos diz respeito a todos, sim. Então quem gritou e
marchou – e certamente apanhou depois, certo, polícia? – contra o aumento só
aparentemente está prejudicando o trabalhador que não tem nada a ver com a
história. Porque, raios é sobre o trabalhador essa história, É ele quem pagará
R$ 3,20 a cada viagem em ônibus lotados, mal conservados – por quantos coletivos
quebrados passamos ao atravessar a cidade em um deles, esperando que o nosso
não seja o próximo? E eu nem falei das ruas congestionadas. E eu nem falei que
até nos corredores de ônibus tem congestionamento. O protesto é ruim?
Atrapalha? E a vida, está boa?
Ver o povo marchar é bonito, faz pensar que as coisas
poderiam ser diferentes. Imaginem todos indo para a rua, todos por um, o um que
é todos. Porque a resposta para a pergunta lá de cima...nós não gostamos dela.
E queremos lutar para mudar isso. Juntos. O que você vai fazer, Estado? Cadê
sua polícia agora? Será que ela pode contra nós todos?...Mas é uma impressão
que dura pouco. Porque não vai ser diferente. A gente tem essa dificuldade de
entender as motivações do outro. Mesmo quando o que o outro faz é pensando...na
gente. A gente pensa na gente, mas é outra gente. É a gente mesmo! A gente
pensa em chegar logo em casa para descansar para amanhã para trabalhar e assim
manter o emprego e assim ter dinheiro para comprar a roupa daquela marca que
todo mundo está usando ou trocar de novo o celular por um mais “top”, com
aquele aplicativo que é muito da hora. E esses baderneiros que apanhem mesmo.
Fechando ruas. Atrapalhando a vida de todo mundo. Atentando contra o sagrado
direito de ir e vir. Porque eu sou livre...trabalho e compro as coisas que eu
quero. Esse trânsito e esse ônibus lotado? Ah, faz parte. O mundo não tem
catracas...se liga...